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sábado, 5 de enero de 2013

Nicholas Sparks é assim tão bom? na minha opinião não.

BEM-VINDOS AO APAIXONANTE MUNDO DE LETRAS PRECIOSAS E IMAGENS ENCANTADORAS, SEJAM LEITORES, OBSERVADORES, CRÍTICOS E PALAVRÓFILOS, LEIAM, LEIAM, LEIAM. MESMO QUE UM PROVÉRBIO POPULAR SÉRVIO DIGA QUE "A CABEÇA É MAIS VELHA QUE O LIVRO", ISTO É QUE O PENSAMENTO É MAIS ANTIGO QUE A ESCRITA, LEIAM, ISSO AGUÇA O ESPÍRITO, ENRIQUECE O VOCABULÁRIO E A ALMA, DESPERTA A CURIOSIDADE E FAZ VOS PALAVRÓFILOS CURIOSOS TAMBÉM...

SPARKS, Nicholas (2003) Laços que perduram, Editorial Presença, Lisboa, 397 pp.
Os conhecedores da obra de Nicholas Sparks esperam da sua pena uma terna e comovedora história de amor, geralmente com um fina feliz, que garante ao leitor um certo conforto e uma determinada esperança na existência e possibilidade de preservação dos valores humanos tais como o amor, a amizade, o apoio mútuo entre as pessoas etc.
Ao ler o título Laços que perduram pode ter-se a ideia de que desta vez também se vai abordar o tema do amor, embora tal vez não seja muito comum para este autor combinar o género de romance de amor com um policial. Desta forma o autor pretendeu investigar até onde pode ir a perturbação da mente humana, encarnada a personagem de Richard Franklin, homem com um emprego estável, sucesso na profissão de engenheiro, bem parecido e jovem, que se apaixona pela protagonista e não compreende nem aceita a sua rejeição.
Contando a história de Julie, uma jovem cabeleireira que aos vinte e quatro anos de idade fica viúva porque o seu amado marido Jim morreu de tumor cerebral, a sua luta por ultrapassar a tragédia pessoa e continuar a vida normal, Nicholas Sparkspretende dar uma nova oportunidade à vida, ao amor, à amizade, revelando que o amor verdadeiro é capaz de se opor a todos os obstáculos, ainda que um deles seja a perseguição doentia por parte de m antigo namorado magoado e rejeitado.
O livro, porém, peca desde várias perspectivas: em termos de estrutura, passa demasiado rápido desde a morte de Jim e o período da solidão de Julie, a sua luta por esquecê-lo e o desejo de amar novamente e o período da sua nova vida, fazendo com que o leito quase chegue a pensar que Jim era uma pessoa insignificante no percurso da história da personagem principal. Não é mostrado como é que ele e Julie eram um casal estável e feliz, nada se sabe do início da sua doeça nem dos cuidados que a esposa teve com o marido nos seus momentos difíceis e o período que se seguia àsua morte é descrito apenas vagamente e através de uma série de chavões e clichés (Julie não parava de chorar, dizia que a sua situação era difícil, mas que a ia ultrapassar, não queria sair com os amigos, as roupas do marido falecido ocupavam metade do armário, tudo cheirava a ele e no frigorífico estavam ainda duas cervejas da marca preferida de Jim). Todos estes pormenores podiam referir-se tanto a uma separação do namorado que vivia em casa com a namorada ou a uma situação muito mais banal do que a morte do marido amado e nelas não há nada de comovedor nem nada que revele uma relação muito próxima entre o casal.
Mais um ponto fraco do romance que há que salientar é o detalhe que Henry e Emma tinham três filhas, que se enquadra no contexto de Henry se apresentar como um homem sério, de sucesso, que tem tudo o que deseja, enquanto o seu irmão Mike ainda é um pouco infantil. As meninas são mencionadas apenas uma vez, para depois desaparecerem absolutamente da história e do interesse do leitor. Uma outra história inacabada é o caso de Andrea, que depois de ser tão brutalmente espancada por Richard, apenas “está a recuperar2 no hosptal, sem se dar qualquer desfecho do papel da sua personagem no romance e um qualquer possível inal que ela teria merecido, além de ser uma vítima ou uma beleza bronzeada, fútil e pouco inteligente, que conseguiu que o homem que ela desejava a magoasse e desrespeitasse.
Em termos de lógica, não se explica como é que Jim, após a sua morte, desde o outro mundo conseguiu enviar a carta e o cão à sua amada, referindo que “esteja onde estiver” ele estará perto dela par a proteger. Esta ideia descobre um pouco sobre as poucas ou nenhumas crenças religiosas que o autor provavelmente tem e o seu fraco conhecimento do cristianismo. Um outro pormenor em que o livro peca é um determinado desleixo de Julie, quando, mesmo na situação perigosa em que se encontrava, pensa mais no seu cão do que em Mike ou o agente Pete Gandy, dizendo que o cão estava habituado a correr a essa hora e que o devia deixar, sem ter a ideia de que a vida de Mike poderia correr risco e que permitir que o agente que a protegia abandonasse a casa não era justamente a ideia mais desejável e prudente, o que teve as consequências devidamente descritas no livro.
Na construção das personagens nota-se a pouca capacidade de as aprofundar psicologicamente de forma a parecerem pessoas credíveis e não apenas caracteres que povoam as páginas de um romance, já que nem os “dilemas morais” de Mike, o melhor amigo de Jim e Julie, quando se apaixona por ela, nem o próprio sofrimento da protagonista em relação o início do namoro com ele passam de um ligeiro lirismo superficial. O que também poderia ser aprofundado é a conflituosa e complexa relação da personagem principal com a mãe, o esforço de Jim por dar à sua esposa um lugar digno na sociedade, porque apenas se refere que foi ele quem lhe deu um lugar para viver e um trabalho, o que poderia implicar que o que Julie sentia por ele era apenas gratidão e não um amor profundo e belo, como se pretende sublinhar ao longo do romance. As personagens bem construídas parecem ser Henry e Emma, como um casal que se conhece bem, que se ama apesar dos ocasionais desencontros, que são excelentes amigos sempre dispostos a ajudar e ouvir os outros.
Embora não formalmente dividido em duas partes, este romance, conforme se aproxima do seu final põe a tónica na investigação do caso de Richard, que estereotipadamente resulta ser uma pessoa fortemente problemática (com um pai alcoólico e uma mãe vítima de violência doméstica, sendo vária vezes transferido em lares de acolhimento para crianças abandonadas, tendo roubado dinheiro a um dos seus colegas da universidade, e acabando por matar a sua ex-esposa, para tudo isso influenciar a sua perturbação psíquica e a sua obsessão louca por Julie) e desta forma parece que a história de amor entre Mike e Julie perde um pouco da sua força e importância no desenvolvimento do livro.
O que parece terno e comovedor nesta história é a relação entre Julie e o seu cão, que é muito mais do que um mero animal de estimação: é o seu companheiro nos dias da tristeza e solidão, é seu amigo, alguém que a alerta para os perigos e situações bonitas na vida, é o seu protector e guardião, fiel, amoroso, sempre disponível e a sua morte brutal causa pena ao leitor.
O romance termina com um final feliz, embora brusco e quase incompleto, porque dois meses após o momento mais dramático na vida de Julie, ela continua a namorar com o Mike, sonhando, porém com o seu ex-marido e agradecendo-lhe por tê-la protegido. Neste desfecho, provavelmente pretende-se sublinhar a ideia da força dos “laços que perduram para sempre e não obstante as circunstâncias da vida real, o que mais revelaria o possível carácter eterno do amor entre a protagonista e o seu marido morto do que seria uma prova de que o novo relacionamento é verdadeiramente aquilo que deixa Julie completamente realizada, plena e feliz. A “nota do autor” no final é mais uma tentativa de se desculpar dos erros e falhas neste romance do que propriamente uma explicação do processo de escrita e da criação literária em si e parece absolutamente desnecessária.
De leitura fácil e rápida, esta obra oferece uma história que provavelmente numa boa adaptação para o cinema teia muito mais sucesso do que como uma obra literária, porém, para quem gosta de livros de conteúdo um pouco mais ligeiro Laços que Perduram seria um óptimo passatempo, sem quaisquer pretensões de ser uma das obras primas da literatura americana contemporânea.


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