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miércoles, 29 de agosto de 2012

o exótico, o fantástico e o insólito na viagem pelos mares do Sul

POE, Edgar Allan (2007) A Narrativa de A. Gordon Pym,  Publicações Europa-América, Diário de Notícias, Lisboa, 141 pp.
Publicada pela primeira vez em 1837 com o seu título completo The Narrative of Arthur Gordon Pym of Nantucket, esta obra representa o primeiro romance, qualificado por alguns críticos também de novela, do célebre escritor americano Edgar Allan Poe.
Este autor, mais conhecido no mundo pela sua tendência de escrever contos curtos, com esta narrativa não deixa de surpreender os leitores, despertando neles o gosto pelo insólito, pelo terror, pelo estranho e pelo exótico
Difícil de ser classificada num só género literário, porque contém elementos de conto, romance, diário de bordo, texto de carácter científico (o que se manifesta na introdução das figuras e desenhos), esta obra também contém alguns dos paratextos literários, tais como o prefácio e a nota final, fazendo a mistura de registos e estilos não apenas possível, mas desejável e inevitável.
Narrando uma série de aventuras de Arthur Gordon Pym e dos seus companheiros de viagens pelos mares do Sul (naufrágios, encontros com nativos das longínquas ilhas, os costumes estranhos como o canibalismo), Edgar Allan Poe leva os leitores aos mundos em que se combinam o real e o imaginário.
Para esta narrativa alguns acontecimentos reais serviram-lhe de inspiração, juntamente com a sua própria experiência de viajante marítimo, sendo por sua vez este livro uma grande fonbte de inspiração para Júlio Vernes e Herman Melville. 
Além do gosto pelas aventuras empolgantres, o insólito e o arrepiante, o que se revela nesta narrativa são o brilhante estilo e a linguagem bem escolhida, o que mais uma vez confirma o génio literário deste autor.
Na altura da sua publicação esta obra dividiu a crítica em dois extremos, uma vez que entre os críticos havia os que menosprezavam a qualidade literária do romance e outros que elogiavam demasiado a sua capacidade de descrever situações no limite entre o fantástico e aquilo que pertence ao domínio do real e compreensível.
Na nota final menciona-se que os últimos dois ou três capítulos da narrativa que ainda faltava rever ficaram destruídos no acidente em que morreu Arthur Gordon Pym. com esta estratégia, por ventura o autor pretende desculpar-se de algumas possíveis falhas que terá cometido ao desenvolver a trama a nível de um romance, como também dá mais um toque de mistério e de imaginação ao seu livro, deixando os leitores na expectativa e ao mesmo tempo confortados com uma explicação razoável para um final súbito.
Mais do que uma leitura recomendável para férias, esta é uma obra que vale a pena ler pela forma de construir a história e as personagens, pelo modo de abordar as quest\oes do desconhecido e do inusitado, sem cair no cliché e sem ser demasiado pretenciosa.

domingo, 26 de agosto de 2012

o amor, a diferença e os preconceitos em "O Gato malhado e a Andorinha Sinhá Uma História de Amor"

AMADO, Jorge (1976) O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá Uma História de Amor,  Editora Récord, Salvador, 59 pp.
Escrita em 1948 como prenda de aniversário do seu filho João Jorge, e publicada quase trinta anos depois, esta obra é uma verdadeira pérola da literatura infanto-juvenil, porque atrai o leitor não apenas com as suas belíssimas ilustrações, mas com a clareza do seu estilo e com a linguegem próxima do povo baiano, com a sua história original e com os temas sérios que toca. Nesta narração, que tem elementos do conto, da fábula e do romance para crianças, o assunto principal é de facto o amor, nas suas diversas variantes (desde a relação convencional do casal de patos, monógamos por força", a relaç\ao aparentemente harmoniosa e sem grandes perturbações dos pais da Andorinha, da poligamiaabundante em ostentação do poder entre o Galo Don juan de Rhode island e as suas numerosas galinhas, sendo a Carijó a sua predilecta, o casamento dos pombos "monógamos por convicção" (embora a sua monogamia seja seriamente posta em causa pelos habitantes do parque quando nasce um ser estranho que fala a língua dos homens e que é chamado de Pombogaio), as numerosas aventuras do Reverendo Papagaio, a triste ilusão da Goiabeira pelo Gato e a profunda e sincera paixão entre o Gato malhado e a Andorinha Sinhá. 
Este romance infanto-juvenil toca também nos assuntos mais sérios como a política (destacada na afirmação de que o mundo necessita de uma "revoluçãozinha" para mudar e ser melhor, tal como no poema da autoria de Estêvão de Escuna que inspirou Jorge Amado, e que apregoa a ideia de que o mundo "só vai prestar para nele se viver" quando um Gato Maltês e uma andorinha chegarem a casar e voar juntos), a tolerância, a aceitação de si próprio com os seus defeitos e virtudes (ilustrada na tentativa fracassada da Goiabeira de seduzir o Gato tornando-se mais bela para ele), o dever de aceitar o Outro e a diferença, o preconceito e os julgamentos precipitados sobre os outros pelas aparências e não pelo que a pessoa tem no fundo.
Nesta obra há também elementos de crítica social, de denúncia das injustiças e convenções estabelecidas, reflexão sobre as leis da natureza e a ordem conhecida das coisas, denúncia da hipocrisia e falsidade, a condena da bisbilhotice e da mentalidade fechada do meio pequeno, há uma crítica irónica das instituições (o casamento e a família por um lado e a Academia e a Igreja por outro).
Além de todas estas questões que levanta O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá pretende desenvolver no leitor o espírito crítico e bom gosto pela leitura, ensina-o a distinguir algumas bases de narratologia e estrutura de uma obra literária, debruça-se sobre a originalidade e o plágio, introduz elementos de versificação (no caso do soneto que o Gato escreve à Andorinha).
O livro fala discretamente sobre a sexualidade, o crescimento e desenvolvimento pessoal, sobre a confiança e lealdade, baseadas no conhecimento mútuo dos que se amam, da posição do indivíduo dentro da comunidade, dos temores, medos e obstáculos que se interpõem na realização feliz de um relacionamento amoroso.
Usando propositadamente alguns dos estereótipos e lugares comuns  na literatura (o percurso e as fases do romance e da paixão dos protagonistas comparada com cada uma das estações do ano, a estrutura parecida com a de um conto de fadas tradicional, o final infeliz de uma história de amor, selado com uma lágrima e uma pétala de rosa da cor do sangue), jorge Amado subverte-os e inverte-os dando um toque original à sua narração.
Esta alegoria da sociedade humana e dos comportamentos dos seus membros, encarnada nas personagens dos animais do parque é uma obra que não se dedica exclusivamente ao público infantil e juvenil, fazendo com que cada leitor reflicta sobre o seu conteúdo mais do que uma vez, porque oferece vários níveis de leitura e de interpretação.

sábado, 25 de agosto de 2012

los Eurekas que mueven el mundo

ASSIMOV, Isaac (1980) Momentos Estelares de la Ciencia,  Alianza Editorial, Madrid, 170 pp.
Si alguna vez se preguntaron qué hubiera sido del mundo si Arquímedes no hubiera salido de la bañera llena de agua de aquella forma eufórica o como seria hoy  la ciencia sin la manzana que cayó del árbol en el momento en que Isaac Newton la vio  qué sería de la civilización moderna sin un paseo dominical de James Watt, en este libro encontrarán historias breves e interesantes sobre algunos de los episodios de las vidas de los célebres científicos del mundo, que cambieron no solamente su percurso personal y profesional, sino también el curso del mundo de los conocimientos y saberes. Desde arquímedes  a Copérnico, de Galileo a Roentgen, de los geniales Piere y Marie Curie, de James Watt a Michael Faraday e Lavoisier, están aquí representados numerosos grandes vultos de las ciencias, teniendo cada uno su indudable mérito para la humanidad.
Haciendo justicia a george Washington Craver, antiguo esclavo negro, que dio resultados memorables en el campo de la agricultura, el autor es ciertamente injusto con muchos otros grandes nombres, aquí no mencionados desde Giordano Bruno, ejemplo de valor y firmeza de sus convicciones, hasta el serbio Nikola tesla, sin quien el domínio de la electricidad sin duda sería mucho más pobre, y para quien está comprobado que algunos de los inventos que hoy se atribuyen a Thomas Alva Edison, son de hecho de su autoría, En el capítulo en que dirige innúmeros elogios a Albert Einstein y a su labor científica, Asimov no menciona con una sola palabra el matrimonio del científico con su colega, brillante investigadora Mileva Maric, su colaboradora, para quien se sabe que también era autora de algunos de sus proyectos. se sabe también que Einstein había enviado el dinero del Premio Nobel, consintiendo tácitamente que todo es relativo, uncluyendo su propio genio y mérito en el área de la física.
Con un lenguaje simple y claro Isaac Asimov muestra que no es necesario tenerse un grado elevado de conocimientos específicos relacionados con la ciencia para entenderse un poco cada una de las ideas geniales a las que llegaron sus autores. Acercando a los vultos de los científicos al lector, el autor consigue despertar el interés del público por las áreas que no le son muy familiares y consigue incentivar el respeto por ellos como personas y por su trabajo.
El brillante estilo y la belleza de las formas e imágenes usadas para presentar a cada uno de los participantes en este libro, se reconcilian de cierta forma las ciencias y las letras, demo0nstrando una vez más que ninguna de las áreas se puede y debe observar y estudiar aisladamente y que cada una tiene sus "momentos estelares".

viernes, 24 de agosto de 2012

la psicologia junghiana nel mondo classico

FRANZ, Marie-Louise von (1997) L' Asino d' Oro, Bollati Boringhieri, torino, 183 pp.
Inspirato nella celebre opera Le Metamorfosi o L' asino d' Oro di Lucio Apuleio (II secolo dopo Cristo), l' unico romanzo che si è conservato completamente fino ad oggi, questo saggio rappresenta un' interpretazione scientifica dei fenomeni studiati da Marie-Louise von Franz. Dopo aversi concentrato nei significati nascosti delle fiabe, le mitologie i sonhi, le scritture degli alchimisti, questa studiosa e collaboratrice di Carl Gustav Jung ha deciso osservare un' opera classsica, spiegando con tutta la naturalità i sibmoli e le formule mitologice nel libro al quale questo lavoro deve il suo titolo,\
Cercando e spiegando con la chiarezza del linguaggio quotidiano e con il rigore della scienza le possibilità interpretative dei personaggi, delle loro azioni e riflrssioni, uqesta ricercatrice si avvicina delle profondezze dell' opera letteraria che analisa usando il metodo e la terminologia junghiana. 
Di questo modo afferma l' esistenza sel Sé, dell' Ombra, della Persona  ed altri concetti del suo grande modelo e professore negli undici capitoli dell' asino d' Oro di Apuleio. Spiega anche l' importanza della completezza divina incarnata nella simbologia del numero quattro nei diversi dei romani. Attroversando le culture e le loro credenze, magie e religioni, rivela come certe divintà molto antiche si hanno transformato ed incorporato nel panteone romano e greco. 
La parte più interessante del saggio di Marie-Louise von Franz è senza dubbi la che spiega il mito dell' Amore e Psiche, occupando, come nel libro latino originale il grande numero di pagine ed avendo una straordinaria importanza nello sviluppo della storia.
Facendo comparazioni col Cristianesimo e le altre tradizioni (l' ebraica, l' egizia), l' autrice fa vedere che tutto nel mondo si può interpretare cercando i punti comuni e le similitudini. Qui si mescolano e studiano le strutture conscienti e le inconscie, le credenze locali e le universali,  quello sublime e quello bestiale, affermandosi più di una volta che il mondo antico è sempre attuale e molto ricco in materiali per l' interpretazione alla luce della psicologia e psicanalisi junghiana.

jueves, 23 de agosto de 2012

confissão de um eu modernista

SÁ-CARNEIRO, Mário de (2006),  A Confissão de Lúcio, Narrativa, Editorial Nova Ática, Lisboa, 162 pp.
 Coemaçando com um prólogo-confissão de Lúcio, que passou dez anos na prisão por causa de um crime que não cometeu, esta novela é uma das obras mais significativas do Modernismo português. Partindo de elementos frequentes no género policial, o crime passional e o triángulo amoroso, esta narrativa coloca perante o leitor algumas das preocupações mais importantes da época: a verosemelhança, a realidade, a individualidade, a alteridade, a aluciinação, as inquietações do íntimo humano. Os fios condutores desta obra são os temas preferidos de Mário de Sá-Carneiro, a sexualidade ambigua e profundamente sentida (nas relações entre Lúcio e Marta) e a reprimida, mas sentida com a mesma intensidade (nos beijos entre Lúcio e o seu amigo Ricardo), a duplicação do eu, a existência do Outro, a loucura como escape da vida real ou como uma alternativa para ela, o uso das cores, dos cheiros, das sensações, a morte como homicídio ou suicídio , o interesse pelo real e o imaginário, pela sensualidade e o desejo.
Além da brilhante forma de construir as personagens, mergulhando no profundo de todas as suas perturbações e inquietações íntimas, um dos pontos mais fortes deste livro são o estilo e a linguagem, que compõem imagens inesquecíveis e bastante originais.  
Sem nunca cair no cliché, nem do ponto de vista da intriga, nem do desenlace final, esta obra está dividida em duas partes completamente diferentes, o que apenas sublinha a importância da duplicidade e da alteridade no universo modernista. O erotismo nunca é vulgar nem exagerado, mesmo quando se trata das alusões e representações homossexuais, a morte nunca é patética e previsível, o que apenas mostra como é possível abordar os temas muito usados na literatura de uma forma única e inovadora.
Esta obra não pretende pôr perante o leitor dilemas morais e não tem a intenção didáctica de corrigir e ensinar, aquilo que parece ser uma das suas funções principais é apresentar uma estética completamente nova e um mundo de ideias artísticas criativas indo para além do imediato e do mais próximo e estimulando a imaginação, a fantasia e o irracional nas pessoas que a lêem.

miércoles, 22 de agosto de 2012

o castelo sinistro

WALPOLE, Horace (1998) El Castillo de Otranto, Unidad Editorial, Madrid, 110 pp.
Escrito em 1765,  El Castilho de Otranto de horace Walpole é o que hoje em dia a teoria literária designa de "novela gótica": una narración cuya acción se desarrolla en un ambiente medieval: un monasterio antiguo, las murallas de un castillo o un escenario que calramente recuerda la Edad Media.  Uno de los elementos obligatorios en este subgénero de la novela es la tragedia de una familia, que tiene que cumplirse como la realización de una maldición o profecía sinistra, 
situada en la Italia medieval, la acción de esta obra envuelve la figura dominante del tirano sin escrúpulos, Manfredo, un príncipe usurpador que por su ambición del poder y por el miedo a que su estirpe se extinga pretende casar a su hijo Conrado, joven enfermizo y frágil con la hermosa princesa Isabella, pero su intención no se concretiza porque sin una razón explicable, su hijo es matado por un yelmo de tamaño extraordinario. Su tiranía y falta de respeto por todos y por todo va aumentando a lo largo de la obra, hasta convertirlo en asesino de su propia hija, la bella y virtuosa princesa Matilda en un lugar sagrado.
Mientras que en la novela se mezclan lo real y lo fantástico (los espectros misteriosos, los sonidos extraños en el castillo, la religiosidad que roza los límites de la superstición), se nota también una fuerte presencia de elementos de lo que posteriormente se calificaría de imaginario romántico: los ambientes nocturnos y sombríos, las ruinas, las premoniciones, la luz de luna, el miedo de la maldición.
La obra elabora muchas cuestiones importantes que serán desarrolladas en su plenitud apenas en la época romántica tales como: el libre albedrío frente a la predestinación, la culpa y el perdón, el poder de los asesinos a perdonar, la redención, el amor como consecuencia de los propios sentimientos de los protagonistas o como una decisión combinada de los padres.  Lo que hay que destacar en este libro es también la educación femenina en la ciega obediencia a los padres y maridos, o la creación de un nuevo modelo de la mujer que escoge su propio camino.
No hay que olvidar que se trata de una obra escrita en el siglo XVIII en que el carácter didáctico y pedagógico todavía están muy presentes, lo que se ve en las actitudes de Manfredo, ya arrependido y retirado a la vida sosegada del monacato, en las opiniones y consejos de su esposa Hippolita y en el comportamiento ejemplar de Isabella y Matilda.
Entre todos los personajes el mejor construido es sin duda alguna el príncipe Manfredo, que inicialmente se rige por su vanidad y ambición, por su crueldad y terror, pero que en el final se redime a través de la humildad y sincero arrepentimiento, mientras que los caracteres femininos se reducen al lugar común, al tópico medieval de doncellas bellas y virtuosas, submisas y frágiles,
Tanto en el lenguaje como en la descripción de los ambientes hay muchos estereotipos, pero hay que destacar que esta obra abrió un nuevo camino a la literatura posterior, siendo claramente un antecedente del Romanticismo europeo.

martes, 21 de agosto de 2012

fortaleza y fuerza del hombre contemporáneo

BUZZATI, Dino (2009) El Desierto de los Tártaros, Alianza Editorial, Madrid, 254 pp.
En muchas obras literarias del siglo XX la fortaleza ha sido la metáfora por excelencia de la soledad y del aislamiento del hombre contemporaneo. Cuando a esta imagen se junta la rigidez de las reglas militares y la dureza de la vida cotidiana en una fortaleza casi olvidada y que nadie lleva en serio, se obtiene una gran novela, la obra más célebre del autor italiano Dino Buzzati. 
En el Desierto de los Tártaros, a través de la trayectoria de la vida de Giovanni Drogo, que fue destinado a la fortaleza de Bastioni para pasar apenas cuatro meses y acaba por permanecer allí por el resto de su vida se entrelazan los temas de la soledad, de la rutina, de la incomunicación de sus verdaderos deseos y temores, ni siquiera a la propia madre, la inadaptación (tanto la inicial a la vida del cuartel, a la privación de la libertad y de todo lo que antes le había gustado, como la posterior, cuando el protagonista regresa a su casa), la opción entre la monotonía que al mismo tiempo significa tranquilidad y seguridad y los sueños, las ambiciones, la libertad. Se coloca también la cuestión sobre la medida en que el propio hombre es responsable por sus escojas y fracasos.
Giovanni a lo largo de la novela se busca a si mismo, busca su lugar y su felicidad, pero no consigue encontrarlos porque prefiere o se le impone un camino duro, lleno de angustia e incoprensión, que lo acompañará durante toda su vida.  Cuando después de cuatro años de servicio regresa a su ciudad nmatal, encuentra su cuarto en las mismas condiciones en que lo había dejado, pero nota cambios importantes en todas las personas que habían formado parte de su infancia y su juventud: sus hermanos se habían marchado de casa, su madre rezaba en la iglesia, sus amigos se casaron o siguieron las propias carreras, la joven de quien estaba enamorado de repente se vio muy fútil y distante y él se halla envuelto en su soledad, sus pensamientos y su mundo interior impenetrable como las murallas de la fortaleza militar.
Cuando está de nuevo entre los militares se siente viejo, superado, innecesario, y cuando finalmente comienza la guerra, él no tiene la oportunidad de disfrutarla como un soldado valiente, viéndose enfermo, decrépito y abandonado a su suerte, obligado a pasar sus últimos días en una posada desconocida, lejos de todos y de todo.  Aún así, sonríe a las estrellas en su última noche, acreditando que  dios va a perdonar las culpas de su conciencia no demasiado sobrecargada.
El punto más fuerte de la novela es justamente la descripción de los sentimientos del protagonista frente a la dureza e insensibilidad del mundo exterior, siendo el desierto, la lalnura y la fortaleza las mejores representaciones de la realidad contemporánea en que parecen haberse perdido la sensación de la importancia de los lazos humanos. Cuestionando las fronteras entre la fuerza y la fragilidad, el orgullo y la ambición por un lado y la humildad y la resignación por otro, esta novela revela lo imprescindible que es luchar, aceptarse a sí mismo y aceptar el mundo, avisa lo peligroso que puede ser el conformismo y lo difícil que es hacer las opciones correctas en la vida.

lunes, 20 de agosto de 2012

jade, coyote, águilas y palabras

 PINTO, Margarida (adaptación)Poesía Prehispánica (2007), TRILHAS, Ciudad de México,127 pp.
Desde a temática religiosa con la expresión lírica de un profundo agradecimiento al Dador de la vida, a las reflexiones sobre la belleza de la naturaleza encarnada en la imagen de la miel y de las flores, a la transitoriedad de los bienes terrenales y la muerte, hasta el amor , son apenas algunos pequeños reflexos de las ricas civilizaciones prehispánicas que existían en el actual território de México: la maya y lanáhuatl. A través de estes poemas, a veces rimados y otras en verso libre se pretende transmitir la sabiduría de los antiguos pueblos, su mundividencia,  mitología, cosmogonía, religión, las ideas sobre el individuo y su lugar en la comunidad.
La colección de poemas contiene nueve autores: Cacamatzin de Texoco,  Netzahualcóyotl (cuyo nombre significa León y Coyote),  Tlaltecatin de Cuauchinanco,  Fernando de alva Ixlilxóchitl, (convertido al cristianismo y aliado de Hernán Cortés), Macuilcochitzin, la única poetisa y gran erudita del México precolombino, Aquiauhtzin de Ayapanco, Xicoténactl el Viejo, Acoyucan Cuetzpaltzin, Nezalhualpilli y Axayácatl, y cada uno aportó un poco de su destreza y arte al tejido multicolor de las culturas mexicanas anteriores a la llegada de los conquistadores siendo algunos de los versos más marcantes los siguientes: "La amistad es una lluvia de flores preciosas", "quien ha muerto, se ha vuelto un dios", "libro de pinturas es tu corazón" y muchos otros.
Aunque sea una edición escolar, se trata de una obra con todo el aparato crítico necesario para un estudio serio y complejo de la poesía prehispánica, desde la presentación, a las preguntas que acompañan la lectura y que pretenden activar al lector y envolverlo más en los poemas, al contexto histórico y cultural, el comentario crítico y la tabela cronológica (que el lector tiene que completar, encontrando solo los datos que le faltan, y una breve bibliografía. La  fuente inevitable en la lista de rreferencias bibliográficas que se recomiendan es la Historia General de las Cosas de la Nueva España  de Bernardo sahagún, lo que vuelve esta antología una base digna y sólida para la investigación futura de las civilizaciones náhuatl y maya.
Acompañada de bellísimas ilustraciones en blanco y negro, esta selección de poemas es mucho más que disfrutar de la lectura: es una forma de compartir los conocimientos, es un libro que se guarda u ofrece a los otros con todo el placer de quien quiere aprender un poco sobre este mundo cuya cultura es siempre nueva y que hay que descubrir gradualmente para aumentar la sensación del goce y del entusiasmo.

domingo, 19 de agosto de 2012

o perigo da leitura feminina

BOLLMAN, Stefan (2005), Mulheres que Lêem são Perigosas, Quetzal Editora, lisboa, 148 pp.
"Pois, o amor vive precisamente de palavras, passa a ser escrito com maiúscula, o Amor, o Medo, a Idade, a Morte na teia da linguagem e contamos aquilo que necessitamos, e é de bom grado que que nela nos deixamos enredar", são as palavras com as que Elke Heidenreich no prefácio a esta obra, tentando justificar a necessidade e o direito das mulheres de escreverem e lerem, depraticarem precisamente as actividades pelas que são consideradas perigosas no mundo dominado pelo poder masculino.
Diferentemente do livro deste mesmo autor que promove a escrita feminina, este não apresennta ao leitor as mulheres como seres humanos reais, mas como representações artísticas na pintura e na fotografia ao longo dos séculos. Nos quadros e imagens reunem-se todos os preconceitos sobre a condição da mulher na história (desde a fraqueza da sua razão, a corrupção do seu comportamento virtuoso pela leitura, o desenvolvimento das fantasias sexuais e amorosas), como também todos os reflexos da postura , da curiosidade intelectual, da fé, da seriedade e do "perigo " que se esconde em pensar e questionar o mundo que rodeia a população feminina.
A razão principal pela quel a leitura feita por mulheres assusta os homens que as julgam e desprezam, segundo o autor é: " Quem lê, fica a reflectir, quem reflecte, forma uma opinião, quem tem uma opinião, pode dissidir, quem se torna dissidente, passa a ser inimigo. É  tão simples como isso" (p.13). Esta afirmação explica  a tendência histórica e cultural em muitas sociedades de entender-se a educação feminina como um obstáculo sério para a sua obediência e dependência do homem, e para os seus papéis de noiva, esposa, mãe ou dona de casa. Como livros particularmente perigosos para a psique, a imaginação e o mundo emocional das mulheres, sempre foram consideradas as obras de temática amorosa ou erótica e por isso não é de estranhar que muitos dos pintores tenham imaginado a mulher leitora como nua ou semi-despida,  Em defesa do direito das mulheres de se interessarem pela temática amorosa das suas leituras, Elke Heidenreich  sublinha que "o amor- admito-o com um suspiro- é muito, muito mais forte que a literatura, porém, o amor na literatura é bem mais belo do que na própria vida. Ao menos de vez em quando permite iludir-nos" (p.14). 
Enquanto para as mulheres os sentimentos e a leitura são inseparáveis, inspirando-lhes respeito e amor pelos homens que se dedicam a esta actividade, a leitura feminina é sempre vista com um determinado receio (como se tudo o que lessem se resumisse a cartas dos pretendentes secretos ou a livros imorais).
Stefan Bollman, porém, neste livro apresenta uma visão mais ampla da leitura feita por mulheres, quer que se trate de um acto íntimo e isolado, ou de momentos de prazer partilhado em grupo. De acordo com os títulos de cada capítulo, as mulheres podem ser leitoras abençoadas, tratando-se de religiosas, santas ou aquelas que se dedicam a ler com atenção a Bíblia,  aquelas que passam horas de deleite a ler, as que estão à procura de si próprias, afirmando a sua identidade intelectual.
Entre os pintores que captaram os momentos e emoções das mulheres com os livros nas mãos encontram-se nomes como Miguel Ângelo, Rembrandt, François Boncher,  Henri Matisse, edward Hoper e das fotografias destaca-se a célebre marylin a ler Ulisses de Eve Arnold.
Independentemente de a intenção dos artistas que representaram as mulheres nas suas obras ser a de condená-las ou a de sublinhar o desejo da afirmação feminina no campo da leitura, todas as pinturas e fotografias que se vêem nesta colectânea são verdadeiras joias estéticas e o livro em si, com a grande capacidade analítica e a atenção que dedica aos pormenores, não é apenas um objecto obrigatório na biblioteca de qualquer amante da arte como representa uma apologia que o autor faz da luta das mulheres por conquistarem o fascinante mundo da leitura e das letras.

sábado, 18 de agosto de 2012

la crisis del crecimiento en "El Guardián entre el Centeno" de J. D. Salinger

SALINGER, J. D. (2005) El Guardián entre el Centeno,  Alienza Editorial, Madrid, 228 pp.
Provocó muchas polémicas en el año 1951 en que fue publicado, las autoridades escolares en Estados Unidos exigieron su prohibición por promover todo aquello que estropeaba la juventud (el tabaco, el alcohol, las relaciones sexuales antes del matrimonio y el lenguaje coloquial), el libro de J. D. Salinger El Guardián entre el Centeno es una novela sobre el crecimiento y el descubrimiento de la vida a través de experiencias propias, no siempre muy deseables y socialmente aprobadas (la expulsión de la escuela por malas notas, la vida nocturna y los encuentros con prostitutas, el hecho de no hablar durante un tiempo con los padres).
El protagonista Holden, que inicialmente parece un típico adolescente del siglo XX (perezoso, rebelde, a quien no le gusta hacer nada serio, a veces mal educado en su forma de hablar), en el fondo no es un malo ejemplo para las generaciones jóvenes, sino un chico que pretende encontrar su camino en la vida y hacer sus propias elecciones, aunque estén equivocadas y juzgadas. Aunque a veces miente, es infantil, hace exactamente aquello que más critica, es un personaje profundo, que tiene sus reflexiones auténticas sobre el mundo y las personas que lo rodean.  Cuando se refiere a las experiencias íntimas, destaca que no se tiene que insistir en el sexo si se desea conocer a una chica, es muy romántico cuando describe la sensación de estar de manos dadas con la chica que le gusta, es interesante su opinión sobre los abogados que se enriquecen defendiendo a personas que no lo merecen en vez de "salvar las verdades". 
Lo más emocionante en toda la novela es su relación con la hermana Phoebe, cuyo personaje está muy bien construido. La niña parece ser la única persona a quien él realmente ama, es alguien que le inspira ternura, es una especie de su "voz de conciencia", la única cosa que le gusta es pasar el tiempo con ella, para ella tiene paciencia, la lleva al zoológico y se preocupa cuando ella no quiere ir a la escuela y cuando le dice que se calle. Siendo él mismo el prototipo de un antihéroe, en su íntimo se revelan algunas características muy positivas y deseables, el amor que tiene por su hermana lo vuelve en un carácter complejo que no debe ser juzgado apenas por sus acciones y palabras. Holdden es un chico que entiende del cine y de la literatura, apenas revoltado contra las injusticias  del sistema y mentiras de la sociedad, que a pesar de todos sus errores quiere volver a hablar con sus padres , asistir a la psicoterapia y volver a tener una vida normal.
el título se debe a una fantasía suya de estar escondido en el centeno y que se encuentra al borde del precipicio, protegiendo a los niños y no permitiendo que caigan. Este deseo es un indicador de que pretende avisar a los niños y adolescentes que el camino que él había escogido es peligroso y muchas veces incierto y quiere prevenirlos de los errores que él había cometido en su vida.
Aunque después de la publicación de esta novela el número de casos de jóvenes que abandonaron la escuela o la universidad haya aumentado mucho, aunque el tabaco, el alcohol y la promiscuidad sexual hayan crecido, no se puede decir que el único factor que conllevó a eso fue este libro.
La narración no sigue un riguroso orden cronológico porque los acontecimientos se interrompen con las reflexiones y observaciones del mundo íntimo del protagonista.
La novela a veces peca en el estilo, porque hay demasiadas repeticiones de la expresión "y todo eso", hay también demasiado lenguaje coloquial, pero es una obra que vale la pena leer, especialmente por los monólogos interiores, los estados psicológicos del personaje principal y por su fuerte y próxima relación con Phoebe. Este libro es un clásico,  tiene su indudable valor estético, pero está lejos de ser considerado el mejor libro de la literatura americana de siempre.


viernes, 17 de agosto de 2012

Florbela resenha do filme de Vicente Alves do Ó

crítica do filme "florbela"...
Título do filme: Florbela

Género: drama

Elenco: Dalila Carmo (Florbela Espanca), Albano Jerónimo (Mário Lage), Ivo Canelas (Apeles), António Fonseca (João Espanca), Carmen Santos (Henriqueta)

Realização e argumento: Vicente Alves do Ó

Produção Ukbar Filmes

Nos cinemas a partir de 8 de Março

Ante-estreia: 28 de Fevereiro de 2012 cinema São Jorge

Recensão por: Anamarija Marinović



O ser artista, é ser mais alto, é ser maior do que os homens (…) e é amar-te assim tão perdidamente

Adaptado e modificado para as necessidades da arte no geral e não apenas para a poesia, o verso de Florbela Espanca parece ser o ideal para caraterizar o novo filme de Vicente Alves do Ó, a sua segunda longa-metragem, que depois dos Quinze Pontos na Alma, continua a preocupar-se com a condição feminina, elogiando as personalidades fortes e complexas de mulheres.

Este filme é mais do que uma biografia da famosa poeta portuguesa, é uma homenagem a ela e a todas as mulheres não conformistas, que procuram o amor, a felicidade e a sua afirmação num mundo abundante em preconceitos e estereótipos. Num Portugal conservador, da época do fim da Primeira República, resistente a todo tipo de novidades, destaca-se uma mulher de calças,  com um cigarro numa mão e um copo de vinho noutra, com três casamentos e duas separações assumidas, que ainda por cima escreve versos numa localidade provinciana em que para a mulher é aceitável apenas ser uma esposa obediente e uma mãe devota, sem quaisquer perseptivas no plano profissional.

Com uma extraordinária qualidade das imagens e do som, com a história construída e desenvolvida de forma original e interessante, com a excelente atuação dos três atores principais e um argumento intrigante e excelente realização, Florbela é um filme capaz de marcar uma nova época na cinematografia portuguesa. Este é um filme que não intriga apenas os conhecedores e estudiosos da vida e obra de Florbela Espanca, narrando com intensidade e um lirismo profundo a complexa e comovedora relação entre a poetisa e o seu irmão Apeles. É uma obra artística que põe a tónica no lado humano da poeta, sem a condenar pelos seus erros, e desmentindo as possíveis especulações sobre a natureza da relação entre ela e o irmão. Trata-se de uma obra de arte que fala sobre a proximidade, o amor, o carinho, a ternura, a procura da felicidade e da realização pessoal, mas também é um filme sobre a perda e a dor, a criação poética e a crise artística. Não sendo um clássico filme com declamações dos poemas de Florbela, esta obra  abre o caminho não apenas para um melhor conhecimento de um período na vida da poeta (os quatro dias anteriores à morte do seu amado irmão Apeles), como representa o convite para o auto-conhecimento de cada um de nós. A reflexão sobre a felicidade (se ela se encontra ao virar da esquina ou há que buscá-la), sobre a dor (“tem que doer, se não doesse, não estaríamos vivos”), a (im)possibilidade de se encontrar o amor da sua vida, a (não) aceitação da morte, e o processo de libertação são os pontos mais fortes deste filme, que nos tocam a todos e que não deixam ninguém indiferente. Sem cair em clichés e na banalidade, o filme sobre a vida da poeta dá uma visão sofisticada e sublime dos complexos e diversos sentimentos femininos e humanos, oferecendo elementos de catarse comparáveis aos das heroínas gregas da Antiguidade clássica.

As personagens estão construídas de forma a não se reduzirem aos típicos heróis dos filmes, profundas, vivas e autênticas, com as virtudes e fragilidades que as tornam ainda mais humanas e verídicas. No desenvolvimento de Florbela e do seu irmão nota-se uma sincera cumplicidade, uma profunda compreensão mútua, mesmo em silêncio como acontece no início do filme, a confiança e o apoio, que devem ser valorizados tanto no caso destas duas personalidades, como no caso de quaisquer outros irmãos.

Indiretamente o filme condena o medo de pensar dos Portugueses do tempo ditadura

da Primeira República, como o medo geral de exprimir os próprios pensamentos e sentimentos.

Este filme é belo, emocionante, multifacetado e com certeza absoluta vale a pena ser visto.

jueves, 16 de agosto de 2012

mulheres não iluminadas


GODINEAU,  Dominique “A mulher” Michel VOVELLE (org.) O Homem do Iluminismo, Renascença, Lisboa, 1997, pp 311-334 recensão crítica por Anamarija Marinović

O capítulo dedicado à mulher na obra o Homem no Iluminismo, coordenada por Michel Vovelle, parte de uma ideia estereotipada que o Iluminismo trouxe mais direitos e uma posição melhor na sociedade para  a parte femiina da população e cita exemplos de numerosas damas nobres que reuníam intelectuais nas tertúlias nos seus salões. Porém, esta imagem é desmontada parcialmente: por um lado é certo que a mulher ocupa a atenção de muitos estudiosos, tornando-se objecto de interesse, por outro o seu estatuto e direitos profissionais e civis ainda em grande medida são determinados pelo homem.
            Os temas e problemas que preocupam os ilustrados na França são a existência de uma natureza especificamente feminina, que depende das suas funções do seu corpo. Desta forma Diderot denomina a mulher como “fêmea do homem”. Esta ideia da inferioridade do sexo feminino é uma continuação do pensamento fundamentado nos séculois anteriores e usa-se a palavra “sexo”, porque na altura não se empregava o termo “género” é inigualável à uma ética do universal. Se, segundo Poullain, “a mente não tem sexo” pregoa-se a ideia de que as mulheres precisam de educação, uma vez que por falta da sua instrução, surgem todas as dificuldades com as que ela tem que lidar.
Outro tópico dominante no estudo das mulheres é a existência da razão feminina, que, na opinião dos enciclopedistas, está subordinada ao seu útero, o que lhe atribui as seguintes características: uma estrema sensibilidade, uma grande capacidade de imaginação, capacidade de observar, enquanto o homem tem a faculdade de raciocinar. O papel que os cientistas desta época lhe destinam é o da mãe e boa esposa, que deve fazer todo o esforço possível para tornar a sua casa um lugar agradável, para dar uma educação correcta aos filhos, deve saber conversar, para ser digna companheira  de um homem iluminado. Por estes motivos é-lhe permitido saber ler, escrever, fazer contas e ter conhecimentos mínimos de história e geografia.  No Iluminismo português parece-nos interessante o caso de Luís António Verney que fala na necessidade da educação feminina, embora aenas no que se refere à esfera doméstica.
Um dos momentos importantes na vida de toda mulher, sem dúvida continua a ser o casamento, que é questionado pelos iluministas de várias formas. Ainda que alguns filósofos o reduzam apenas ao aspecto sexual durante toda a vida,  os iluministas franceses fazem diferença entre as classes mais altas, em que os casamentos são por regra combinados pelos pais de forma a possibilitar a prosperidade económica do casal enquanto os casamentos nas classes populares são vistos como uniões regidas pelos sentimentos mútuos. É polemizada a indissolubilidade do casaemnto, e a escolha pessoal do parceiro, em vez da imposição do par ideal feita pelos pais. Desta forma, na literatura espanhola do século XVIII salientamos a obra  El Sí de las Niñas, em que o autor Leandro Fernández de Moratín permite à jovem protagonita recusar o su pretendente muito mais velho do que ela, escolhido pela sua mãe apenas pela sua riqueza mterial.  A menina na obra não apenas tem o direito de expressar a sua opinião, como também tem e mostra o afecto pessoal por um jovem da sua idade, com o qual acaba por se casar no fim. Claro está que na realidade objectiva nem sempre era fácil conseguir-se uma união duradoura baseada no amor.
O trabalho feminino é uma das questões que o Iluminismo salienta; sendo ele necessário e obrigatório nos estratos sociais mais baixos, para a família numerosa poder sobreviver. Como profissões aceites destacavam-se a lavandeira, a vendedora, a criada, a costureira etc. Numa sociedade que põe a tónica na educação e escolarização, não é estranho que apareçam revistas destinadas ao público feminino propondo-lhe os saberes que se consideram necessários para a sua vida. Mesmo que nas épocas anteriores ao Iluminismo o convento seja um grande centro da educação feminina, os ilustrados dirigem-lhe críticas ásperas, acusando as ordens religiosas de deixar as jovens ignorantes e não preparadas para a vida. Insiste-se em que a mulher além da leitura, escrita, contas básicas e um pouco de cultura geral ee saber danar, tocar alguns instrumenos, e na cultura portuguesa, resonder a motes e improvisar poemas.Como um no caso extraordinário cita se o de Vitorine de Chastenay, que desde menina sabia latim, que tinha aprendido juntamente com o irmão, e que tinha conhecimentos de história, geografia, aritmética, inglês, religião, música e desenho. Ela representa o modelo da mulher livre pensadora que não se dedica a conversas superficiais.
As leituras recomendadas à mulher iluminista são as de “exemplo e proveito”, autores clássicos, romances, livros de história e o que se considera perjudicial são livros de temática amatória ou aqueles que podem estimular demasiado a sua imaginação. Quanto à escrita, a forma epistolar foi muito rapidamente apropriada pelas mulheres, porque através de um género privado, ela consegue expressar as suas ideias sobre vários assuntos importantes do domínio público.
Voltando à ideia inicial da mulher iluminista no salão, o autor salienta a capacidade da mulher de se adaptar a novas circunstâncias culturais e de ir conquistando o seu espaço não apenas na esfera privada, como cada vez mais no público, uma vez que a sua casa abre as portas a intelectuais, permite-lhe trocar opiniões, encontrar pessoas, criaar  e tomar posições.
Tendo alargado o espaço em que actuavam, as mulheres aparecem cada vez mais na vida política. Como exemplos disso o autor cita os casos da Maria Teresa de Áustria e Catarina a Grande na Rússia (que se escrevia com Voltaire) e de algumas revolucionárias francesas, que abriram novos caminhos para a mulher na sociedade e que influenciaram o desenvolvimento do feminismo.
Este capítulo, de forma clara, simples e sintética dá a conhecer a situação da mulher no Século das Luzes, apontando para algumas dificuldades reais com as quais ela teve de lidar, e que hoje em dia podem considerar-se questões resolvidas (o direito da mulher à educação, ao trabalho, à escolha do parceiro para o casamento). Há, porém problemas que nem sequer hoje em dia estão completamente acabados de resolver ( como por exemplo a igualdade absoluta entre o homem e a mulher).
Este capítulo é uma excelente síntese da posição da mulher na sociedade do século XVIII, a nível pessoal e profissional. Mesmo depois desta pequena amostra do livro podemos chegar à conclusão de que a obra toda salienta os aspectos mais importantes da posição do homem na cultura, sociedade e vida privada no Século das Luzes, sobre tudo na França.

miércoles, 15 de agosto de 2012

microcríticas extraordinárias

BORGES, Jorge Luis, CASARES Adolfo Bioy (orgs.)  (19993) Cuentos Breves y Extraordinarios, Losada, Buenos Aires, 156 pp.
Aunque se piense que los microcuentos son una invención de la época moderna, destinada a los lectores con poco tiempo y un estilo de vida rápido, este género existía en todos los tiempos y en todas las culturas, sólo que era llamado de diferentes nombres: "parábola", "anécdota", "relato", "cuentecillo" etc.
 Jorge Luis Borges y Adolfo Bioy Casares son los primeros que despertaron el interés del público por la "brevedad extraordinaria" de los cuentos buscándolos en todas las fuentes desde las Mil y una Noches, las literaturas de Grecia y Roma clásicas, hasta las conocidas obras europeas y latinoamericanas.
En lo que se refiere a los autores presentes en esta antología, se pueden encontrar e.A. Poe, alejandro Jodorowski, Marco Denevi, los propios Borges y Casares, como también Franz Kafka, los grandes sabios de China, Voltaire y muchos otros. Con esta excelente elección de pequeñas muestras de las obras de cada uno de los escritores, se pretende que los lectores deseen conocer con más profundidad el resto de su creación literaria.
Directamente al asunto esencial, sin demasiadas descripciones e imagenes estereotipadas, con títulos sugestivos y a veces jugando con el doble sentido de  las palabras y combinando los géneros, desde el cuento de hadas, hasta la noticia del periódico, desde el epitafio a la anécdota, estes "cuentos breves y extraordinarios" captan la atención del lector, pidiendo una primera lectura rápida, para después ser disfrutados con atención y con placer.
 "La aniquilación de los gnomos", " Teología", "El aviso", "Fe, poca fe y ninguna fe", "La sentencia" son apenas algunos de los títulos que apelan a la curiosidad del público al que se dirigen, tratando de todos los temas, desde la religión y mitología  hasta la cotidianidad, sorprendiendo con sus finales impactantes e inespoerados, provocando la risa,, las lágrimas o el pensamiento profundo.
La excelente forma de escoger el tema y escribir sobre él en pocas líneas es lo que vuelve estes cuentos breves tan extraordinários a los ojos de los que a lo mejor no tienen mucho tiempo para leer, pero indudablemente tienen o pretenden desarrollar un buen gusto por la literatura universal.

martes, 14 de agosto de 2012

leyendas macabras

Mitos y relatos de la Colonia (2008), Editorial Época, Ciudad de México, 89 pp.
Aunque se entitule de Mitos y Relatosde la colonia, se trata antes de leyendas, porque como el marco introductorio de todas estas narrativas se usan hechos históricos, con fechas exactas, nombres de lugares en la actual Ciudad de México, con nombres de los personajes reales que formaron parte de la historia de la Nueva España en el período de la colonización.  A estes hechos se les añade mucha imaginación, inclinación a lo fantástico, a lo macabro, lo grotesco y lo horripilante y el resultado son las excelentes historias que no dejan al lector indiferente. 
A pesar de que la intención principal de estes relatos podía ser la de examinar los límites del miedo, de fomentar la fantasía y de llamar la atención al mundo de la ultratumba, este libro contiene mucho más: la mezcla de las tradiciones paganas y cristianas, la creencia en un fuerte sentido de justicia, el sentimiento trágico de la deslumbrante belleza femenina,  se aborda el problema de la culpa, de los remordimientos, del perdón y de la absolución.
En este sentido el personaje del usurero Don Cosme está muy bien construido, ya que inicialmente se nota en él un interés frio por el dinero, sin importarle el sufrimiento y la miseria de sus deudores, pero a lo largo del desarrollo de la acción de la leyenda, es claramente visible su profunda transformación que se debe al casamiento con el fantasma de su novia, hija de un hombre honrado quien no consiguió reunir todo el dinero y pagarle la deuda. Aquí se nota el matiz cristiano del cuento, que propone la posibilidad del arrepentimiento y de la redención de cada persona hasta el último momento de su vida. Para que se vea que el substrato pagano es todavía muy fuerte en la tradición mexicana, justo en el final de la narrativa se llega a saber que el alma del usurero no alcanzó su paz y su descanso, porque su novia muerta lo persigue por el convento de la Merced, subrayándose de este modo la idea que la crueldad debe ser castigada.
entre otros temas im portantes de estas leyendas se destaca el deseo de la venganza y  la facilidad con que los pensamientos malos son introducidos en la mente y el alma de una joven y pura doncella por su malvada tía Estefanía. Como castigo merecido para todas sus maldades las dos fallecen siendo duramente torturadas. Se cuestionan también los típicos temas españoles de los siglos XV y XVI, el honor y la honra, siendo abordados con mucha destreza en los personajes de Don Raymundo y su amante india Macuilxóchitl, que por una palabra de honra de su amado, mató y tenía que ser sacrificada.
Lo que también se pone en evidencia en este conjunto de leyendas es el comportamiento de la inquisición española en la colonia mexicana, enumerándose las formas de castigar a los procesados.
Contadas de una forma muy interesante, con la intervención del narrador que, mediante sus técnicas consigue que el lector "viaje en el tiempo" y que imagine con todos los pormenores la belleza de los lugares y personas descritas, estas historias son muy vivas y actuales y representan mucho más que una simple lectura de pasatiempo. Las páginas de los Mitos y Relatos de la Colónia abundan de muertes sangrientas y de escenas escalofriantes, pero también ofrecen material para la reflexión sobre la crueldad y la vanidad humanas, sobre el amor y la fe, el lado íntimo y el lado escondido y sombrío del alma de las personas.

domingo, 12 de agosto de 2012

Sabedoria de uma mulher independente: os "Ditos da Freira" de Joana da gama

GAMA, Joana da (2010), Ditos da Freira, Apresentação, notas e fixação de texto de Anne-Marie Quint, Centro de Estudos Clássicos Univerdidade de Lisboa, Instituto de Estudos de Literatura Tradicional FCSH Universidade Nova, Lisboa, 98 pp.
Quando se fala sobre a "cultura no feminino", a "escrita feminina" ou a "questão do género" em relação à criação literária ou artística no geral, não é raro sentir-se um determinado tom de desprezo ou ironia  nas palavras de quem se refere a cada um destes temas. considerar a criação feminina no âmbito da literatura e da arte e a sua contribuiç\ao para a cultura como um factor de menor importância ou valor estético, é um assunto profundo e complexo e as razões para isso são múltiplas. alguns dos motivos principais para o aparecimento destes preconceitos podem ser o facto de a maioria das histórias de literatura serem escritas por homens, a impossibilidade de as mulheres terem o mesmo acesso à alfabetização como a população masculina, a atitude das próprias mulheres escritoras em relação à sua obra ou o desconhecimento do trabalho destas mulheres por parte do público leitor.
No caso de Joana da Gama, a sua obra escrita durante muito tempo foi considerada como obra de um valor estético menor, provavelmente por não ter sido devidamente estudada e promovida. Esta autora começa a escrever no século XVI, que é a época em que se começa a prestar mais atenção à educação e instrução das mulheres, graças à influência e ao trabalho de várias rainhas portuguesas, desde a D. Leonor até à Infanta Dona Maria.
Sobre esta escritora sabe-se pouco, porém o facto de ter nascido numa família nobre e de ter tido sempre uma independência financeira ajudou-a a desenvolver-se como autora. Após a morte do seu marido ela própria fundou um centro de recolhimento, mas nunca fez a profissão de freira, para poder governar as suas finanças e sentir-se mais independente.
A obra de Joana da Gama é pouco extensa e consiste em quarenta e sete fólios de aforismos sobre os tópicos que ela considerava dignos de reflexão e  alguns fólios de poesias escriitas  em  formas métricas dominantes na sua época (sonetos, romances, vilancetes etc)
Embora fosse habitual que os livros publicados no século XVI tivessem um prólogo, um proémio, uma dedicatória, uma indicação sobre o conteúdo destinada ao leitor, Joana daesta escritora parece fugir um pouco à regra, sendo ela própria a apresentar-se e a  introduzir a sua obra.  Ao longo da introdução recorre aos mecanismos de "falsa modéstia" (um dos lugares comuns do século XVI), utilizando termos como  "grande ousadia", "fraca memória", "pouca prudência" e "quem não sabe" para se referir a si e aos seus escritos.
O que é evidente nestas palavras é que a autora conhece perfeitamente o valor da sua escrita e que pretende produzir um efeito de admiração no seu público leitor. Mesmo não tendo feito a profissão da fé, assina os seus ditos como os de "freira", para dar mais autoridade às suas palavras e para salientar que o convento era o único sítio em que as mulheres podiam ter condiç\oes para acederem à cultura e para escreverem.
Dispostos por ordem alfabética, "ditos" de Joana da Gama tratam de temas universais como o amor, a  amizade, a adversidade, os bons, a cobiça, Deus e outros, tal como aborda alguns dos tópicos importantes da literatura do século XVI, nomeadamente o descontentamento, o desengano, o desassossego, os bens temporais, a vã glória e temas afins.
Apesar de na sua época o casamento ter sido um dos tópicos inevitáveis dos moralistas, pensadores, teólogos, filósofos e intelectuais no geral, nesta série de aforismos não se encontra uma única palavra sobre este tema, mas não se sabe a razão exacta para semelhante atitude da escritora: será que se trata da infelicidade pessoal da autora durante um ano e meio de casada? Ou é uma forma de salientar a necessidade da independência feminina e da sua liberdade? Ou de uma desvalorização propositada do casamento enquanto instituição? Estas e outras reflexões e perguntas que podem surgir aos leitores (e leitoras) de Joana da Gama não deixam de ser meras suposições que no livro não encontram uma resposta adequada.
O curioso na linha de pensamento desta escritora é que não tem uma opinião positiva nem sobre a afeição nem sobre o amor, sendo o primeiro sentimento apenas algo que "afoga a razão, põe em ferros a liberdadee dana a fama e a põe em confusão" (p.29), e o segundo é caracterizado como contrário à honra e um "miserável estado" (p. 30) que deve ser afogado logo no princípio das suas manifestações. Esta visão pessimista do mundo das emoções poderia servir como uma prevenção da corrupção do bom comportamento das pessoas e especialmente dos jovens, sendo eles os mais susceptíveis às fantasias provocadas pelo amor.
Entre os ditos desta escritora há muitos que cabem no domínio do conhecimento geral como nomeadamente: "ninguém é bom juiz de si mesmo e nem basta pera se aconselhar" (p.34), "não há queem se defenda das envejas" (p.41) ou ainda "foge-nos o tempo, não o podemos alargar".(p65) Outras afirmações de Joana da Gama dão muito material para a discussão porque parece que não correspondem completamente à verdade. tais são os exemplos de "cegueira do coração, se a têm pessoas poderosas, têm a razão sojeita e torcida a sua vontade, e não a vontade a razão". Embora seja verdade que algumas pessoas quando est\ao no poder, abusam dele por causa da "cegueira do coração", este sentimento pode atingir todos os seres humanos e não apenas os poderosos. Outro pensamento que mereceria uma análise mais pormenorizada é sem dúvida o  que se refere à natureza da seguinte forma: "a natureza em qualquer idade repugna e dá guerra (p.52 ) porque nem todos estão sempre insatisfeitos com o seu carácter e numerosas são as pessoas que aceoitam a sua própria natureza tal como é. A última reflexão sobre a qual é necessário debruçar-se é "Não tem ser humano que não obedece à razão" (p.60). Se todas as pessoas fossem tão racionais ccomo aclama a autora, como se explicaria a loucura, a fantasia  a imaginação ou as reacções das pessoas que se comportam mais de acordo com as suas emoções?
Alguns dos aforismos desta escritora, por causa da sua simplicidade e clareza das ideias merecem uma atenção especial, como por exemplo a afirmaç\ao que a ccortesia "é um laço em que se prendem vontades" ou os "ditos do autor sobre si mesma". Neste segundo aforismo há-que destacar que a palavra "autor" está sempre no género masculino, porque no século XVI não existia este termo no feminino e ao mesmo tempo porque com este substantivo Joana da Gama preteendia dar mais valor às suas ideias e afirmar-se ainda mais como escritora. Escrever para esta autora é uma forma de encontrar a paz e de lutar contra "o grande mal da ociosidade".
Quando se refere a Deus, à esperança ou à fé, tem-se a impressão de que se trata mais de reflexões intelectuais do que de uma experiência intimamente vivida e sentida, o que tal vez se explique pela ausência de uma verdadeira vocação religiosa na autora.
Por vezes a escritora usa comparaç\oes muito originais, uma linguegemm viva e abundante em imagens literárias belas e elaboradas. Tal é o caso da comparação das pessoas desassossegadas com a maré, utilizar a ideia dos agrilhões que apertam a alma para a cobiça ou igualar a ira com um rio.
Em termos de poesia presente neste livro, parece poarticularmente interessante o diálogo entre a velhice e a razão, porque a raz\ao enumera motivos pelos que a velhice é digna e honrada, tentando apagar toda a tristeza e abatimento da primeira personagem do poema, As restantes poesias de Joana da Gama abordam os típicos temas do século XVI: a passagem do tempo, a mudança, o desengano, a dor e o sofrimento, sendo os romances de uma qualidade superior aos sonetos. Nota-se que a autora conhecia melhor a tradição popular portuguesa e que estas formas métricas lhe eram muito próximas, enquanto as formas eruditas como o soneto exigiriam tal vez um pouco mais de instrução formal.
Com uma excelente apresentação, dirigida "ao leitor curioso", imitando o estilo dos livros da época renascentista e barroca, este livro dá a conhecer uma das figuras femininas importantes para a cultura portuguesa. Joana da Gama, independente, livre, culta, sensível e em certos aspectos "à frente" do seu tempo, pretendendo recuperar o seu lugar e importância no âmbito da escrita feminina e da literatura portuguesa no geral.

sábado, 11 de agosto de 2012

cuentos medicinales

BUCAY, Jorge (2008) Cuentos para Pensar, RBA Publicaciones, Buenos Aires, 181 pp.
Que los médicos escriban obras literarias no ha sido un hecho aislado a lo largo de la historia de la literatura y para confirmar este dato citaremos apenas algunos de los nombres conocidos de autores cuya profesión era la medicina, siendo la escritura aquello que los volvió realmente célebres en el mundo: Antón Chéjov, Arthur Conan Doyle, Mariano Anzuela, Laza lazarevic y como el último caso se citará Jorge Bucay, autor argentino, cuya colección de Cuentos para Pensar es el objeto del estudioy análisis.
Siendo este escritor licenciado en medicina y especializado en las enfermedades mentales, és lógico que nos presente una serie de narrativas breves, algunas entre ellas consideradas de microrrelatos, otras más largas, reunidas en un libro de autoayuda destinado al público adulto y a sus problemas cotidianos, sus insucsos, su inseguridad, su vanidad, sus miedos, amores, ilusiones, sufrimientos, rechazos y aceptaciones de su propia personalidad. 
En la capa del libro es posible leerla afirmación que "los cuentos sirven para dormir a los niños y para despertar a los adultos", ofreciendo al lector el material para pensar expuesto a veces en la forma de un cuento de hadas, otras como un cuento más contemporáneo, como un poema en prosa u otro género literario breve. El objetivo de todos estes cuentos es despertar en los adultos el interés por sus propias capacidades y limitaciones, brindándole una de las posibles maneras de enfrentar su problema particular y de resolverlo.
En la parte teórica que precede a los cuentos, se notan el estilo y las ideas típicas de los libros de autoayuda, que consisten en respuestas fáciles y aparentemente persuasivas como  por ejemplo: "Tú... eres quién eres" (p. 17), "nada que sea bueno es gratis" (idem), "nunca hacer lo que no quiero" (p. 19), que están impresas a negrito, para subrayar todavía más la idea que el autor desea que los lectores recuerden.  La introducción termina con el destaque de las "tres verdades" (la verdad montaña que sirve "para poder construir nuestra casa sobre una base sólida, la verdad río " para calmar nuestra sed y poder navegar (...) en busca de nuevos horizontes" y la verdad estrella "para poder servirnos de guía aún en nuestras noches más oscuras" (p.23)), que son nada más que metáforas muy gastadas y demasiado previsibles, después de las cuales es necesario mucho esfuerzo para continuar la lectura.
Lo que, sin embargo, hay de interesante en esta colección de cuentos, son  algunas de las las historias  particulares, entre las que  se deben destacar la del "enemigo temido", que narra la relación emtre un rey y su mago, que por una falsa profecía sobre el día de sus respectivas muertes, llegan a aproximarse y a mejorar sus defectos, a no juzgarse y a creer más el uno en el otro. El cuento "Darse cuenta" es un ejemplo del aprendizaje por tentativa y error y reflecte todo un proceso de crecimiento humano. La"lógica del borracho" de una forma ligeramente irónica desvenda el mecanismo de defensa de un alcohólico para explicar su dependencia. "La ilusión" parece presentar en palabras simples toda la magia de los primeros momentos del enamoramiento, "Los obstáculos" son un testimonio muy claro de que es el mismo hombre que muchas veces complica su vida sin necesidad. La "Pequeña historia autobiográfica" pretende recordar a los lectores sobre lo fácil que es un hombre pequeño, común y corriente, alimentar su vanidad si oye constantes elogios de los demás, pero que sólo después de la caída puede darse cuenta de su pequeñes e insignificancia.
Entre los consejos que se pueden leer en este libro se destacan los siguientes: Cada semilla sabe cómo llegar a ser árbol", que "ser feliz es tener la convicción de estar en el camino correcto", "la magia sólo funciona mientras persiste el deseo".
uno de los cuentos que son más negativos y que menos sentido tienen dentro de este libro es la historia de Juan Sinpiernas, que después de un accidente con la sierra eléctrica se queda en la silla de ruedas y descubre que sus antiguos amigos ya no comparten sus actividades con él. Siguiendo el consejo de su psiquiatra de participar en las mismas actividades con sus iguales, Juan Sinpiernas llega a la idea de cortar las piernas a todos sus amigos, vengándose de ellos. Este cuento sólo muestra que algunos seres humanos no aprenden nada de sus situaciones difíciles, llegando a degradarse completamente, en vez de volverse más fuertes y más purificados, lo que es el objetivo principal de algunas de las grandes desgracias.
De estas breves narrativas lo que se puede esperar es un pasatiempo divertido con una lectura  leve, pero no se puede ni se debe llevar muy en serio su contenido porque en la vida real no todo es tan simplificado y superficial como lo presentan los libros de autoayuda.
Algunas de las narrativas están muy bien escritas, otras juegan con los clichés literarios y los del lenguaje, y algunas entre ellas parecen inacabadas o poco profundizadas, probablemente con la intención de obligar al lector a pensar y a añadir el contenido que falta.
De todos modos, entre los escritores argentinos y latinoamericanos en general hay muchos nombres cuyas obras vale más la pena leer y analizar, siendo Jorge Bucay apenas um entre muitos escritores dos best-sellers comerciais sem um grande valor estético y literario.

fronteiras perdidas José Eduardo Agualusa

AGUALUSA, José Eduardo, (2002) Fronteiras Perdidas, Contos para Viajar,  Publicações Dom Quixote, Lisboa, 124 pp.
 Quem conhece a prosa de José Eduardo Agualusa, sabe que nas suas obras pode esperar que se debatam as questões da fronteira, da identidade, de alguns problemas do homem angolano contemporâneo tais como "de que forma o seu país é visto no exterior", "onde está o seu lugar," " o que significa hoje em dia ser angolano" e neste sentido as Fronteiras Perdidas não representam nenhuma excepção.
Quer que se trate de uma viagem de jipe, de ónibus no Brasil, de avião, de comboio ou de um simples elevador, o que une estas desassete  narrativas breves é de facto a constante procura de um "lugar de morança", de um ponto de referência, de uma identidade, de um espaço fixo no mundo cada vez mais globalizado em que as noções da fronteira do centro, da margem e da periferia são sempre mais abaladas e menos reconhecíveis. A identidade torna-se cada vez mais traiçoeira e perde o seu significado, ainda que se trate de um nome e apelido à partida inconfundível.
Nas narrativas de Agualusa, tal é o caso de Plácido Domingo, para o qual todos os leitores poderiam assegurar que se trata da grande estrela de ópera, quando ao longo do conto se descobre que o seu protagonista é um antigo capitão do exército português, que apóa a Revolução de Abril em Luanda "foi levado em ombros por uma multidão eufórica". A mesma insignificância do nome e da identidade revê-se no caso da raquel, que sempre foi chamada de Fronteiras Perdidas, para o narrador do conto pôr em questão o seu verdadeiro nome, explicando que nalgumas tradições existe um nome público e ooutro íntimo, usado apenas em cerimónias restritas.
Ao longo da leitura desta obra confirma-se que "não há mais um lugar de origem", que existem "outras fronteiras", que até o sonho como uma das experiências humanas mais íntimas é apenas um sítio de passagem e que é possível viajar pelas memórias, pelas cidades reais como Luanda, pela fantasia e pelo cinema, mas que a existência de uma "casa" é um assunto muito vago e frágil. Mesmo quando uma casa física existe, o importante é como é que nos sentimos nela, o que nos mostra o caso de Jimmy waters, que regressou à África, mas que se sente desvinculado da terra das suas origens porque já adoptou um pouco da mentalidade e da cultura ocidentais.
Nestas narrativas está sempre latente a questão do "eu" e do "Outro", de "nós" e "eles" e que sempre existem alguns estereótipos e preconceitos culturais, mesmo entre os próprios africanos ou descendentes de africanos o que melhor se expressa na afirmação que "os pretos não sabem comer langosta".
Entre os tópicos abordados nesta colectânea destacaríamos a insegurança humana e a sua humilhação perante o riso dos outros, elaborada no conto "o perigo do riso", a necessidade de se acreditar numa força superior, como é o caso do "Taxista de Jesus", a alienação humana no meio urbano e o afastamento do homem contemporâneo da natureza e das suas raízes, expressos nas palavras da avó no conto "Por que é tão importante ver as estrelas".
Com os seus títulos bem escolhidos " A volta ao mundo em elevador", " A noite em que prenderam o Pai Natal", " Carro Malhado", "A pobre pintora negra que era um branco rico", com o seu estilo simples, mas cativante, com uma ligeira dose de humor e linguagem coloquial, estes contos convidam o leitor a deslocar-se juntamente com o narrador e a viajar à procura de diversão, algum ensinamento e das imagens de uma África conhecida e misteriosa ao mesmo tempo, de uma África próxima e longínqua que habita detrás das fronteiras perdidas e frágeis do nosso mundo contemporâneo.

viernes, 10 de agosto de 2012

en busca del lado negativo del alma humana "Memórias del Subsuelo" Fedor Dostoyevski

DOSTOYEVSKI, Fedor (2003), Memorias del Subsuelo, Editorial Juventud, Barcelona,179 pp.
Esperar de Dostoyevski un análisis profundo de los vicios, trastornos y las emociones más profundas y marcantes del alma humana es tan natural y común para quien está acostumbrado a leer sus grandes novelas como El crimen y el Castigo, Los Hermanos Karamazov u otras, siendo sus Memorias del Subsuelo su antecedente más importante. 
En esta narración breve ya se empiezan a notar los temas y preocupaciones que el novelista ruso iría a desarrollar a lo largo de toda su creación literaria: el libre albedrío, la existencia del mal y sus raíces, la culpa del hombre, la denuncia de los trastornos psicológicos de la gente etc.
La primera parte, con el título "El Subsuelo" consiste en once capítulos breves en que el narrador de la historia, un antiguo funcionario público que se dimitió porque era grosero y antipático con todos, hipocondríaco y desilusionado de la vida, se dirige a un público imaginario, tratándolo por "señores". A lo largo de los capítulos iniciales discute tanto las cuestiones filosóficas (la razón y el libre albedrío, la voluntad, el carácter humano, haciendo un "ajuste de cuentas" con el racionalismo iluminista y con el utilitarismo burgués), como despliega ante los ojos de sus observadores invisibles toda una serie de defectos humanos (la hipocrecía, la vanidad y la debilidad de los que no tienen la autoestima suficiente), debatiendo también el papel del sufrimiento y de la felicidad en la vida humana y en la formación del carácter de las personas. En la primera mitad de su obra, Dostoyevski aprovecha la oportunidad de reflexionar sobre la literatura y la crítica literaria, dando su opinión sobre Nekrasov, Gógol y otros autores de su época, tal como para concentrar-se (no sin ironía) en los conceptos de lo bello y lo sublime, muy discutidos y abordados por los filósofos románticos alemanes, desde Kant até Schelling e Fichte, embora não mencione os seus nomes. Definiendo el romántico russo, el autor lo cualifica como un hombre inteligente, que aún así puede ser el mayor de los canallas, y por eso se distingue del romántico alemán o francés. tocando en este asunto, discute también la especificidad del "alma rusa", concepto que fue muy popular durante el siglo XIX.
En esta parte el narrador puede perecer cínico, a veces demasiado directo, otras veces irónico, pero con todas estas tácticas, traza lo que posteriormente en la teoría literaria se llamaria de "antihéroe",  personaje principal negativo sin cualesquiera escrúpulos, que pretende presentar el mundo como un sitio hostil e injusto para vivirse en él.
La segunda unidad del libro, con el título "A Propósito del Aguanieve", también dividida en once capítulos breves, presenta ya la degradación total del narrador, que en su subsuelo se acuerda de un episodio de su juventud, con un hombre llamado Zverkov, su humillación, muchas injusticias, la crueldad humana y el desinterés por el prójimo.
Lo más impactante en esta parte de la obra es la construcción del personaje de Lisa, una joven de veinte años, que huye de su familia paterna por determinadas divergencias y termina en el subsuelo, pensando en seguir su propio camino.
Por momentos hasta parece que en el narrador se despiertan algunas características buenas, porque inicialmente siente compasión por Lisa, advirtiéndola a los peligros, la desonestidad y la miseria que la esperan en el mundo de la prostutución (además de la degradación de su juventud y belleza física, las enfermedades, ella debería enfrentar-se con la violencia, el desprecio, los malos tratos por parte de todos: desde su propia patrona hasta los clientes, la borracchera, el camino de la perddición absoluta).
Conforme se llega al final de esta obra literaria, se ve que la intención del narrador no era la de hacer que Lisa recapacitara y que volviera a la casa paterna, porque será él mismo que la deshonraría. Su afirmación que "no puede ser bueno" ya en las páginas finales del libro pone ante el lector  la cuestión si el mal es innato o si se ouede combatir, si el libre albedrío del hombre, de permanecer malo hasta el último momento es tan grande y tan fuerte que nada ni nadie lo puede influir o cambiar, y eso da un carácter todavía más profundo al modo de pensar dostoyevskiano.
A pesar de su tono bastante negativo, a pesar de presentar una irreparable degradación del ser humano, las Memorias del Subsuelo es un libro que vale la pena leer porque toca en los asuntos universales y siempre actuales que no se refieren solo al hombre ruso de los finales del siglo XIX, sino que siguen interesando e intrigando al público lector del mundo entero, con su profundidad de reflexiones y un excelente estilo en que está escrito.

jueves, 9 de agosto de 2012

um olhar psicanalítico para os contos de fadas

FRANZ, Marie-Louise Von (2005) A Interpretação dos Contos de Fadas, Paulus Editora, São Paulo, 240 pp.
Afirmar que os contos de fadas não são apenas textos divertidos para o passatempo e a educação de crianças não é novidade nenhuma desde que os psicanalistas da vertente junguiana lhes deram uma interpretação nova e diferente.
Marie-Louise von Franz, psicanalista suíça, discípula de Jung e sua colaboradora durante mais de trinta anos, tornou-se numa autoridade reconhecida na área de investigação dos mitos e contos de fadas. Este livro, desde o seu prefácio, feito por Léon Bonaventure, oferece-nos afirmações interessantes como nomeadamente que (p.5) "somente o amor é capaz de gerar a alma, mas também o amor precisa da alma". Nesta citação vê-se não apenas o reflexo do mito sobre Cupido e Psique, como também se confirma que em vez de se interrogar e buscar explicações dos nossos traumas e feridas, devemos aceitar e amar a nossa alma assim como ela é, e os contos de fada têm como uma das funções primordiais oferecer um reconforto ao ser humano e ajudá-lo a integrar-se no mundo e na comunidade em que vive, circunscrevendo o desconhecido e intentando revelar o que é o SELF de cada indivíduo ou de cada nação.
a autora deste estudo chama os mitos e contos de fada de "experiências arquetípicas" que surgem mediante a irrupção das imagens do inconsciente colectivo na experiência de um indivíduo e eis uma das possíveis razões de haver variações do mesmo tema nos contos de fadas de diferentes culturas.
Através da análise de um conto tradicional concreto As Três Penas encontrado pelos irmãos Grimm, pretende-se descodificar a múltipla simbologia da linguegem das personagens da narrativa, dos objectos que elas usam, as reacções dos participantes na intriga e toda uma série de acontecimentos que dão a esta história uma perspectiva mais profunda do ponto de vista da psicanálise. desta forma, as quatro personagens principais do conto (o velho rei pai e os seus três filhos) simbolizam as quatro funções psíquicas das quais falava jung nas suas teorias, mas na fase inicial nota-se a presença do princípio masculino, sem qulquer menção do feminino, uma vez que a rainha não faz parte do quadro dos protagonistas. Poder-se-ia pensar que nas antigas sociedades patriarcais o papel da mulher (ainda que fosse a própria rainha) não era muito considerado nos assuntos tão importantes como quem é que vai ser o herdeiro do trono. Marie-Louise von Franz, porém não oferece aos leitores uma visão tão simplista deste problema, uma vez que o terceiro filho, chamado por todos de "Tolo", o que sempre está mais próximo da terra, é quem entra em contacto com o feminino, através da Senhora Rã e das suas filhas rãzinhas, que simbolizam o feminino e completam o que falta na história. Há-que mencionar que as prendas que o rei pai pede (o tapete, o anel e a esposa) não foram escolhidas por acaso. Nas culturas orientais, o tapete é uma espécie de "continuação da terra", um objecto que oferece conforto, calor, abrigo, mas que não deixa de ser o mais próximo do chão, isto é do princípio telúrico e feminino. O anél, objecto redondo, que ao mesmo tempo vincula e isola, simboliza a união eterna e o desejo de pertença, no que também se reflecte o princípio feminino. A esposa mais bela que deveria corresponder ao herdeiro do trono e de ser digna dele é uma rã transformada em princesa. Este motivo é muito comum nos contos tradicionais indo-europeus, quer que se trate de rã que se transforma em princesa, quer que seja um sapo que se torna no príncipe mais belo mo mundo. Várias são as possíveis explicaç\oes para esta metamorfose, mas a autora deste livro é da opinião que a rã obtém a sua plena realização feminina na forma de princesa, mostrando que o princípio feminino é indispensável para completar o masculino. A quarta prova que pedem os irmãos do Tolo, na perspectiva desta investigadora, é apenas a afirmação da ideia que o número quatro é de facto aquele que ajuda a plena activação do SELF. Curiosamente, a última tarefa que deve ser cumprida, não é exigida dos filhos do rei, mas, sim das suas noras: a de saltar por uma argola, e ela é bem-sucedida apenas pela princesa, a esposa do filho mais novo. Por causa da sua vida anterior na pele de rã, ela é habilitada de fazer bem o salto. Há-que notar também que a argola tem a mesma forma que o anel e a mesma função, de vincular e isolar, de unir e separar. Como a argola pode representar o órgão sexual feminino, a que consegue fazer a prova sem se partir, consegue ser sexualmente iniciada com sucesso e desta forma garantir o herdeiro do trono, embora isso não seja explicitamente dito no conetúdo da história.
Na segunda parte do seu estudo Marie-Louise von Franz debruça-se sobre algumas das questões importantes para a psicanálise, tais como a existência e a manifestação do animus, da anima e da sombra nos contos de fadas e ilustra as suas afirmações com diversos exemplos de contos tradicionais, desde a tradição russa até à judáica.
A terceira parte, talvez a mais interessante do ponto de vista teórico e prático é a das perguntas feitas à autora e as suas respostas, em que com palavras simples explica a importância dos sonhos, contos de fada, arquétipos e outros termos da psicanálise junguiana. Uma das hipóteses desta investigadora é que Andersen aa través dos seus contos manifesta um tipo de neurose, condicionada pela rigorosa relação da igreja luterana em relação às questões da sexualidade e individualidade.
mesmo que esta possa ser uma interpretação um pouco radical da criação de Andersen, este livro representa um conjunto de estudos valiosos relacionados com o domínio do mito e dos contos de fadas, matéria que parece inesgotável e sempre actual, sempre nova e interessante, tanto para as crianças e adolescentes como para os adultos.

miércoles, 8 de agosto de 2012

histórias de amor e de procura da identidade em "Sputnik, Meu Amor" de Haruki Mmurakami

Apesar de este romancista japonês ultimamente ser muito popular e traduzido no mundo inteiro, Sputnik, Meu Amor de Haruki Murakami não é uma história muito prometedora, talvez por ser a primeira obra conhecida do autor.
Antes de começar a narração, ao leitor é-lhe dada uma informação básica sobre  Sputnik I e Sputnik II, e sobre a cadela Laika, que parece ter sido sacrificada em nome da ciência. este texto inicial, que serve para recordar alguns factos básicos do domínio da cultura geral, guarda uma ligeira relação com o conteúdo do livro, apenas porque o nome do satelite artificial passa a ser a alcunha de uma das personagens. 
Ao longo da obra é apresentada a vida de Sumire, uma jovem de vinte e dois anos, que se apaixona por uma mulher desasséis anos mais velha e casada. Esta rapariga, no início desorganizada, esquecida, despistada, sem empregos sérios, sem objectivos na vida, a não ser o de se tornar numa romancista brilhante, tem apenas um amigo, o narrador da história, secretamente apaixonado por ela.
Quando conhece Miu, uma mulher coreana, empresária, independente e pelo que aparenta, o seu pólo oposto, mas que gosta de música clássica como ela, Sumire apaixona-se perdidamente, e essa obsessão será um dos fios condutores do romance. Com ela começa a trabalhar, a ter mais responsabilidades, a vestir-se bem, a falar italiano, a deixar de fumar e a viajar pela Europa, o que é um pormenor importante no desenvolvimento da intriga, uma vez que sputnik em russo significa "companheiro de viagem". Essa viagem poderia ser a tanto física, pelos distintos espaços da Europa, coomo a interior, para o mundo íntimo das pessoas que reflecte a sua busca da identidade, da felicidade e da realização pessoal.
No livro não fica claro se na sua frívola, mas devastadora paixão por uma mulher, Sumire procurava a imagem da mãe que perdeu cedo, uma figura que seria modelo para ela, o seu outro eu, a realização do seu ideal de mulher ou apenas um objecto de satisfacçãodo seu desejo sexual. Quando escreve sobre isso no documento 1 do seu computador, deseja que as duas penetrem no mais profundo uma da outra, o que poderia revelar mais uma procura de conhecimento e auto-conhecimento mútuo do que uma mera paixão carnal. Quando está com Miu, ela deixa de pensar e de escrever, sonha com a sua mãe que está morta e pretende alcançá-la no céu e não o consegue. Por outro lado, a história de Miu, que uma noite ficou fechada num parque de diversões e através dos seus binóculos viu a sua dupla ou sósia a ter relações sexuais com um homem que a assediava e que lhe metia medo, e por causa dessa visão ficou frígida e dividiu-se em duas mulheres diferentes separadas por um espelho imaginário, não é capaz de comover a ninguém e podia perfeitamente ser omitida no livro, embora se pretenda sublinhar que essa duplicidade entre este lado e o outro lado é um fio que une as duas personagens.
Mais interessante do que tudo isto parece ser a relação de amizade e cumplicidade entre Sumire e o narrador da história, a única pessoa que a compreende, que a ama, que está sempre ao lado dela, que a conhece profundamente, que é capaz de fazer tudo por ela, até de viajar subitamente desde o Japão até uma ilha grega perdida no mar perto da fronteira turca. A personagem do narrador está muito bem construída, porque revela a plena dedicação a tudo o que faz, ao seu trabalho de professor primário, às suas leituras e mais do que tudo à Sumire.  Enquanto todos o usam como instrumento de ajuda, ninguém se preocupa com os seus sentimentos e a sua solidão, que o onbriga a relações ocasionais com mulheres mais velhas e casadas, muitas delas mães dos seus alunos. Até nesse pormenor (de quererem estar com uma mulher mais velha e casada), Sumire e o seu amigo são semelhantes, mas por parte dela não se manifesta nenhum interesse no contacto físico com ele e por isso não pode haver uma relação amorosa com ele.
Quando o narrador reflecte acerca dos seus sentimentos por Sumire, pensa que Miu a ama, mas não a deseja, que a sua amada ama e deseja Miu e ele ama e deseja apenas a sua amiga o que torna as persoonagens deste livro em participantes de um previsível e frívolo triángulo amoroso, digno de telenovelas ou de um romance barato romance cor-de-rosa e não de uma obra que pretende ser considerada grande obra de arte.
Após o misterioso desaparecimento de Sumire e o seu regresso ainda mais misterioso, a história da sua procura, realização pessoal e a sua identidade ficou incompleta, confusa e inacabada. O pormenor de Miu voltar a ter o cabelo branco depois de ter voltado da Grécia, poderia significar uma forma de ela ter ultrapassado o trauma do passadp e de ter-se aceite tal como é, enqaunto o narrador da história, também voltou da sua viagem transformado, com um irreparável sentimento de perda.
Além de o romance estar repleto de temas pseudo-intelectuais como nomeadamente a diferença entre o signo e o símbolo, a importância dos sonhos e a referência de demasiadas peças e compositores de música clásssica, muitas vezes peca no estilo, usando muitas repetições e comparações quee se reduzem a clichês gastos. ("certo, certíssimo", "ter fome de lobo", "evaporar-se como o fumo", que se notam tanto no próorio autor, como na escrita de Sumire, que se pretende ser uma escritora extraordinária, não deveria escrever assim.
Sputnik, Meu Amor, com o seu título interessante e alguns dos temas que poderiam dar muito material para um excelente romance (o amor, a perseguição de um ideal, a procura da identidade e da realização pessoal), não deixa de ser um de muitos livros comerciais e superficiis, que exigem um grande esforço do leitor para não serem abandonados a meio da leitura.

martes, 7 de agosto de 2012

Micro-teatro em Lisboa

A Santinha é Linda  O micro-teatro no âmbito das festas populares de Lisboa
Texto e encenação: Vicente Alves do Ó, interpretação: Carmen Santos e Carlos Oliveira
Local: Teatro Rápido, Lisboa
Por Anamarija Marinović
Se ultimamente se tem falado muito sobre os “microcontos”, “micro-relatos”, poesia haiku e outras formas literárias baseadas no minimalismo e na concentração no detalhe e no mais essencial como pequenas cenas da vida quotidiana transpostas para a literatura, falar no micro-teatro na Europa ainda parece ser uma novidade.
Este tipo de teatro reduz a ação e o número de personagens ao mínimo, não se divide em atos, porque a duração da peça no total não deve exceder os 15 minutos, resume a sua ideia na transmissão de uma mensagem rápida e eficaz da atualidade provoca a reação e a reflexão dos espetadores como se se tratasse de um anúncio publicitário, excerto de uma conversa quotidiana ou notícia do jornal.
Depois de ter recebido boa aceitação por parte da crítica e do públiconas crandes capitais europeias como Paris, Madrid e Berlim, o micro-teatro veio a Lisboa e especificamente para estes efeitos recentemente foi aberto o Teatro Rápido em Lisboa, um espaço alternativo com quatro salas de espaço reduzido, de forma a possibilitar a interação entre os atores e os espetadores. Este teatro fica em pleno Chiado (Rua Serpa Pinto 14) e os preços dos espetáculos correspondem ao tamanho das peças, sendo o custo de um bilhete de apenas três euros. O teatro tem também uma cafetaria acolhedora decorada com pequenas obras de arte, o que tornará a estadia no espaço ainda mais agradável para quem não está habituado a frequentar este tipo de peças teatrais.
Dentro do âmbito das comemorações das festas populares em Lisboa, desde o dia 1 até ao dia 30 de junho, este teatro acolheu entre outras a micro-peça A Santinha é Linda da autoria e encenação de Vicente Alves do Ó e com a atuação de Carmen Santos e Carlos Oliveira. Quem viu o filme Florbela, ou a representação de A Voz Humana de Jean Cocteau, encenada por este mesmo artista, talvez esperasse uma peça um pouco diferente, mais “séria” ou intelectual. Trata-se, no entanto de uma forma divertida e ao mesmo tempo crítica do lado mais comercial e superficial das festas populares lisboetas que decorrem anualmente durante o mês de junho.
As personagens são um ensaiador das marchas populares, com pouca cultura e instrução e com o vocabulário reduzido a uma dúzia de palavras coloquiais e nem mais nem menos que a própria Nossa Senhora da igreja do bairro da Lapa, que para os efeitos da peça é chamada de Santinha. Esta obra é uma comédia que toca em alguns assuntos da atualidade portuguesa (a crise, o aumento dos preços de tudo, até mesmo das sardinhas, inevitáveis na mesa dos portugueses nesta altura do ano, o interesse meramente comercial das festas populares, a crítica do bairrismo lisboeta, o pouco conhecimento da própria cultura por parte de alguns portugueses, a ideia do Governo português de se suprimirem determinados feriados etc).
No meio da preparação das marchas populares dedicadas a Santo António, aparece a imagem da Nossa Senhora da igreja da Lapa, protestando por se sentir abandonada e esquecida e por o bairro da Lapa não ter a sua própria marcha popular, exigindo também ela um feriado só para ela.
Para a surpresa do ensaiador das marchas populares, que parece muito preocupado apenas com o tempo que lhe falta até ao início dos desfiles, com o fator económico e com o seu próprio trabalho, trata a sua visitante por “filha”, “amiga” ou até usando a expressão coloquial e pouco apropriada para uma senhora “gaja”, mostrando desta forma não apenas o desrespeito em relação à população feminina, mas também a sua profunda ignorância de alguns pormenores relacionados com a cultura popular portuguesa e até às próprias marchas (nomeadamente que Lapa não participa do evento). A Nossa Senhora aparece também como defensora das mulheres e “santa feminista” exigindo o seu devido lugar no meio de vários santos masculinos que se comemoram tradicionalmente durante o mês de junho em Portugal (Santo António, São João, São Pedro). Ela é a que dá uma lição de bom comportamento a Adalberto, o responsável principal da organização das marchas lisboetas, ensinando-o a “falar fofinho” sem usar palavrões nem linguagem de registos não apropriados na sua presença, reivindica a beleza e o valor da igreja da Lapa, defendendo a ideia de que ela deveria ser mais visitada e promovida em Lisboa. A Santinha ensina que se deve ter o respeito pelo sagrado, pelas pessoas mais velhas, pelas mulheres, ensina o rapaz que inicialmente era rude e mal educado, a pedir desculpa, a expressar-se bem e a valorizar e conhecer melhor as suas próprias tradições e a informar-se mais sobre a realidade mais imediata que acontece na sociedade portuguesa atual. Com o agradecimento e a exclamação “A santinha é Linda!” que deu o título a esta micro-peça teatral, o organizador das festas populares compromete-se a ver o que é que se pode fazer pela reivindicação da Nossa Senhora da Lapa e no que se refere aos seus pedidos relacionados com o feriado e a marcha popular, todo o público ri e dá uma nova dimensão às festas lisboetas, pensando sobre o que há por trás de um evento cultural que não é nem deve ser encarado apenas como uma diversão barata para as camadas baixas do povo.
Apesar de alguns aspetos positivos da obra como nomeadamente a excelente encenação e escolha dos atores e do tema, seria necessário apontar também para alguns pormenores que talvez poderiam ser repensados ou melhorados numa das próximas realizações da peça: deveria talvez ter-se um pouco mais de cuidado na construção da personagem da Nossa Senhora, uma vez que há momentos em que ela parece um pouco amargada e vingativa, há sequências em que ela também usa o jargão juvenil, parecendo não diferenciar-se o seu estilo falado do registo do rapaz a quem se dirige. A expressão que ela morreu “sem aproveitar a vida” poderia talvez entender-se como uma determinada desvalorização dos santos e do seu papel não apenas na tradição popular, como na vida espiritual e religiosa das pessoas. Tendo em conta que Portugal é um país com uma grande tradição mariana, que no século XX se deve também às aparições em Fátima, esta frase proferida pela boca da Santinha pode soar ligeiramente irreverente aos que são devotos do seu culto. Na denominação Santinha, porém, não nos pareceu evidente qualquer menosprezo, mas uma tentativa de a Nossa senhora se aproximar ainda mais do povo, das festas populares e do imaginário dos portugueses.
Com uma ótima intervenção de Carmen Santos e de Carlos Oliveira, esta peça chamou a atenção do público, provocou riso e simpatia, tal como o interesse pelas tradições populares portuguesas, pelo seu lado bom e menos bom, como também ensinou valores: o respeito pelos outros, a existência da vertente cultural e espiritual da vida, a necessidade de se pedir desculpa e de se corrigirem algumas injustiças.