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lunes, 8 de octubre de 2012

terapia cinematográfica para casais de meia idade

Filme: Terapia a dois (Hope Springs)
com: Meryl Streep, Tommy Lee Jones, Steve Carell, Jean Smart
Realização: David Frankel
Género: Drama/Comédia
Após trinta e um anos de casamento Kay e Arnold, um casal economicamente bem situado, com dois filhos adultos e com as suas vidas independentes, está a viver na rotina da quotidianidade até que ela decide inscrever os dois numa terapia intensiva para casais, organizada numa ilha por um célebre autor de livros de auto-ajuda.
Desconfiando deste tipo de programas que oferecem soluções fáceis e propostas milagrosas, Arnold começa a expressar não apenas as suas queixas contra o doutor e as suas ideias, como também a admitir que tem alguns problemas com a esposa, sem os ter discutido sequer com ela.
Os dois tentam seguir as instruções do seu terapeuta (o exercício de dormirem abraçados, de tocarem-se de uma forma mais sensual, de introduzirem algumas novidades na sua vida íntima. Estes conselhos ás vezes falham e eles sentem-se obrigados (quer por causa do dinheiro investido, quer pelas suas próprias expectativas), e ao voltarem para casa encontram a sua própria forma de encarar e resolver os seus problemas, renovando os votos de casamento rodeados pelos filhos e amigos mais próximos.
A construção de duas personagens profundas e complexas como Kay e Arnold ajuda o espectador a entender melhor a dificuldade que as pessoas por vezes têm de admitir as próprias culpas e a assumir as próprias responsabilidades. No comportamento dos protagonistas nota-se claramente a situação incómoda de falar nos pormenores da sua vida íntima perante um estranho completo, que é o terapeuta, e a dificuldade de recuperar a confiança esqeucida entre os dois.
Falando da fragilidade e da vulnerabilidade tanto do homem como da mulher, toca-se o tema da possibilidade de todos poderem falhar ou acertar nos seus relacionamentos, independentemente da sua experiência ou dos anos que levam juntos.
O episódio do jantar romântico, em que os dois se recordam do seu primeiro jantar importante de namorados, num restaurante modesto de paredes cor-de-laranja revela muito da capacidade de Kay e Arnold de ultrapassarem os seus problemas sem seguirem cegamente os conselhos do seu médico. As memórias das declarações amorosas que faziam ao telefone depois de a conversa real entre eles acabar, as risadas que dão ao imitarem o doutor que os cura, a ideia que os dois têm sobre a sua melhor relação sexual de sempre, são apenas pormenores que ajudam muito mais a que eles construam de novo os momentos mágicos do seu passado, que os estereótipos de filmes tais como os morangos com chocolate comidos junto à lareira ou as dicas sexuais lidas num livro de auto-ajuda.
Embora não tenham introduzido grandes novidades na sua vida íntima, Kay e Arnold desfrutam dela porque conseguiram encontrar a sua felicidade à sua maneira.
A tão repetida e escarnecida metáfora do nariz partido, que significa uma mudança difícil, mas radical, no filme é apresentada também com uma pitada de humor e outra de ironia, referindo-se a todo tipo de terapias e soluções aparentemente acessíveis e compreensíveis a todos. O facto de no fim do filme, o tal nariz de plástico é pisado pelos protagonistas significa ao mesmo tempo a ruptura com a rotina e o passado e uma forma de se ridicularizarem os conselhos fáceis dos best-sellers sobre as relações inter-pessoais.
Um pormenor que gostaríamos de destacar é que o casal introduz as mudanças no seu casamento após trinta e um anos de vida a dois, que não é nem uma data simbólica nem "redonda" nem considerada especial segundo os critérios externos ou superficiais, mas que foi uma data decisiva para Kay e Arnold. Desta forma dá-se um toque mais pessoal à sua situação e foge-se ao estereótipo de que só as datas redondas devem ser significativas para as pessoas.
A excelente actuação dos protagonistas, a atenção que se presta aos pormenores (o pequeno-almoço de Arnold é sempre o mesmo, os programas sobre golfe são sempre aborrecidos e ele adormece, o jornal que ele lê é sempre o mesmo), o bom sentido de humor e as bonitas imagens tanto da natureza como dos espaços interiores fazem com que este filme seja uma diversão simpática, embora não tão ligeira como aparentemente pode ser, ensinando a importância da recuperação da confiança. do sentido de ouvir o outro e de partilhar os belos momentos apesar da realidade quotidiana que pode ser dura e monótona por vezes.

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