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sábado, 29 de diciembre de 2012

natal na versão de Fernando Pessoa traduzido para sérvio

BEM-VINDOS AO APAIXONANTE MUNDO DE LETRAS PRECIOSAS E IMAGENS ENCANTADORAS, SEJAM LEITORES, OBSERVADORES, CRÍTICOS E PALAVRÓFILOS, LEIAM, LEIAM, LEIAM. MESMO QUE UM PROVÉRBIO POPULAR SÉRVIO DIGA QUE "A CABEÇA É MAIS VELHA QUE O LIVRO", ISTO É QUE O PENSAMENTO É MAIS ANTIGO QUE A ESCRITA, LEIAM, ISSO AGUÇA O ESPÍRITO, ENRIQUECE O VOCABULÁRIO E A ALMA, DESPERTA A CURIOSIDADE E FAZ VOS PALAVRÓFILOS CURIOSOS TAMBÉM...


Natal... Na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.

Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
Estou só e sonho saudade.

E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei!
Bozic
Bozic... U provinciji sneg pada
u ususkanim domovima
jedno osecanje odrzava
prohujala osecanja.

srce svetu suprotstavlja se
kakva je porodica istina!
misao moja duboka je,
sam sam i ceznju snivam.

i kako se beli od milosti
krajolik meni nepoznati
vidjen iza stakla iz unutrasnjosti
doma koji nikada necu imati.
Tradução: Anamarija Marinovic

George Steiner visto de perto

BEM-VINDOS AO APAIXONANTE MUNDO DE LETRAS PRECIOSAS E IMAGENS ENCANTADORAS, SEJAM LEITORES, OBSERVADORES, CRÍTICOS E PALAVRÓFILOS, LEIAM, LEIAM, LEIAM. MESMO QUE UM PROVÉRBIO POPULAR SÉRVIO DIGA QUE "A CABEÇA É MAIS VELHA QUE O LIVRO", ISTO É QUE O PENSAMENTO É MAIS ANTIGO QUE A ESCRITA, LEIAM, ISSO AGUÇA O ESPÍRITO, ENRIQUECE O VOCABULÁRIO E A ALMA, DESPERTA A CURIOSIDADE E FAZ VOS PALAVRÓFILOS CURIOSOS TAMBÉM...


STEINER, George, SPIRE Antoine (2004) Barbárie da Ignorância, Fim do Século, Lisboa, 106 pp.
Consagrado como linguista, crítico literário, ficcionista, pensador e filósofo de ideias fortemente cosmopolitas, Geoge Steiner é por ventura menos conhecido pela sua esfera mais íntima e pessoal, é justamente este aspecto que é apresentado na série de entrevistas feitas por Antoine Spire. Que todos os preconceitos, estereótipos e “barbáries” provêem da ignorância, é mais do que um lugar comum, e por isso não é de estranhar que o livro comece com o destaque da vasta cultura e pluriculturalidade em que este pensador foi educado desde a infância. Nascido em Paris, de pais judeus da origem checa e austríaca, trilingue, grande leitor de obras dos célebres autore clássicos e defensor do ensino e aprendizagem do latim e do grego, como dois grandes pilares da erudição europeia, George Steiner teve o privilégio de criar a sua identidade por cima dos nacionalismos, tendências políticas militantes ou qualquer totalitarismo que impedisse que ele hoje seja considerado um dos espíritos mais liberais e tolerantes da ciência europeia actual. Embora tenha feito o seu Bar Mitswa (confirmação ao judaísmo), fê-lo mais para se inscrever no “clube do qual não nos demitimos” do que para afirmar a genuína pertença afectiva e cultural à comunidade judaica. Isto descobre-se quando o autor confessa ter abandonado o estudo do hebraico por mera preguiça e também para dar preferência ao estudo do grego e do latim. Steiner, poliglota desde a infância, é um fervoroso defensor da aprendizagem das línguas estrangeiras, porque na sua opinião, elas são as vias pelas quais se acede “à felicidade de uma outra civilização” (p.17), mecanismos que ajudam a perceber as psicologias e mentalidades dos povos que as falam, um degrau para o cosmopolitismo e a verdadeira “cidadania do mundo”.
É interessante saber que este pensador dá um grande valor à persistência, perseverância e luta, uma vez que nasceu com uma ligeira deficiência no braço direito , mas mesmo assim aprendeu a escrever com a mão direita e a viver e encarar  seu defeito como um grande privilégio e não como estigma e “uma escola de esperança em que cada progresso é objecto de registo”, referindo o lema de Espinosa que “a coisa excelente deve ser difícil”. Este exemplo é mais um convite para a reflexão, mais um chamamento de atenção aos saudáveis não apenas para não desvalorizarem e discriminarem as pessoas diferentes, mas também para examinarem as suas próprias capacidades e limitações.
Além de aspectos pessoais do célebre autor, esta obra apresenta as suas reflexões sobre a linguagem, a literatura, a posição do poeta e da poesia face à barbárie, a filosofia de Heideger, os limites da fé, a cultura, as diferenças entre a crítica literária e a literatura. Com uma ligeira ironia sobre este assunto e sobre si próprio, Steiner refere que se cada um dos críticos fosse capaz de escrever uma obra de Joyce ou um poema de Puchkine, não seria um “prof” comodamente sentado no seu departamento ou dando aulas a quem o quer ouvir. Na sua opinião, o ser professor é mais d que uma profissão, é vocação, missão e “doença” no sentido mais positivo e apaixonado da palavra, uma vez que “quem não estiver doente de esperança, não tem a mais pequena hipótese de ser professor” (p.98). É nesta frase um tanto missionária que se vê toda a entrega que Steiner revela em relação à sua própria profissão, e também um convite para o exame de consciência e de vontade para quem quer seguir o difícil e atraente caminho de transmissor de conhecimentos  saberes a gerações posteriores
É interessante também a singular visão que este pensador tem sobre Hitler e a sua capacidade de falar em público e seduzir as massas, sendo que “o génio da retórica de Hitler é a morte da nossa linguagem” (p.37). Reconhecendo este talento a uma das figuras mais negativas e sombrias da História da humanidade, Steiner interroga-se sobre os limites do conhecimento, sobre as falhas humanas e sublinha o perigo das más interpretações da língua e da palavra, entidades inseparáveis do pensamento e da lógica.
Esta série de entrevistas está dividia segundo o critério temático em “capítulos” com títulos atraentes e bastante originais (Quatro contentores do lixo na Lua, Um planeta vazio no sal grego da manhã, Um clube limpo de judeus, O nome do Deus desconhecido) que tratam dos temas que preocupam o autor, desde a criação da identidade até à ficção científica e o valor da erudição. Mais uma vez com linguagem clara ideias penetrantes, esta obra chega ao leitor com uma incrível capacidade de sedução, mostrando vezes sem conta que “o espírito humano é indestrutível, totalmente” (p.80) convidando o público a viver, sentir, pensar e expressar-se de uma forma única e original.

a Europa segundo George Steiner

BEM-VINDOS AO APAIXONANTE MUNDO DE LETRAS PRECIOSAS E IMAGENS ENCANTADORAS, SEJAM LEITORES, OBSERVADORES, CRÍTICOS E PALAVRÓFILOS, LEIAM, LEIAM, LEIAM. MESMO QUE UM PROVÉRBIO POPULAR SÉRVIO DIGA QUE "A CABEÇA É MAIS VELHA QUE O LIVRO", ISTO É QUE O PENSAMENTO É MAIS ANTIGO QUE A ESCRITA, LEIAM, ISSO AGUÇA O ESPÍRITO, ENRIQUECE O VOCABULÁRIO E A ALMA, DESPERTA A CURIOSIDADE E FAZ VOS PALAVRÓFILOS CURIOSOS TAMBÉM...

STEINER, George (2004) A Ideia da Europa, Prefácio de José Manuel Durão Barroso, Gradiva, Lisboa, 55 pp.

Desde a existência da Comunidade Económica Europeia (a actual União Europeia) as ideias sobre a necessidade de um continente unido com os mesmos ideais e valores políticos, económicos, sociais e culturais parece ser uma constante que preocupa os pensadores, filósofos, sociólogos e outros investigadores do domínio das ciências sociais e humanas e esta obra não é excepção. Nas palavras de José Manuel Durão Barroso, este ensaio oferece “novas formas de encarar o Velho Continente” e também “explica a ideia da Europa a partir da escala humana, da geografia, de filósofos, artistas, professores sempre em movimento” (p.15).
O pensamento interessante e bastante original do qual parte Steiner pretendendo desenvolver o seu conceito da Europa concentra-se na importância dos cafés das grandes cidades da Europa, e particularmente a ocidental, que se relacionam quase intuitivamente com as personalidades dos poetas, políticos, filósofos e artistas que os frequentaram. Desta forma os cafés de Lisboa que foram os lugres preferidos de Fernando Pessoa, os cafés vienenses e parisienses frequentados pelos grandes nomes das culturas dos respectivos países, revelam um pouco sobre o espírito de cada uma das cidades em questão, sobre o grau da cultura destes países. Da mesma forma, é sublinhada a ideia que um pub inglês e um típico bar irlandês têm a sua história, cultura e mitologia próprias, que determinam o lugar de cada uma destas cidades no mapa cultural da Europa actual.
É precisamente a partir da cultura, uma cultura específica e universal ao mesmo tempo, que segundo Steiner se deve construir uma Europa unida e unificada, que só então será forte e resistirá às ameaças políticas e a vários tipos de crises que o continente pode enfrentar. Parece-nos que o ideário que Steiner propõe rsponde e corresponde de certa forma às ideias europeístas elaboradas por Eduardo Lourenço, que defende a possibilidade da criação de uma “mitologia europeia”.
De acordo com Barroso, “quem diz cultura, diz liberdade e diz diferença” (p.7), isto é, a cultura deve estar por cima de quaisquer nacionalismos, excessivas preocupações com a identidade étnica, política ou nacional e deve aproximar os povos.
Quando foi fundada, a actual União Europeia baseava-se apenas nos critérios económicos (e economicistas) e a cultura e o seu valor nas integrações europeias foram aparentemente bastante secundarizadas, para se evitarem os orgulhos nacionalistas e para não se fomentarem as ideias da supremacia de uma cultura sobre a outra. Esta tendência, porém, mudou, o que é visível na linha de pensamento de George Steiner.
Nas palavras de Rob Reiman, a cultura deve ser um convite para a cultivação da nobreza de espírito, para o interesse pelo Outro. Desta forma, segundo este autor “a cultura como amor não possui a capacidade para obrigar” (p. 20). Isto é, a verdadeira cultura, pela qual luta a Europa unida nega qualquer totalitarismo qualquer possibilidade da uniformização do pensamento humano.
Voltando à ideia inicial de Steiner sobre a importância das cafetarias numa cidade europeia, ver-se-á que estes sítios são encarados como locais “ de entrevistas, conspirações, debates intelectuais, mexericos” tal como locais em que as pessoas procuram reconhecimento político, artístico e literário”. Os cafés são encarados como centros de vida social e cultural, como sítios que reflectem um específico espírito urbano europeu, que não existe nem na América do Norte, nem na Ásia, nem na Austrália. Uma outra especificidade da cultura europeia, na perspectiva de Steiner é que “a Europa foi e é percorrida a pé” (p. 28), diferentemente dos outros continentes em que as distâncias geográficas entre as cidades são bastante maiores e as pessoas parecem ser bastante mais afastadas umas das outras. Nesta imagem enquadram-se o valor, a importância e a diversidade de viajantes (peregrinos, autores de livros de viagens, comerciantes, mestres, pensadores) que percorreram o solo do continente europeu a pé. Esta é uma característica importante da polis grega, o berço do pensamento filosófico europeu. As cidades europeias na linha de reflexão de Steiner são encaradas como cenários de acontecimentos ao mesmo tempo “luminosos e sufocantes”, cujo significado depende da perspectiva de quem observa estes lugares e as personalidades que criaram cultura em cada uma delas.
Este ensaio debruça-se também sobre o valor por vezes excessivo d passado histórico nos países e culturas europeias encarnado no “peso ambíguo do tempo verbal pretérito”, o que pode representar um problema grava quando a sobrevalorização da identidade nacional conduz a genocídios, limpezas étnicas, preconceitos sobre o Outro e sobre si próprio. A identidade cultural europeia, segundo Steiner, reflecte se na “herança dupla de Atenas e Jerusalém”, isto e nenhum europeu pode nem deve negar a importância e força com que a sabedoria grega moldou a sua forma de pensar e ver o mundo, e com que séculos de história, valores e fé cristã influenciaram a forma de crer, sentir, ter esperança e olhar para o futuro. Como três pilares principais da cultura europeia, Steiner destaca a música, a matemática e a filosofia, que elevam o espírito humano e que enriquecem o seu mundo interior.
Não obstante, este autor alerta para a intuição da Europa que pode ruir sob o peso da sua própria grandeza, riqueza e complexidade, que não tiveram equivalente na História e como exemplo desta afirmação refere as das guerras mundiais e a aparente perda de força e de importância do cristianismo na Europa. Este autor claramente tem em conta a cristandade ocidental, esquecendo mencionar sequer o cristianismo ortodoxo, que poderia ser uma das potências reemergistes no cenário cultural europeu actual.  Da mesma forma este pensador chama Moscovo de “subúrbio da Ásia”, e nesta atitude revela-se uma posição um pouco depreciativa da Rússia e da sua cultua ou um determinado elitismo com que se enfrenta o Ocidente europeu no sentido cultural.
Steiner é da opinião que a Internet, a padronização técnica a vida quotidiana, o uso do inglês como uma espécie de língua franca na comunicação não apenas vai aproximar os povos, como vai salientar a necessidade e a importância de um continente unido nas suas diferenças e particularidades, fazendo com eu um sonho europeu, liberto de ideologias falidas continue a ser sonhado e vivido até se concretizar.
Esta peculiar análise da cultura europeia e da Europa em si a partir de pormenores aparentemente insignificantes, o estilo sobro e a linguagem clara e sem pretensões intelectualistas, tornam a leitura desta obra acessível, embora não fácil ou simplista, que são justamente as características pelas quais o pensamento de George Steiner se destaca nas humanidades europeias contemporâneas.
Um dos pontos menos fortes deste livro é a talvez demasiada concentração na cultura da Europa ocidental, sem se debruçar sobre os valores da Europa do Leste, a Europa central o a do Sul, porque não é completamente possível construir-se uma mitologia europeia comum sem se terem em conta as suas grandes partes no sentido geográfico, político, social e cultural.
De ideias bem desenvolvidas, hipóteses fortemente argumentadas e de temática sempre actual, A Ideia da Europa é uma obra que deve ser lida e reflectida por qualquer intelectual europeu, porque se debruça sobre aspectos fundamentais para uma sociedade e uma vida melhor, e porque “a vida não reflectida , não é efectivamente digna de ser vivida” (p.55).

jueves, 27 de diciembre de 2012

conto na lusofonia, cruzamentos, actualidades e culturas plurifacetadas

BEM-VINDOS AO APAIXONANTE MUNDO DE LETRAS PRECIOSAS E IMAGENS ENCANTADORAS, SEJAM LEITORES, OBSERVADORES, CRÍTICOS E PALAVRÓFILOS, LEIAM, LEIAM, LEIAM. MESMO QUE UM PROVÉRBIO POPULAR SÉRVIO DIGA QUE "A CABEÇA É MAIS VELHA QUE O LIVRO", ISTO É QUE O PENSAMENTO É MAIS ANTIGO QUE A ESCRITA, LEIAM, ISSO AGUÇA O ESPÍRITO, ENRIQUECE O VOCABULÁRIO E A ALMA, DESPERTA A CURIOSIDADE E FAZ VOS PALAVRÓFILOS CURIOSOS TAMBÉM...
ROCHETA, Maria Isabel, NEVES, Margarida Braga (2012) O Conto na Lusofonia 2 Antologia crítica, CLEPUL, Lisboa, 167 pp.
 Quando se olha para o título desta colectânea, à primeira vista dir-se-ia que se trata de "mais um livro da mesma série" ou ainda de mais um sucesso entre os leitores que desejam conhecer mais profundamente o rico e multifacetado mundo lusófono: mundo literário numa língua que serve como "pátria" de oito identidades diferentes culturais, políticas, linguísticas e sociais, fazendo talvez com que este conceito unificador se fragmente por dentro em várias "micro-pátrias", algumas das quais ainda procuram a sua afirmação e visibilidade no mapa cultural e literário do mundo, um mundo cada vez mais globalizado e uniforme.
Após uma leitura mais atenta ver-se-á que o leitor tem nas suas mãos uma obra de arte única e irrepetível, que trata os temas universais como o amor, a identidade nacional, os dramas familiares, a rotina, o preconceito e a ignorância, o lugar do homem e da mulher, as consequências da colonização e descolonização, as ilusões das crianças, a miséria, a própria criação literária e a autoria de uma obra, de uma forma original, aliciante e intrigante. Reflecte-se sobre a felicidade e união familiar, sem a despótica e ao mesmo tempo impessoal figura do pai, a submissão da mulher num casamento em que o sucesso e o prestígio do marido são as únicas coisas que importam, a impossibilidade de uma criança curar a sua vista devido ao alcoolismo do pai e a sua consolação nos finais felizes das telenovelas, os "estigmas pós-coloniais" , a ignorância enraizada numa sociedade que leva aos estereótipos, discriminações e preconceitos, numa África recentemente liberta, que procura a sua esperança num futuro melhor, é importante o papel da memória (pessoal e colectiva), da identidade, do enraizamento e a desnaturação, a transitoriedade da celebridade e da vida humanas.
Todos estes contos, quer que se trate das celebres realizações dos autores consagrados, ou ainda das publicações inéditas, deixam quem lê com a vontade de ler mais e de conhecer a vida e a escrita dos autores, os pormenores sobre as técnicas narrativas, a construção das personagens e sobretudo da realidade nos países lusófonos: Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, São Tomé , salientando que todos estes autores têm um denominador comum- a pertença a lusofonia, sem demasiada mirtificação e mistificação deste termo.
De entre os autores representados nesta antologia destacam-se os célebres nomes como Machado de Assis, Agustina Bessa-Luis, David Mourão-Ferreira, Mário de Andrade, Mia Couto, Ondjaki, embora também se atribua o devido lugar aos autores reconhecidos nos seus meios locais (Albertino Bragança, Nélida Piñon) que através da sua escrita ainda procuram uma afirmação fora das fronteiras do seu país, e a lusofonia parece ser um excelente meio para permitir que se concretize a utopia de um mundo no qual o valor estético e literário da obra está por cima dos traços identitários nacionais, raciais, sexuais etc.
Seguindo a mesma estrutura e ideia das antologias anteriores, esta também acompanha todos os contos de uma leitura feita por um especialista, tais como Beatriz Weigert, Susana Ventura, Inocência Mata, Jorge Martins Trindade, Conceição pereira, que abrem mais uma perspectiva de interpretação e servem como um guião de descoberta de significados escondidos em cada uma destas breves obras literárias, deixando ao leitor suficiente espaço para criar as suas próprias ideias a partir da leitura e das questões que lhe possam surgir. Este formato da colectânea é útil tanto para o público escolar e universitário, como para os que já possuem uma formação em letras, porque a linguagem que os leitores críticos usam para darem o seu contributo para o esclarecimento dos contos é simples, clara e compreensível, não descurando, porém o rigor de uma investigação científica.
diferentes em tempos cronológicos em que surgiram (embora a maioria remeta para o século XX e a contemporaneidade) e pelos critérios temáticos que abordam, mas unidos pela lusofonia e pelo elevado valor estético, estes contos representam recortes das realidades dos países de expressão portuguesa, e pérolas de sabedoria, beleza e universalidade das literaturas que se criam e cultivam neste espaço cultural vasto e complexo, às vezes não demasiado conhecido para o leitor estrangeiro que os aprecia, lê e analisa.

Amor, drama, tragédia humana, transitoriedade da vida

BEM-VINDOS AO APAIXONANTE MUNDO DE LETRAS PRECIOSAS E IMAGENS ENCANTADORAS, SEJAM LEITORES, OBSERVADORES, CRÍTICOS E PALAVRÓFILOS, LEIAM, LEIAM, LEIAM. MESMO QUE UM PROVÉRBIO POPULAR SÉRVIO DIGA QUE "A CABEÇA É MAIS VELHA QUE O LIVRO", ISTO É QUE O PENSAMENTO É MAIS ANTIGO QUE A ESCRITA, LEIAM, ISSO AGUÇA O ESPÍRITO, ENRIQUECE O VOCABULÁRIO E A ALMA, DESPERTA A CURIOSIDADE E FAZ VOS PALAVRÓFILOS CURIOSOS TAMBÉM...
Filme: Amor
Género: Drama
 Duração: 127 min.
Cinema: El Corte Inglés
Com: Jean-Louis Trintignant, Emmanuelle Riva, Isabelle Huppert, Rita Blanco
Realização: Michael Haneke
palma de ouro no Festival de Cannes 2012

Começando de uma forma dramática, delirante e inesperada, com uma equipa que abre um belo e grande apartamento no centro antigo de Paris a descobrir uma senhora idosa morta e coberta de flores, este filme insinua que o tema da morte será muito importante. Não se diria que se trata do acto de morrer em si, mas de todo o processo que o envolve: como é que uma doença incurável muda a vida da própria pessoa afectada e como este facto se reflecte naqueles que a rodeiam, amigos, familiares, médicos, enfermeiros. Este filme emocionante, arrepiante, bizarro, terno e profundo ao mesmo tempo questiona não apenas a existência como também os limites e alcances do amor, as forças e fraquezas que o ser humano enfrenta com a velhice, a esperança e a exaustão dos ideais e o triunfo da quotidianidade dura sobre os restos dos afectos.
Georges e Anne, dois professores de música reformados, já octogenários, vivem uma vida cultural e social muito activa, frequentam teatros, concertos, lêem muito, tendo também momentos de rotinas diárias, pequenas brigas, como qualquer casal que se conhece muito profundamente e que viveu muito tempo lado a lado. Uma noite, a protagonista continua acordada, olhando para o vazio e pretendendo que não se passa nada, o que seria talvez um dos primeiros sinais do drama humano marcado pelo medo da velhice, solidão, desamparo, doença e morte. No dia a seguir, ao pequeno-almoço, ela tem uma branca na memória, deixa de reagir, o que preocupa extremamente o seu marido, atencioso, carinhoso e terno. segue-se o acidente vascular cardíaco dela, a sua ansiedade e preocupação de poder permanecer num lar ou num hospital e uma série de cuidados, atenções, lembranças, mimos e pequenas provas de amor, que perdura mesmo quando as paixões juvenis já há muito tempo se desvaneceram. Quando ela fica paralisada do lado direito e quando nem sequer a música e o sucesso de um dos seus antigos alunos lhe servem de consolação, até a visita da filha, do genro e de pessoas próximas começam a incomodá-la, porque ela não deseja ser um peso e um obstáculo no percurso normal das vidas de quem a rodeia. Ela sente toda a sua miséria, doença e desfiguração física como uma perda e transformação angustiante da sua identidade numa outra realidade que lhe é estranha e que a leva a uma demência progressiva e ao sentimento da inutilidade e da ausência da necessidade de ela estar neste mundo, o que se torna cada vez mais um facto evidente e triste até para a sua família. Nesta história, talvez mais do que a profundidade do mundo íntimo e de toda a vulnerabilidade de uma mulher que antigamente era respeitada, realizada e brilhante na sua profissão e na vida pessoal, o que se destaca é a paciência, o carinho e a ternura do marido que compreende todos os sofrimentos da sua amada, tentando suavizar e diminuir a sua dor. Ele canta com ela, lê-lhe o jornal, lava-a, alimenta-a, põe pêssego na sua papa, para lhe ser mais saborosa, conta-lhe histórias do seu passado para a fazer rir, dá-lhe banho e massagens, faz exercícios e terapia da fala com ela, deixa tudo para a acudir e proteger, até que um dia não aguenta mais e sufoca-a com uma almofada.
Pelo que se apresenta na obra, nenhum dos protagonistas tem quaisquer crenças religiosas, o que dificulta e aprofunda ainda mais a sensação da impotência  do ser humano perante a dor e a proximidade da morte. Nos poucos momentos de lucidez, Anne recorda-se dos momentos que ela e o seu amado passaram quando ainda eram namorados, vê os antigos álbuns de fotografias e sublinha que uma vida comprida é tão bela. O marcante nessa cena são as suas mãos idosas com a aliança de casamento, que parecem acariciar cada uma das folhas do álbum que contém as inúmeras memórias e pequenas felicidades de um casal harmonioso. Quando nos momentos de loucura e falas despropositadas menciona a sua mãe e o concerto, tal como o facto que o dinheiro desaparece quando se vende uma casa, o espectador pergunta-se até que ponto essas frases não serão por um lado o seu desejo de ser protegida e de continuar a viver a sua vida plena em que a música é um fio condutor, e por outro lado, anunciam a destruição do lar familiar, a pobreza e a ruína.
O que surpreende o público é o final , em que se ouve água na cozinha, vê-se a protagonista a lavar a louça, como se não tivesse acontecido nada e recorda o seu marido para levar o casaco antes de os dois saírem para a rua. Pouco depois entra a sua filha no apartamento vazio e ali permanece sozinha à espera de algo indeterminado. Esta ideia leva a pensar que toda a história do filme, cheia de presságios negros e relacionados com a morte, o sufoco e o medo (a mão idosa que sufoca Georges, o pombo que entra duas vezes e não tem por onde sair), é apenas uma alucinação do marido, a sua imaginação do que é que poderia ser se a sua amada Anne adoecesse gravemente.
Esta história é um apelo á humanidade, um questionamento para os limites da resistência humana, uma explicação das dificuldades que passam não apenas os doentes como também os seus familiares e amigos, uma denúncia contra determinados enfermeiros que tratam mal os pacientes indefesos, uma prova de amor, amizade, união familiar,uma interrogação sobre a transitoriedade da vida e o seu sentido.
Com a excelente actuação dos protagonistas, uma grande atenção aos pormenores, a fotografia e a imagem que por vezes dizem mais do que as próprias palavras, com a música como um elemento salvífico e terrível ao mesmo tempo, Amor é o tipo do drama que não deixa ninguém sem reflectir sobre a vida, a morte, o medo e o mais profundo e mais belo dos sentimentos-o amor humano.

miércoles, 26 de diciembre de 2012

a saudade portuguesa mais uma vez

BEM-VINDOS AO APAIXONANTE MUNDO DE LETRAS PRECIOSAS E IMAGENS ENCANTADORAS, SEJAM LEITORES, OBSERVADORES, CRÍTICOS E PALAVRÓFILOS, LEIAM, LEIAM, LEIAM. MESMO QUE UM PROVÉRBIO POPULAR SÉRVIO DIGA QUE "A CABEÇA É MAIS VELHA QUE O LIVRO", ISTO É QUE O PENSAMENTO É MAIS ANTIGO QUE A ESCRITA, LEIAM, ISSO AGUÇA O ESPÍRITO, ENRIQUECE O VOCABULÁRIO E A ALMA, DESPERTA A CURIOSIDADE E FAZ VOS PALAVRÓFILOS CURIOSOS TAMBÉM...
  VASCONCELOS, Carolina Michaelis de (1996) A Saudade Portuguesa - Divagações filológicas e literar-históricas em volta de Inês de Castro e do cantar velho "Saudade minha, quando te veria" e a Fonte dos Amores, Guimarães Editores, Lisboa, 156 pp.
Inúmeras vezes já se tem discutido a saudade portuguesa, do ponto de vista filosófico, literário, psicanalítico, cultural, antropológico ou até religioso e da influência deste complexo sentimento no carácter nacional português, na sua forma de pensar e de sentir, e da sua  "alma colectiva". O olhar de uma estrangeira, alemã de nascimento e portuguesa de casamento e "adopção", porque estudou e sentiu a cultura portuguesa como algo que lhe era muito próximo dela, é sem dúvida um dos contributos mais notáveis no que diz respeito à análise deste elemento da cultura portuguesa.
Partindo do mito dos amores proibidos e ilícitos entre o rei D. Pedro e a sua amada e amante Inês de Castro, Carolina Michaelis de Vasconcelos compara algumas das realizações literárias deste tópico nas línguas espanhola e portuguesa, analisando e devidamente explicando os elementos da história, lenda, mito e imaginação dentro de cada uma delas.
O que é interessante na visão desta autora é a sua afirmação sobre  a saudade enquanto sentimento e a sua particularidade na língua, literatura e imaginário portugueses: "É inexacta a ideia que as outras nações desconhecem este sentimento. Ilusória é a afirmação (...) que mesmo o vocábulo "Saúdade"- mavioso nome que tão meigo soa nos lusitanos lábios- não seja sabido dos bárbaros estrangeiros (estrangeiro e bárbaro são sinónimos) não tenha equivalente em língua alguma do globo terráqueo e distinga unicamente a faixa atlântica, faltando mesmo na Galiza do Além-Minho" (p.31). Como confirmação desta sua perspectiva, a autora refere alguns dos equivalentes desta palavra (e sentimento e filosofia) na sua língua materna, citando também alguns traços distintivos entre este conceito e os termos alemães, sendo os alemães também metafi´sicos e referentes ao Além, embora não tão aplicados na poesia lírica.
Como uma das possíveis definições  do termo português "Saudade", Michaelis de Vasconcelos cita as seguintes ideias: " vibra maviosamente a mágoa complexa da saudade: a lembrança de se haver gozado em tempos passados, que não voltam mais, a pena de não gozar no presente, ou de só gozar na lembrança, é o desejo e a esperança de no futuro tornar ao estado antigo da felicidade" (p.22)
Reflectindo um pouco sobre estas designações da saudade, pode ver-se que este sentimento é próximo da nostalgia dos "velhos bons tempos", de uma "idade de ouro" da tranquilidade, sossego e realização, que só existia no passado, que no presente é inalcançável, mas que permanece sempre como um sonho, uma utopia e uma fé no futuro. Esta investigadora é também da opinião que a saudade pode ter uma dimensão espiritual, quase religiosa, isto é designa o desejo da salvação e redenção da alma através do desejo de se estar perto de quem partiu, de se confessar a grandeza da falta que a sua ausência causou,  tendo-se a esperança de que nalgum momento se voltará a estar junto da pessoa amada e desejada.  Entre outras características da saudade portuguesa, esta pensadora refere também as "qualidades ternas, suaves, submissas, resignadas da paixão portuguesa" (p.35). Embora a autora analise a manifestação deste sentimento na literatura erudita dos séculos XV e XVI,  a saudade portuguesa descrita e verbalizada exactamente assim está muito presente nos cancioneiros medievais e ainda antes, na poesia portuguesa de expressão oral, podendo-se afirmar a existência de um modus amandi específico do povo português.
A este sentimento ligam-se estreitamente os sentimentos do "isolamento, ausência, falta, mágoa, carência, desamparo, tristeza, melancolia, dó de alma, o mal de ausência, a nostalgia" como também a " vontade de se possuir o que nunca se possuiu" (p.54.)
Estas são as razões pelas quais Carolina Michaelis de Vasconcellos opta por deduzir a etimologia do termo "saudades" do vocábulo latino "solitates" que seria o plural do termo "solidão" e como prova para a sua reflexão refere o "equivalente" espanhol "soledades",  como a sua "raíz evidentíssima". Esta, porém, a nosso ver não seria a ideia mais feliz , em primeiro lugar porque em espanhol existe a palavra "añoranza", que seria o equivalente semântico do termo "saudade" e em segundo lugar porque o processo do desenvolvimento fonético deste termo em português que a autora cita como "alterações fonéticas normais" parece muito forçado, e porque outras fontes mostram algumas divergências no processo do desenvolvimento do português a partir do latim vulgar.
O que representa um dos aspectos importantes deste livro é o fragmento de um velho cantar " Saudade minha,quando vos veria" cantado pela D. Inês de Castro e a sua criada de confiança, Violante, dirigido ao "seu penhor querido" D. Pedro. Neste canto exprime-se toda a dor e toda a angústia causadas pela ausência do amado, a "pena e o tormento" que dominam a alma da rainha apaixonada, a impossibilidade da concretização do seu amor etc, que parecem caracterizar de uma forma muito singular a palavra e o próprio sentimento da saudade.
Com uma série de anotações e esclarecimentos no fim do livro, a consulta e a compreensão da cultura portuguesa, do seu lirismo e da saudade torna-se mais prática e fácil, como também as lendas e pormenores do mito de Pedro e Inês e a Fonte dos Amores.
Para quem estuda a cultura portuguesa, esta obra deve ser uma das referências fundamentais acerca da mentalidade, lirismo e forma de exprimir os afectos do povo português. O facto de ser da autoria de uma estrangeira (embora naturalizada e bem enquadrada na sua cultura de acolhimento) atribui a esta visão de um segmento da literatura e cultura portuguesa um carácter mais neutro e imparcial, que se distancia e ao mesmo tempo aproxima da mentalidade e sensibilidade de um povo, de uma forma clara, científica e meditativa. Este estudo abriu o caminho a muitas outras perspectivas e visões do conceito da saudade (in)traduzível para outras línguas , literaturas e culturas.

cultura portuguesa do ponto de vista de Eduardo Lourenço

BEM-VINDOS AO APAIXONANTE MUNDO DE LETRAS PRECIOSAS E IMAGENS ENCANTADORAS, SEJAM LEITORES, OBSERVADORES, CRÍTICOS E PALAVRÓFILOS, LEIAM, LEIAM, LEIAM. MESMO QUE UM PROVÉRBIO POPULAR SÉRVIO DIGA QUE "A CABEÇA É MAIS VELHA QUE O LIVRO", ISTO É QUE O PENSAMENTO É MAIS ANTIGO QUE A ESCRITA, LEIAM, ISSO AGUÇA O ESPÍRITO, ENRIQUECE O VOCABULÁRIO E A ALMA, DESPERTA A CURIOSIDADE E FAZ VOS PALAVRÓFILOS CURIOSOS TAMBÉM...

LOURENÇO, Eduardo (1999) A Nau de Ícaro, seguido de Imagem e Miragem da Lusofonia, Gradiva, Lisboa, 214 pp.
 Habituados às ideias europeias e europeístas de Eduardo Lourenço, os leitores nestas duas colectâneas de ensaios encontrarão certamente um substrato europeu, embora desta vez a ênfase se ponha na cultura portuguesa, nas suas especificidades dentro do âmbito da cultura ocidental, e a sua beleza única e a importância de entre todas as outras culturas dos povos que habitam a Europa.. Lendo A Nau de Ícaro,  é  indispensável aperceber-se da relação que os ocidentais e entre eles os portugueses têm com o tempo, sendo que nos ocidentais no geral se note uma determinada indiferença com o tempo e para os portugueses, o tempo continua a ser intimamente ligado ao cristianismo católico e ao papel messiânico de Portugal.  Quando  Lourenço reflecte  sobre a tendência expressionista na arte e na literatura europeia, comparada com a situação em Portugal, ver-se-á que na sua opinião a cultura ocidental de certa forma deixou de ser "uma cultura de angústia, fascinada, hipnotizada ou perturbada pela morte" (p.11) e que em Portugal se nota muito uma " Poética da Dor com maiúscula" , que por sua vez se enquadra na filosofia, na melancolia e na forma de pensar e de sentir dos portugueses.  Deste modo é natural, que como uma espécie  de definição desta corrente artística, Eduardo Lourenço recorra á seguinte ideia: " O Expressionismo à portuguesa não se resume  na opacidade do "silêncio". Fala dentro e acima da morte, saudosamente" (p.35.) 
Diferentemente das suas outras obras que estudam e analisam o imaginário europeu, este conjunto de ensaios refere-se à criação e respeito de uma mitologia portuguesa e europeia em função do cânone  e do imaginário literários, sendo para este efeito inevitáveis os nomes de Camões, Pascoaes, Pessoa e outros grandes pilares das letras portuguesas. Os três autores inicialmente mencionados denominam-se também de "triângulo de Bermudas da literatura portuguesa.
 Como características principais do ser português salienta-se mais uma vez a peculiar ligação com a natureza e com o mundo, o que implica um modo de sentir singular, designado como "a alegria na tristeza e a tristeza na alegria" (p.38), que se reflecte em toda a criação poética lírica portuguesa. O carácter sonhador do povo português é salientado também, por vezes como um traço positivo, sendo Lisboa designada como a "cidade mais onírica da Europa",  e outras vezes também como uma "carga negra de sonhos".(p.58).
Entre estes dois pólos oscila um determinado optimismo quase missionário e o pessimismo fatalista do povo português que define a sua relação com o futuro. O futuro é encarado como "esperança, sonho e utopia" e também como uma "questão da fé", impregnando-se nestas palavras uma forte ideologia cristã. Uma vez que na Europa existe uma grande variedade de povos e culturas, é inevitável mencionar-se uma multilpicidade de tempos e sublinha-se também que cada povo e cultura têm o seu "tempo próprio", isto é o seu próprio ritmo e grau de desenvolvimento, não devendo existir a noção da superioridade e inferioridade de literaturas, povos, filosofias e culturas.
Em relação ao problema de emigração, a chamada "Nau de Ícaro", em homenagem a uma célebre pintura de Breugel, levanta-se quase em simultâneo a questão da identidade portuguesa e de todos os perigos de os portugueses se "converterem" em europeus, globalizando-se e perdendo a sua singularidade. Depois da perda das colónias e  da adesão à Comunidade Económica Europeia (a actual União Europeia), Portugal sentiu-se de certa forma confuso e "perdido" na sua nova posição na Europa e no mundo, sentindo-se marginalizado. Levantando o problema do centro e da periferia e da margem, Eduardo Lourenço refere a trajectória portuguesa como a de um "povo à  margem da Europa, o seu centro-ex-centrado, já estivemos no futuro" (p.74). O interessante nesta visão é a posição geográfica de Portugal (á margem da Europa), que não o impediu a ser "centro" durante uma época, e de ver-se "ex-centrado" após a perda do poder económico e colonial. O jogo dentro da palavra "ex-centrado" que ao mesmo tempo significa ex- e descentralizado ilustra muito bem a  ideia de Portugal como uma ex-potência colonial e como um antigo "centro" cultural, político e económico no mapa da Europa e do mundo. Analisa-se a complexa e ambivalente relação entre Portugal e o Brasil, sendo o Brasil um dos novos focos de atenção, devido ao seu rápido desenvolvimento económico e cultural, como um dos pontos de referência que Portugal não deve esquecer e com que deve fortalecer as boas relações diplomáticas e políticas.
Questionando também o progresso, Lourenço debruça-se sobre a ideia grega da história como inquérito, ou como forma de descobrir o sentido dos acontecimentos.
Em "Imagem e Miragem da Lusofonia" comentam-se desde uma perspectiva diferente a questão da globalização, sendo, e muito oportunamente, usada, do mundo no fim do milénio que parece um aeroporto em que a humanidade se cruza sem se ver. Este, de facto, poderia ser um dos perigos de um mundo cada vez mais uniforme e uniformizado, em que tudo parece ser próximo e conhecido, mas sem um real e profundo conhecimento.
Um dos pontos de aproximação entre povos e culturas poderia e deveria, na opinião de Lourenço, deveria ser a língua, e por isso é importante preservar-se a identidade linguística dos povos. Em relação à língua portuguesa, Lourenço exprime-se da seguinte forma: "língua, cultura e ficção". Para entender-se melhor  esta afirmação, é necessário encarar a língua como uma realidade histórica, política, cultural, "herdada", e não apenas como um fenómeno fonológico e fonético que serve para possibilitar a comunicação entre as pessoas. Discute-se também a célebre ideia da língua como pátria, sublinhando-se que no mundo lusófono a pluralidade de diferentes identidades que fazem parte da mesma "pátria" . Não se deve esquecer que a língua é e sempre foi um forte elemento da identidade nacional e cultural dos povos e que do poder que uma língua tem no mundo depende o estatuto dos países. Desta forma, Lourenço utiliza uma frase quase proverbial: "Diz-me a língua que falas, dir-te-ei o estatuto que tens" (122). No que diz respeito à diversidade de línguas locais que se falam nos territórios do Brasil e das antigas colónias portuguesas em África, este autor refere o fenómeno da "babelização", isto é o direito que todos os povos têm de exprimir a sua identidade na própria língua, sem esquecer que o português é e deve ser  um meio importante de comunicação na sociedade.
Quanto à relação entre Portugal e o Brasil, nas reflexões deste autor nota-se que se trata de um fenómeno profundo e complexo, que da parte portuguesa oscila entre "ressentimento e delírio": ressentimento porque na consciência de um brasileiro comum Portugal é um ponto de referência muito vago, situado algures na Europa, não tão importante como o é a Espanha na consciência de um mexicano ou qualquer outro hispano-americano.. Este facto, na visão do autor, não é recente, porque já desde os séculos XV e XVI, os habitantes do Brasil "os portugueses de lá" sentiam-se de certa forma diferentes e superiores aos "portugueses de cá", devido à grande riqueza material e ao ouro do Brasil. Trata-se também de um desconhecimento e incompreensão mútua entre estes dois países, que se deve a uma ampla e multifacetada identidade brasileira. O que é de notar na construção da identidade brasileira é uma certa tentativa de "fugir" do passado colonial português, de negar a importância da Europa e de "abrasileirar" o seu passado,criando uma identidade única e reconhecível num mundo cada vez mais globalizado. Referindo-se ao Carnaval como uma das festas principais no Brasil, Eduardo Lourenço chama este país de "país de disfarce", não vendo, porém, nesta designação nada de falso ou hipócrita, apenas salientando o carácter multirracial, multinacional e plurifacetado deste enorme estado que alguma vez na História pertenceu a Portugal.
Esta colectânea de ensaios problematiza também a definição do termo " lusofonia", sem demasiada mitificação e mistificação deste conceito e determinando-o apenas como o espaço cultural da língua portuguesa. Salienta-se também a ideia de uma determinada  tendência de "sacralização da língua" que os portugueses e os franceses têm, garantindo desta forma a união entre os povos que  falam estas duas línguas em questão e assegurando o seu domínio cultural sobre as suas ex-colónias. A ideia da lusofonia relaciona-se com certos estereótipos ligados ao Norte e ao Sul, neste caso particular, pontos cardinais de Portugal, desmanchando algumas das opiniões enraizadas sobre o regionalismo e bairrismo aparentemente típicos para os portugueses.
Estas duas obras, semelhantes e diferentes ao mesmo tempo , são uma continuação dos tópicos permanentemente presentes na obra filosófica de Eduardo Lourenço, que de uma forma imparcial e objectiva salientam o valor da cultura portuguesa na Europa e no mundo, apontando também para os seus problemas e dessvantagens, mostrando que é possível e desejavel preservar a identidade nacional e formar uma Europa unida nas suas diferenças.

sábado, 22 de diciembre de 2012

os Miseráveis Víctor Hugo

BEM-VINDOS AO APAIXONANTE MUNDO DE LETRAS PRECIOSAS E IMAGENS ENCANTADORAS, SEJAM LEITORES, OBSERVADORES, CRÍTICOS E PALAVRÓFILOS, LEIAM, LEIAM, LEIAM. MESMO QUE UM PROVÉRBIO POPULAR SÉRVIO DIGA QUE "A CABEÇA É MAIS VELHA QUE O LIVRO", ISTO É QUE O PENSAMENTO É MAIS ANTIGO QUE A ESCRITA, LEIAM, ISSO AGUÇA O ESPÍRITO, ENRIQUECE O VOCABULÁRIO E A ALMA, DESPERTA A CURIOSIDADE E FAZ VOS PALAVRÓFILOS CURIOSOS TAMBÉM...

HUGO, Victor  (1977) Os Miseráveis V Vols. , Circulo de Leitores, Lisboa

Publicada pela primeira vez em 1865 em várias cidades europeias em simultâneo e vendida numa tiragem extraordinária para a época, esta obra sem dúvida representa uma crônica bastante pormenorizada da sociedade francesa do século XIX. Desenvolvida entre a batalha de Waterloo de 1815 e os motins de Paris de 1838, a acção deste romance  gira em torno de algumas personagens centrais (Jean Veljan, Cosette, Marius e muitos outros) e inúmeras personagens secundárias, mostrando toda a indignidade humana, a miséria, a pobreza, as injustiças sociais (condenas à prisão por roubos de pão porque os familiares t~em fome), a vida dos criados, dos humilhados, dos ofendidos, da burguesia e do povo, podendo cada um dos caracteres do livro merecer a alcunha de "miserável", quer que se trate meramente da sua condição económica, quer da sua degradação moral.
Esta obra questiona também os ideais e as consequências da Revolução francesa, a desilusão dos ideais, e de diferentes "ismos" políticos, reflecte sobre várias ideias filosóficas e religiosas, dá a sua opinião sobre a obra de alguns dos mais célebres pensadores iluministas, nomeadamente Rousseau, ironiza alguns defeitos humanos, debruça-se sobre a vida parisiense da época, enquadrando o leitor perfeitamente no  contexto sociocultural do século XIX, interrogando-se o que é ser romântico e qual deve ser a posição da arte e da literatura perante a sociedade.
Entre algumas das grandes reflexões dentro da obra, poder-se-iam escolher a que diz respeito à pobreza na juventude, que apura a alma e prepara-a para fazer bem.
No que se refere á estrutura narrativa, é interessante como é que o autor implica com o leitor, mantendo a sua atenção, recordando-o de algumas situações previamente abordadas no romance e envolvendo-o mais profundamente na acção.
Com uma excelente caracterização das personagens, (o mau pobre, Mário, Cosette), a devida atenção qyue se presta aos pormenores, no falar, na descrição das situações, da roupa, de acontecimentos históricos, Os Miseráveis merece o seu lugar entre os grandes clássicos da literatura francesa e universal.

viernes, 21 de diciembre de 2012

Helping the English teachers...

BEM-VINDOS AO APAIXONANTE MUNDO DE LETRAS PRECIOSAS E IMAGENS ENCANTADORAS, SEJAM LEITORES, OBSERVADORES, CRÍTICOS E PALAVRÓFILOS, LEIAM, LEIAM, LEIAM. MESMO QUE UM PROVÉRBIO POPULAR SÉRVIO DIGA QUE "A CABEÇA É MAIS VELHA QUE O LIVRO", ISTO É QUE O PENSAMENTO É MAIS ANTIGO QUE A ESCRITA, LEIAM, ISSO AGUÇA O ESPÍRITO, ENRIQUECE O VOCABULÁRIO E A ALMA, DESPERTA A CURIOSIDADE E FAZ VOS PALAVRÓFILOS CURIOSOS TAMBÉM...
DAVIES, Paul A, GRAHAM, Carolyn (2002) Zabadoo! 2 Class Book, Oxford University Press , New York 95 pp with teacher's book and cassettes
Designed for primary school children, with comics, nice illustrations, excellent photoes, songs and some useful information from different websites, This book invites the pupil to use their imagination, auditive capacities, the intuition so as to improve the learning process. Repetition games, as well as colouring and matching activities are also included in the book in a very original way, for example, to know more about some animals, the children have to fill in a form where is written "Wanted" and to  guess the colour, the natural habitat, its shape etc. Througs some puzzles and chrosswords, the children will certainly enrich their vocabulary, get familiarised with the English system of writing. Seeing the photoes they will want to know more about the houses in Britain, some museums and important people and they will become interested in exploring the British everyday life and history. Some cultural aspects such as Mothers' Day, Christmass, The Bonfire night are also presented in this book, accompanied by a proper story that will intrigate the children's imagination and will foment their interest in English literature and customs. A very practical aspect of this book that must be pointed out as a plus in its structure is a short glossary in the end that makes easier the process of learning and consulting of the main concepts and parts of vocabulary that are supposed to remain in children's memory and that might push them to learn more and improve their skills and interest in the English language.

Books for learning English at school

BEM-VINDOS AO APAIXONANTE MUNDO DE LETRAS PRECIOSAS E IMAGENS ENCANTADORAS, SEJAM LEITORES, OBSERVADORES, CRÍTICOS E PALAVRÓFILOS, LEIAM, LEIAM, LEIAM. MESMO QUE UM PROVÉRBIO POPULAR SÉRVIO DIGA QUE "A CABEÇA É MAIS VELHA QUE O LIVRO", ISTO É QUE O PENSAMENTO É MAIS ANTIGO QUE A ESCRITA, LEIAM, ISSO AGUÇA O ESPÍRITO, ENRIQUECE O VOCABULÁRIO E A ALMA, DESPERTA A CURIOSIDADE E FAZ VOS PALAVRÓFILOS CURIOSOS TAMBÉM...
FARINHA, Manuela C (2009) New Zappy 3 Student's Book, inglês 1º Ciclo, Porto Editora, Porto, 66 pp  with Storybookk Zappy Festivals
It seems very difficult to teach English as foreign language at school, and especially if you are obliged to do it in a funny way, with no grammar, dictionaries or any other auxiliary books. Nevertheless, here we have a very successful attempt to do it. In this  book with simple and beautiful illustrations with a very practical vocabulary (such as quastions about proper behaviour in the classroom, words about family, house, clthes, parts of the body, food) the children are invited to play with the language they have already learned. (using games such as word searches, crosswords, matching and colouring games, , songs, correct and wrong answers). All these exercises, comined with a cd, images that the children have to cut or stick, make the process of learning English more creative and closer to their dynamic of discovering the world.  All the games and activities are designed to improve their knowledge of the language itself and they have a very pedagogical purpose, making the children think and create relations between a word and the object. Amongst the strong points of this book, I should point out the class projects, that envolve team work, more research about the countries that belong to the United Kingdom, and the pages dedicated to some curiosities related to the Anglophone world (the oldest zoo in Europe, the English royal faily etc.) Learning of a language is not just memorising of words and phrases, it is a strong identification with a culture, and it must be fomented very early in order to shaw to the children that a language is allso a form of thinking, living and expressing our feelings and concern about ourselves and the Others that surround us.
The Storybook that accompanies the book that should be used in the clasroom contains drawings and shapes that must be coloured (for Christmass, Easter, Carnival etc.) and there is no story or verbal explanation about any of the customs, traditions or festivals mentioned , and it could be one of the most serious "mistakes" in this manual. A fantastic idea in this manual is the existence of a "certificate" in the end, which confirms the rresults and the level achieved. This certificate serves to motivate the pupils to study even more and harder, not only to pass a test or to have good marks, but for the own pleasure and for the sake of the intellectual development.
However, it is recomended to use books and manuals in the classroom, because the process of learning must not be just a funny time spent at school and it must be presented as a hard and serious procedure that developes the children's tallents and closeness to studing and learning.

miércoles, 19 de diciembre de 2012

Љермонтов на српском

BEM-VINDOS AO APAIXONANTE MUNDO DE LETRAS PRECIOSAS E IMAGENS ENCANTADORAS, SEJAM LEITORES, OBSERVADORES, CRÍTICOS E PALAVRÓFILOS, LEIAM, LEIAM, LEIAM. MESMO QUE UM PROVÉRBIO POPULAR SÉRVIO DIGA QUE "A CABEÇA É MAIS VELHA QUE O LIVRO", ISTO É QUE O PENSAMENTO É MAIS ANTIGO QUE A ESCRITA, LEIAM, ISSO AGUÇA O ESPÍRITO, ENRIQUECE O VOCABULÁRIO E A ALMA, DESPERTA A CURIOSIDADE E FAZ VOS PALAVRÓFILOS CURIOSOS TAMBÉM...

Молитва Лермонтов

Не обвиняй меня, Всесильный,
И не карай меня, молю,
За то, что мрак земли могильный
С ее страстями я люблю;

За то, что редко в душу входит
Живых речей Твоих струя,
За то, что в заблужденье бродит
Мой ум далеко от Тебя;

За то, что лава вдохновенья
Клокочет на груди моей;
За то, что дикие волненья
Мрачат стекло моих очей;

За то, что мир земной мне тесен,
К Тебе ж проникнуть я боюсь,
И часто звуком грешных песен
Я, Боже, не Тебе молюсь.

Но угаси сей чудный пламень,
Всесожигающий костер,
Преобрати мне сердце в камень,
Останови голодный взор;

От страшной жажды песнопенья
Пускай, Творец, освобожусь,
Тогда на тесный путь спасенья
К Тебе я снова обращусь.

Молитва  Љермонтов

Не криви ме, Свемоћни
и не карај ме, молим,
зато што мрак земље, гробни
са њеним страстима волим.

За то што ретко у душу улази
Живих речи Твојих струје
Зато шзо у заблуди броди
мој ум далеко од Тебе.

За то што лава надахнутости
клокоће на грудима мојим
зато што дивље узбуђености
мраче стакло очију мојих.

Зато што ми је земни свет тесан
и да проникнем к Теби ја се бојим
и што сее звуком грешних песама
ја, Боже, али не Теби молим.

Но, угаси овај чудни пламен
ломачу од које горим сав
преобрати ми срце у камен
гладно зурење заустави.

 Од страшне жеђи песама певања
Допусти, Творче, да сеизбавим
Тада ћу на тесни пут спасења
Теби поново да се обратим.

Превод: Анамарија Мариновић

sábado, 15 de diciembre de 2012

s a eterna atualidade de Anna Karenina

BEM-VINDOS AO APAIXONANTE MUNDO DE LETRAS PRECIOSAS E IMAGENS ENCANTADORAS, SEJAM LEITORES, OBSERVADORES, CRÍTICOS E PALAVRÓFILOS, LEIAM, LEIAM, LEIAM. MESMO QUE UM PROVÉRBIO POPULAR SÉRVIO DIGA QUE "A CABEÇA É MAIS VELHA QUE O LIVRO", ISTO É QUE O PENSAMENTO É MAIS ANTIGO QUE A ESCRITA, LEIAM, ISSO AGUÇA O ESPÍRITO, ENRIQUECE O VOCABULÁRIO E A ALMA, DESPERTA A CURIOSIDADE E FAZ VOS PALAVRÓFILOS CURIOSOS TAMBÉM...
Título do filme: Anna Karenina
duração: 130 min.
Género: Drama
Com: Aaron Johnson, Keira Knightley, Kelly Mc Donald, Jude Law
Realizador: Joe Wrught
Cinema: UCI, Dolce Vita Tejo

Mais uma versão  cinematográfica da célebre história de amor trágico da mulher adúltera em pleno século XIX na Rússia imperial, dividida entre a lei da sociedade e de Deus, o amor incondicional pelo seu filho e os sentimentos pelo seu amante. Mais uma visão artística do drama humano, das facetas do amor, da hipocrisia, do respeito e desrespeito das regras e convenções sociais.
Muito originalmente imaginada como uma peça de teatro dentro do filme, esta versão de Anna Karenina merece uma atenção especial e tem como objectivo mostrar a vida e o mundo como um grande teatro, em que as pessoas são os protagonistas e criadores do seu próprio drama, como também revela a ideia de se salientarem a falsidade e a farsa das pessoas que rodeiam Anna, o seu marido Alexei Alexandrovich e o conde Vronsky. Presta-se muita atrenção aos pormenores (olhares das damas nos bailes, os seus risos, a sua forma de andar, de se vestir), o que não apenas fala a favor da qualidade da realização, como também enquadra o espectador melhor no contexto histórico, social e cultural da obra, mostrando ao mesmo tempo a universalidade do tema.
Os trajos, a música, a excelente actuação e a caracterização bastante aprofundada de algumas personagens (nomeadamente Levin, jovem idealista, filósofo e anti-conformista que deseja ter a felicidade ao lado da mulher amada), o marido de Anna 8um fariséu políticamente correcto que respeita as leis e as convenções sociais ao pé da letra, vivendo muito  bem o seu papel de vítima face aos círculos sociais em que se movimenta).
O filme peca na insuficiente caracterização da figura do conde Vronsky, cujo amor por uma mulher casada perde a sua dimenssão trágica (no romance ele vai à guerra e morre), reduzindo-o apenas a um frívolo sedutor. A tragédia de Anna não reside tanto no facto de ser rejeitada pela sociedade muito mais imoral que ela, mas na sua impossibilidade de reconciliar o seu papel de mãe e o seu amor pelo amante, sendo constantemente crucificada entre o filho legítimo e os seus sentimentos proibidos, e uisso não parece ser bastante sublinhado ensta versão cinematográfica.
Sincero, forte, artisticamente bem sucedido, este é um dos filmes que sem dúvida vale a pena ver e reflectir sobre ele, porque novamente põe a tónica no amor, a capacidade da entrega e de (auto) sacrifício, o adultério , o pecado, a rebeldia e o conformismo, destacando mais uma vez que os clássicos literários são uma fonte inesgotável de inspiração para os artistas.

miércoles, 12 de diciembre de 2012

e tu? Tens a tua estrela azul?

BEM-VINDOS AO APAIXONANTE MUNDO DE LETRAS PRECIOSAS E IMAGENS ENCANTADORAS, SEJAM LEITORES, OBSERVADORES, CRÍTICOS E PALAVRÓFILOS, LEIAM, LEIAM, LEIAM. MESMO QUE UM PROVÉRBIO POPULAR SÉRVIO DIGA QUE "A CABEÇA É MAIS VELHA QUE O LIVRO", ISTO É QUE O PENSAMENTO É MAIS ANTIGO QUE A ESCRITA, LEIAM, ISSO AGUÇA O ESPÍRITO, ENRIQUECE O VOCABULÁRIO E A ALMA, DESPERTA A CURIOSIDADE E FAZ VOS PALAVRÓFILOS CURIOSOS TAMBÉM...
Plava zvezda
Miroslav Antic


Iza suma,iza gora,
iza reka ,iza mora,
zbunja, trava,
opet nocas tebe ceka
cudna neka zvezda plava.

Cak i ako ne verujes,
probaj toga da se setis.
Kad zazmuris i kad zaspis,
ti pokusaj da je cujes,
da odletis,
da je stignes i uhvatis
i sacuvas kad se vratis.

Ali pazi: ako nije
sasvim plava, sasvim prava,
mora lepse da se spava:
da se sanja do svitanja.

Mora dalje da se luta.
Tristo puta.
Petsto puta.

Mora dugo da se nadje.
Treca.
Peta.

Mora u snu da se zadje
na kraj sveta.

I jos dalje iza kraja:
do beskraja.

Mora biti takve zvezde.
Sto se cudis.
Pazi samo da je negde
ne ispustis dok se budis.

Jednog dana,
jedne noci,
ne znam kada, ali znam tacno,
izgledace nebo bez nje
tako prazno, tako mracno.

I sva sunca,
sve lepote
i sve oci sto se jave,
nikad bez nje nece biti
sasvim tvoje sasvim prave.

Ja ti necu reci sta je
ova zvezda cudna, sjajna.
Kad je nadjes - sam ces znati.
Sad je tajna....
Estrela azul Miroslav Antic
 Detrás dos bosques, detrás dos montes,
detrás dos rios, detrás dos mares
arbustos, ervas
outra vez esta noite está à tua espera
uma estranha azul estrela.
Mesmo se não acreditas
tenta recordá-lo
ao fechares os olhos e adormeceres
tu tenta escutá-la
tenta voar
alcançá-la e apanhá-la
i ao voltares guardá-la.
Mas, cuidado: se não é
toda azul, toda verdadeira
deve dormir-se da mais bela maneira
sonhar-se até ao amanhecer.
Deve mais longe deambular-se
trezentas vezes,
quinhentas vezes.
Deve outra coisa encontrar-se.
Terceira.
Quinta.
Deve no sonho entrar-se
no  fim do planeta.
E mais longe detrás do fim
até eo sem fim.
Deve haver tal estrela
Por que te estranhas
mas cuidado para não a deixares cair
quando acordas.
Um dia,
uma noite
não sei quando, mas sei ao certo
parecerá o céu sem ela
tão escuro, tão deserto.
E todos os sóis
todas as belezas
e todos os olhos que aparecerem
nunca serão sem ela
todas tuas todas verdadeiras.
Eu não te direi o que é
esta estrela estranha luminosa
quando a encontrares, sozinho sabarás
agora é misteriosa..
 Tradução:
Anamarija Marinovic

martes, 4 de diciembre de 2012

O nosso mundo de Florbela Espanca em Sérvio

BEM-VINDOS AO APAIXONANTE MUNDO DE LETRAS PRECIOSAS E IMAGENS ENCANTADORAS, SEJAM LEITORES, OBSERVADORES, CRÍTICOS E PALAVRÓFILOS, LEIAM, LEIAM, LEIAM. MESMO QUE UM PROVÉRBIO POPULAR SÉRVIO DIGA QUE "A CABEÇA É MAIS VELHA QUE O LIVRO", ISTO É QUE O PENSAMENTO É MAIS ANTIGO QUE A ESCRITA, LEIAM, ISSO AGUÇA O ESPÍRITO, ENRIQUECE O VOCABULÁRIO E A ALMA, DESPERTA A CURIOSIDADE E FAZ VOS PALAVRÓFILOS CURIOSOS TAMBÉM...


O Nosso Mundo     Florbela Espanca
 Eu bebo a Vida, a Vida, a longos tragos
Como um divino vinho de Falerno!
Poisando em ti o meu amor eterno
Como poisam as folhas sobre os lagos...

Os meus sonhos agora são mais vagos...
O teu olhar em mim, hoje, é mais terno...
E a Vida já não é o rubro inferno
Todo fantasmas tristes e pressagos!

A vida, meu Amor, querо vivê-la!
Na mesma taça erguida em tuas mãos,
Bocas unidas hemos de bebê-la!

Que importa o mundo e as ilusões defuntas?...
Que importa o mundo e seus orgulhos vãos?...
O mundo, Amor?... As nossas bocas juntas!...

Наш свет Флорбела Шпанка


Ја испијам  Живот,Живот дугим гутљајима
Као из Фалерна вино божанствено!
Спуштајући на те моје зрење вечно
као што се спушта лишће по језерима...

Сни су моји још су нејаснији сада.
Твој поглед на мени садје још нежнији
Живот више није пакао црвени...
сав од утвара тужних и од предсказања!

Живот, Љубави моја, хоћуда га живим!
У истом пехару подигнутом рукама твојим
да га испијамо са уснама нераѕдвојним!

Шта је важан свет и илузије покојне?
Шта је важан свет и његове залудне гордости?
Свет, Љубави...? Наше усне спојене!


превод:
Анамарија Мариновић


lunes, 3 de diciembre de 2012

"Fumo" de Florbela em Sérvio

BEM-VINDOS AO APAIXONANTE MUNDO DE LETRAS PRECIOSAS E IMAGENS ENCANTADORAS, SEJAM LEITORES, OBSERVADORES, CRÍTICOS E PALAVRÓFILOS, LEIAM, LEIAM, LEIAM. MESMO QUE UM PROVÉRBIO POPULAR SÉRVIO DIGA QUE "A CABEÇA É MAIS VELHA QUE O LIVRO", ISTO É QUE O PENSAMENTO É MAIS ANTIGO QUE A ESCRITA, LEIAM, ISSO AGUÇA O ESPÍRITO, ENRIQUECE O VOCABULÁRIO E A ALMA, DESPERTA A CURIOSIDADE E FAZ VOS PALAVRÓFILOS CURIOSOS TAMBÉM...

Fumo
Florbela Espanca

Longe de ti são ermos os caminhos,
Longe de ti não há luar nem rosas,
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!
  Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas...
Abertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces, plenas de carinhos!


Os dias são Outonos: choram... choram...
Há crisântemos roxos que descoram...
Há murmúrios dolentes de segredos...


Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, ó meu Amor, pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos!...


 Дим  Флорбела Шпанка

Далеко од тебе пусти су пути,
далеко од тебе месечине ни ружа нема
Далеко од тебе има ноћи што ћуте
Има дана без топлоте и стреха без гнезда!

Моје очи две су сиротице старе
По зимским ноћима изгубљене...
отворене, сањају руке за миловање
Твоје руке слатке, нежностима испуњене!

Дани су јесени; плачу... плачу...
има љубичастих хризантема бледих
има шапата од тајни оболелих....

Призивам наш сан! Руке ширим!
и он је, о, Љубави моја, по просторима
дим лагани што измиче ми међу прстима!...
Превод:
Анамарија Мариновић