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jueves, 23 de agosto de 2012

confissão de um eu modernista

SÁ-CARNEIRO, Mário de (2006),  A Confissão de Lúcio, Narrativa, Editorial Nova Ática, Lisboa, 162 pp.
 Coemaçando com um prólogo-confissão de Lúcio, que passou dez anos na prisão por causa de um crime que não cometeu, esta novela é uma das obras mais significativas do Modernismo português. Partindo de elementos frequentes no género policial, o crime passional e o triángulo amoroso, esta narrativa coloca perante o leitor algumas das preocupações mais importantes da época: a verosemelhança, a realidade, a individualidade, a alteridade, a aluciinação, as inquietações do íntimo humano. Os fios condutores desta obra são os temas preferidos de Mário de Sá-Carneiro, a sexualidade ambigua e profundamente sentida (nas relações entre Lúcio e Marta) e a reprimida, mas sentida com a mesma intensidade (nos beijos entre Lúcio e o seu amigo Ricardo), a duplicação do eu, a existência do Outro, a loucura como escape da vida real ou como uma alternativa para ela, o uso das cores, dos cheiros, das sensações, a morte como homicídio ou suicídio , o interesse pelo real e o imaginário, pela sensualidade e o desejo.
Além da brilhante forma de construir as personagens, mergulhando no profundo de todas as suas perturbações e inquietações íntimas, um dos pontos mais fortes deste livro são o estilo e a linguagem, que compõem imagens inesquecíveis e bastante originais.  
Sem nunca cair no cliché, nem do ponto de vista da intriga, nem do desenlace final, esta obra está dividida em duas partes completamente diferentes, o que apenas sublinha a importância da duplicidade e da alteridade no universo modernista. O erotismo nunca é vulgar nem exagerado, mesmo quando se trata das alusões e representações homossexuais, a morte nunca é patética e previsível, o que apenas mostra como é possível abordar os temas muito usados na literatura de uma forma única e inovadora.
Esta obra não pretende pôr perante o leitor dilemas morais e não tem a intenção didáctica de corrigir e ensinar, aquilo que parece ser uma das suas funções principais é apresentar uma estética completamente nova e um mundo de ideias artísticas criativas indo para além do imediato e do mais próximo e estimulando a imaginação, a fantasia e o irracional nas pessoas que a lêem.

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