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viernes, 17 de agosto de 2012

Florbela resenha do filme de Vicente Alves do Ó

crítica do filme "florbela"...
Título do filme: Florbela

Género: drama

Elenco: Dalila Carmo (Florbela Espanca), Albano Jerónimo (Mário Lage), Ivo Canelas (Apeles), António Fonseca (João Espanca), Carmen Santos (Henriqueta)

Realização e argumento: Vicente Alves do Ó

Produção Ukbar Filmes

Nos cinemas a partir de 8 de Março

Ante-estreia: 28 de Fevereiro de 2012 cinema São Jorge

Recensão por: Anamarija Marinović



O ser artista, é ser mais alto, é ser maior do que os homens (…) e é amar-te assim tão perdidamente

Adaptado e modificado para as necessidades da arte no geral e não apenas para a poesia, o verso de Florbela Espanca parece ser o ideal para caraterizar o novo filme de Vicente Alves do Ó, a sua segunda longa-metragem, que depois dos Quinze Pontos na Alma, continua a preocupar-se com a condição feminina, elogiando as personalidades fortes e complexas de mulheres.

Este filme é mais do que uma biografia da famosa poeta portuguesa, é uma homenagem a ela e a todas as mulheres não conformistas, que procuram o amor, a felicidade e a sua afirmação num mundo abundante em preconceitos e estereótipos. Num Portugal conservador, da época do fim da Primeira República, resistente a todo tipo de novidades, destaca-se uma mulher de calças,  com um cigarro numa mão e um copo de vinho noutra, com três casamentos e duas separações assumidas, que ainda por cima escreve versos numa localidade provinciana em que para a mulher é aceitável apenas ser uma esposa obediente e uma mãe devota, sem quaisquer perseptivas no plano profissional.

Com uma extraordinária qualidade das imagens e do som, com a história construída e desenvolvida de forma original e interessante, com a excelente atuação dos três atores principais e um argumento intrigante e excelente realização, Florbela é um filme capaz de marcar uma nova época na cinematografia portuguesa. Este é um filme que não intriga apenas os conhecedores e estudiosos da vida e obra de Florbela Espanca, narrando com intensidade e um lirismo profundo a complexa e comovedora relação entre a poetisa e o seu irmão Apeles. É uma obra artística que põe a tónica no lado humano da poeta, sem a condenar pelos seus erros, e desmentindo as possíveis especulações sobre a natureza da relação entre ela e o irmão. Trata-se de uma obra de arte que fala sobre a proximidade, o amor, o carinho, a ternura, a procura da felicidade e da realização pessoal, mas também é um filme sobre a perda e a dor, a criação poética e a crise artística. Não sendo um clássico filme com declamações dos poemas de Florbela, esta obra  abre o caminho não apenas para um melhor conhecimento de um período na vida da poeta (os quatro dias anteriores à morte do seu amado irmão Apeles), como representa o convite para o auto-conhecimento de cada um de nós. A reflexão sobre a felicidade (se ela se encontra ao virar da esquina ou há que buscá-la), sobre a dor (“tem que doer, se não doesse, não estaríamos vivos”), a (im)possibilidade de se encontrar o amor da sua vida, a (não) aceitação da morte, e o processo de libertação são os pontos mais fortes deste filme, que nos tocam a todos e que não deixam ninguém indiferente. Sem cair em clichés e na banalidade, o filme sobre a vida da poeta dá uma visão sofisticada e sublime dos complexos e diversos sentimentos femininos e humanos, oferecendo elementos de catarse comparáveis aos das heroínas gregas da Antiguidade clássica.

As personagens estão construídas de forma a não se reduzirem aos típicos heróis dos filmes, profundas, vivas e autênticas, com as virtudes e fragilidades que as tornam ainda mais humanas e verídicas. No desenvolvimento de Florbela e do seu irmão nota-se uma sincera cumplicidade, uma profunda compreensão mútua, mesmo em silêncio como acontece no início do filme, a confiança e o apoio, que devem ser valorizados tanto no caso destas duas personalidades, como no caso de quaisquer outros irmãos.

Indiretamente o filme condena o medo de pensar dos Portugueses do tempo ditadura

da Primeira República, como o medo geral de exprimir os próprios pensamentos e sentimentos.

Este filme é belo, emocionante, multifacetado e com certeza absoluta vale a pena ser visto.

jueves, 16 de agosto de 2012

mulheres não iluminadas


GODINEAU,  Dominique “A mulher” Michel VOVELLE (org.) O Homem do Iluminismo, Renascença, Lisboa, 1997, pp 311-334 recensão crítica por Anamarija Marinović

O capítulo dedicado à mulher na obra o Homem no Iluminismo, coordenada por Michel Vovelle, parte de uma ideia estereotipada que o Iluminismo trouxe mais direitos e uma posição melhor na sociedade para  a parte femiina da população e cita exemplos de numerosas damas nobres que reuníam intelectuais nas tertúlias nos seus salões. Porém, esta imagem é desmontada parcialmente: por um lado é certo que a mulher ocupa a atenção de muitos estudiosos, tornando-se objecto de interesse, por outro o seu estatuto e direitos profissionais e civis ainda em grande medida são determinados pelo homem.
            Os temas e problemas que preocupam os ilustrados na França são a existência de uma natureza especificamente feminina, que depende das suas funções do seu corpo. Desta forma Diderot denomina a mulher como “fêmea do homem”. Esta ideia da inferioridade do sexo feminino é uma continuação do pensamento fundamentado nos séculois anteriores e usa-se a palavra “sexo”, porque na altura não se empregava o termo “género” é inigualável à uma ética do universal. Se, segundo Poullain, “a mente não tem sexo” pregoa-se a ideia de que as mulheres precisam de educação, uma vez que por falta da sua instrução, surgem todas as dificuldades com as que ela tem que lidar.
Outro tópico dominante no estudo das mulheres é a existência da razão feminina, que, na opinião dos enciclopedistas, está subordinada ao seu útero, o que lhe atribui as seguintes características: uma estrema sensibilidade, uma grande capacidade de imaginação, capacidade de observar, enquanto o homem tem a faculdade de raciocinar. O papel que os cientistas desta época lhe destinam é o da mãe e boa esposa, que deve fazer todo o esforço possível para tornar a sua casa um lugar agradável, para dar uma educação correcta aos filhos, deve saber conversar, para ser digna companheira  de um homem iluminado. Por estes motivos é-lhe permitido saber ler, escrever, fazer contas e ter conhecimentos mínimos de história e geografia.  No Iluminismo português parece-nos interessante o caso de Luís António Verney que fala na necessidade da educação feminina, embora aenas no que se refere à esfera doméstica.
Um dos momentos importantes na vida de toda mulher, sem dúvida continua a ser o casamento, que é questionado pelos iluministas de várias formas. Ainda que alguns filósofos o reduzam apenas ao aspecto sexual durante toda a vida,  os iluministas franceses fazem diferença entre as classes mais altas, em que os casamentos são por regra combinados pelos pais de forma a possibilitar a prosperidade económica do casal enquanto os casamentos nas classes populares são vistos como uniões regidas pelos sentimentos mútuos. É polemizada a indissolubilidade do casaemnto, e a escolha pessoal do parceiro, em vez da imposição do par ideal feita pelos pais. Desta forma, na literatura espanhola do século XVIII salientamos a obra  El Sí de las Niñas, em que o autor Leandro Fernández de Moratín permite à jovem protagonita recusar o su pretendente muito mais velho do que ela, escolhido pela sua mãe apenas pela sua riqueza mterial.  A menina na obra não apenas tem o direito de expressar a sua opinião, como também tem e mostra o afecto pessoal por um jovem da sua idade, com o qual acaba por se casar no fim. Claro está que na realidade objectiva nem sempre era fácil conseguir-se uma união duradoura baseada no amor.
O trabalho feminino é uma das questões que o Iluminismo salienta; sendo ele necessário e obrigatório nos estratos sociais mais baixos, para a família numerosa poder sobreviver. Como profissões aceites destacavam-se a lavandeira, a vendedora, a criada, a costureira etc. Numa sociedade que põe a tónica na educação e escolarização, não é estranho que apareçam revistas destinadas ao público feminino propondo-lhe os saberes que se consideram necessários para a sua vida. Mesmo que nas épocas anteriores ao Iluminismo o convento seja um grande centro da educação feminina, os ilustrados dirigem-lhe críticas ásperas, acusando as ordens religiosas de deixar as jovens ignorantes e não preparadas para a vida. Insiste-se em que a mulher além da leitura, escrita, contas básicas e um pouco de cultura geral ee saber danar, tocar alguns instrumenos, e na cultura portuguesa, resonder a motes e improvisar poemas.Como um no caso extraordinário cita se o de Vitorine de Chastenay, que desde menina sabia latim, que tinha aprendido juntamente com o irmão, e que tinha conhecimentos de história, geografia, aritmética, inglês, religião, música e desenho. Ela representa o modelo da mulher livre pensadora que não se dedica a conversas superficiais.
As leituras recomendadas à mulher iluminista são as de “exemplo e proveito”, autores clássicos, romances, livros de história e o que se considera perjudicial são livros de temática amatória ou aqueles que podem estimular demasiado a sua imaginação. Quanto à escrita, a forma epistolar foi muito rapidamente apropriada pelas mulheres, porque através de um género privado, ela consegue expressar as suas ideias sobre vários assuntos importantes do domínio público.
Voltando à ideia inicial da mulher iluminista no salão, o autor salienta a capacidade da mulher de se adaptar a novas circunstâncias culturais e de ir conquistando o seu espaço não apenas na esfera privada, como cada vez mais no público, uma vez que a sua casa abre as portas a intelectuais, permite-lhe trocar opiniões, encontrar pessoas, criaar  e tomar posições.
Tendo alargado o espaço em que actuavam, as mulheres aparecem cada vez mais na vida política. Como exemplos disso o autor cita os casos da Maria Teresa de Áustria e Catarina a Grande na Rússia (que se escrevia com Voltaire) e de algumas revolucionárias francesas, que abriram novos caminhos para a mulher na sociedade e que influenciaram o desenvolvimento do feminismo.
Este capítulo, de forma clara, simples e sintética dá a conhecer a situação da mulher no Século das Luzes, apontando para algumas dificuldades reais com as quais ela teve de lidar, e que hoje em dia podem considerar-se questões resolvidas (o direito da mulher à educação, ao trabalho, à escolha do parceiro para o casamento). Há, porém problemas que nem sequer hoje em dia estão completamente acabados de resolver ( como por exemplo a igualdade absoluta entre o homem e a mulher).
Este capítulo é uma excelente síntese da posição da mulher na sociedade do século XVIII, a nível pessoal e profissional. Mesmo depois desta pequena amostra do livro podemos chegar à conclusão de que a obra toda salienta os aspectos mais importantes da posição do homem na cultura, sociedade e vida privada no Século das Luzes, sobre tudo na França.

miércoles, 15 de agosto de 2012

microcríticas extraordinárias

BORGES, Jorge Luis, CASARES Adolfo Bioy (orgs.)  (19993) Cuentos Breves y Extraordinarios, Losada, Buenos Aires, 156 pp.
Aunque se piense que los microcuentos son una invención de la época moderna, destinada a los lectores con poco tiempo y un estilo de vida rápido, este género existía en todos los tiempos y en todas las culturas, sólo que era llamado de diferentes nombres: "parábola", "anécdota", "relato", "cuentecillo" etc.
 Jorge Luis Borges y Adolfo Bioy Casares son los primeros que despertaron el interés del público por la "brevedad extraordinaria" de los cuentos buscándolos en todas las fuentes desde las Mil y una Noches, las literaturas de Grecia y Roma clásicas, hasta las conocidas obras europeas y latinoamericanas.
En lo que se refiere a los autores presentes en esta antología, se pueden encontrar e.A. Poe, alejandro Jodorowski, Marco Denevi, los propios Borges y Casares, como también Franz Kafka, los grandes sabios de China, Voltaire y muchos otros. Con esta excelente elección de pequeñas muestras de las obras de cada uno de los escritores, se pretende que los lectores deseen conocer con más profundidad el resto de su creación literaria.
Directamente al asunto esencial, sin demasiadas descripciones e imagenes estereotipadas, con títulos sugestivos y a veces jugando con el doble sentido de  las palabras y combinando los géneros, desde el cuento de hadas, hasta la noticia del periódico, desde el epitafio a la anécdota, estes "cuentos breves y extraordinarios" captan la atención del lector, pidiendo una primera lectura rápida, para después ser disfrutados con atención y con placer.
 "La aniquilación de los gnomos", " Teología", "El aviso", "Fe, poca fe y ninguna fe", "La sentencia" son apenas algunos de los títulos que apelan a la curiosidad del público al que se dirigen, tratando de todos los temas, desde la religión y mitología  hasta la cotidianidad, sorprendiendo con sus finales impactantes e inespoerados, provocando la risa,, las lágrimas o el pensamiento profundo.
La excelente forma de escoger el tema y escribir sobre él en pocas líneas es lo que vuelve estes cuentos breves tan extraordinários a los ojos de los que a lo mejor no tienen mucho tiempo para leer, pero indudablemente tienen o pretenden desarrollar un buen gusto por la literatura universal.

martes, 14 de agosto de 2012

leyendas macabras

Mitos y relatos de la Colonia (2008), Editorial Época, Ciudad de México, 89 pp.
Aunque se entitule de Mitos y Relatosde la colonia, se trata antes de leyendas, porque como el marco introductorio de todas estas narrativas se usan hechos históricos, con fechas exactas, nombres de lugares en la actual Ciudad de México, con nombres de los personajes reales que formaron parte de la historia de la Nueva España en el período de la colonización.  A estes hechos se les añade mucha imaginación, inclinación a lo fantástico, a lo macabro, lo grotesco y lo horripilante y el resultado son las excelentes historias que no dejan al lector indiferente. 
A pesar de que la intención principal de estes relatos podía ser la de examinar los límites del miedo, de fomentar la fantasía y de llamar la atención al mundo de la ultratumba, este libro contiene mucho más: la mezcla de las tradiciones paganas y cristianas, la creencia en un fuerte sentido de justicia, el sentimiento trágico de la deslumbrante belleza femenina,  se aborda el problema de la culpa, de los remordimientos, del perdón y de la absolución.
En este sentido el personaje del usurero Don Cosme está muy bien construido, ya que inicialmente se nota en él un interés frio por el dinero, sin importarle el sufrimiento y la miseria de sus deudores, pero a lo largo del desarrollo de la acción de la leyenda, es claramente visible su profunda transformación que se debe al casamiento con el fantasma de su novia, hija de un hombre honrado quien no consiguió reunir todo el dinero y pagarle la deuda. Aquí se nota el matiz cristiano del cuento, que propone la posibilidad del arrepentimiento y de la redención de cada persona hasta el último momento de su vida. Para que se vea que el substrato pagano es todavía muy fuerte en la tradición mexicana, justo en el final de la narrativa se llega a saber que el alma del usurero no alcanzó su paz y su descanso, porque su novia muerta lo persigue por el convento de la Merced, subrayándose de este modo la idea que la crueldad debe ser castigada.
entre otros temas im portantes de estas leyendas se destaca el deseo de la venganza y  la facilidad con que los pensamientos malos son introducidos en la mente y el alma de una joven y pura doncella por su malvada tía Estefanía. Como castigo merecido para todas sus maldades las dos fallecen siendo duramente torturadas. Se cuestionan también los típicos temas españoles de los siglos XV y XVI, el honor y la honra, siendo abordados con mucha destreza en los personajes de Don Raymundo y su amante india Macuilxóchitl, que por una palabra de honra de su amado, mató y tenía que ser sacrificada.
Lo que también se pone en evidencia en este conjunto de leyendas es el comportamiento de la inquisición española en la colonia mexicana, enumerándose las formas de castigar a los procesados.
Contadas de una forma muy interesante, con la intervención del narrador que, mediante sus técnicas consigue que el lector "viaje en el tiempo" y que imagine con todos los pormenores la belleza de los lugares y personas descritas, estas historias son muy vivas y actuales y representan mucho más que una simple lectura de pasatiempo. Las páginas de los Mitos y Relatos de la Colónia abundan de muertes sangrientas y de escenas escalofriantes, pero también ofrecen material para la reflexión sobre la crueldad y la vanidad humanas, sobre el amor y la fe, el lado íntimo y el lado escondido y sombrío del alma de las personas.

domingo, 12 de agosto de 2012

Sabedoria de uma mulher independente: os "Ditos da Freira" de Joana da gama

GAMA, Joana da (2010), Ditos da Freira, Apresentação, notas e fixação de texto de Anne-Marie Quint, Centro de Estudos Clássicos Univerdidade de Lisboa, Instituto de Estudos de Literatura Tradicional FCSH Universidade Nova, Lisboa, 98 pp.
Quando se fala sobre a "cultura no feminino", a "escrita feminina" ou a "questão do género" em relação à criação literária ou artística no geral, não é raro sentir-se um determinado tom de desprezo ou ironia  nas palavras de quem se refere a cada um destes temas. considerar a criação feminina no âmbito da literatura e da arte e a sua contribuiç\ao para a cultura como um factor de menor importância ou valor estético, é um assunto profundo e complexo e as razões para isso são múltiplas. alguns dos motivos principais para o aparecimento destes preconceitos podem ser o facto de a maioria das histórias de literatura serem escritas por homens, a impossibilidade de as mulheres terem o mesmo acesso à alfabetização como a população masculina, a atitude das próprias mulheres escritoras em relação à sua obra ou o desconhecimento do trabalho destas mulheres por parte do público leitor.
No caso de Joana da Gama, a sua obra escrita durante muito tempo foi considerada como obra de um valor estético menor, provavelmente por não ter sido devidamente estudada e promovida. Esta autora começa a escrever no século XVI, que é a época em que se começa a prestar mais atenção à educação e instrução das mulheres, graças à influência e ao trabalho de várias rainhas portuguesas, desde a D. Leonor até à Infanta Dona Maria.
Sobre esta escritora sabe-se pouco, porém o facto de ter nascido numa família nobre e de ter tido sempre uma independência financeira ajudou-a a desenvolver-se como autora. Após a morte do seu marido ela própria fundou um centro de recolhimento, mas nunca fez a profissão de freira, para poder governar as suas finanças e sentir-se mais independente.
A obra de Joana da Gama é pouco extensa e consiste em quarenta e sete fólios de aforismos sobre os tópicos que ela considerava dignos de reflexão e  alguns fólios de poesias escriitas  em  formas métricas dominantes na sua época (sonetos, romances, vilancetes etc)
Embora fosse habitual que os livros publicados no século XVI tivessem um prólogo, um proémio, uma dedicatória, uma indicação sobre o conteúdo destinada ao leitor, Joana daesta escritora parece fugir um pouco à regra, sendo ela própria a apresentar-se e a  introduzir a sua obra.  Ao longo da introdução recorre aos mecanismos de "falsa modéstia" (um dos lugares comuns do século XVI), utilizando termos como  "grande ousadia", "fraca memória", "pouca prudência" e "quem não sabe" para se referir a si e aos seus escritos.
O que é evidente nestas palavras é que a autora conhece perfeitamente o valor da sua escrita e que pretende produzir um efeito de admiração no seu público leitor. Mesmo não tendo feito a profissão da fé, assina os seus ditos como os de "freira", para dar mais autoridade às suas palavras e para salientar que o convento era o único sítio em que as mulheres podiam ter condiç\oes para acederem à cultura e para escreverem.
Dispostos por ordem alfabética, "ditos" de Joana da Gama tratam de temas universais como o amor, a  amizade, a adversidade, os bons, a cobiça, Deus e outros, tal como aborda alguns dos tópicos importantes da literatura do século XVI, nomeadamente o descontentamento, o desengano, o desassossego, os bens temporais, a vã glória e temas afins.
Apesar de na sua época o casamento ter sido um dos tópicos inevitáveis dos moralistas, pensadores, teólogos, filósofos e intelectuais no geral, nesta série de aforismos não se encontra uma única palavra sobre este tema, mas não se sabe a razão exacta para semelhante atitude da escritora: será que se trata da infelicidade pessoal da autora durante um ano e meio de casada? Ou é uma forma de salientar a necessidade da independência feminina e da sua liberdade? Ou de uma desvalorização propositada do casamento enquanto instituição? Estas e outras reflexões e perguntas que podem surgir aos leitores (e leitoras) de Joana da Gama não deixam de ser meras suposições que no livro não encontram uma resposta adequada.
O curioso na linha de pensamento desta escritora é que não tem uma opinião positiva nem sobre a afeição nem sobre o amor, sendo o primeiro sentimento apenas algo que "afoga a razão, põe em ferros a liberdadee dana a fama e a põe em confusão" (p.29), e o segundo é caracterizado como contrário à honra e um "miserável estado" (p. 30) que deve ser afogado logo no princípio das suas manifestações. Esta visão pessimista do mundo das emoções poderia servir como uma prevenção da corrupção do bom comportamento das pessoas e especialmente dos jovens, sendo eles os mais susceptíveis às fantasias provocadas pelo amor.
Entre os ditos desta escritora há muitos que cabem no domínio do conhecimento geral como nomeadamente: "ninguém é bom juiz de si mesmo e nem basta pera se aconselhar" (p.34), "não há queem se defenda das envejas" (p.41) ou ainda "foge-nos o tempo, não o podemos alargar".(p65) Outras afirmações de Joana da Gama dão muito material para a discussão porque parece que não correspondem completamente à verdade. tais são os exemplos de "cegueira do coração, se a têm pessoas poderosas, têm a razão sojeita e torcida a sua vontade, e não a vontade a razão". Embora seja verdade que algumas pessoas quando est\ao no poder, abusam dele por causa da "cegueira do coração", este sentimento pode atingir todos os seres humanos e não apenas os poderosos. Outro pensamento que mereceria uma análise mais pormenorizada é sem dúvida o  que se refere à natureza da seguinte forma: "a natureza em qualquer idade repugna e dá guerra (p.52 ) porque nem todos estão sempre insatisfeitos com o seu carácter e numerosas são as pessoas que aceoitam a sua própria natureza tal como é. A última reflexão sobre a qual é necessário debruçar-se é "Não tem ser humano que não obedece à razão" (p.60). Se todas as pessoas fossem tão racionais ccomo aclama a autora, como se explicaria a loucura, a fantasia  a imaginação ou as reacções das pessoas que se comportam mais de acordo com as suas emoções?
Alguns dos aforismos desta escritora, por causa da sua simplicidade e clareza das ideias merecem uma atenção especial, como por exemplo a afirmaç\ao que a ccortesia "é um laço em que se prendem vontades" ou os "ditos do autor sobre si mesma". Neste segundo aforismo há-que destacar que a palavra "autor" está sempre no género masculino, porque no século XVI não existia este termo no feminino e ao mesmo tempo porque com este substantivo Joana da Gama preteendia dar mais valor às suas ideias e afirmar-se ainda mais como escritora. Escrever para esta autora é uma forma de encontrar a paz e de lutar contra "o grande mal da ociosidade".
Quando se refere a Deus, à esperança ou à fé, tem-se a impressão de que se trata mais de reflexões intelectuais do que de uma experiência intimamente vivida e sentida, o que tal vez se explique pela ausência de uma verdadeira vocação religiosa na autora.
Por vezes a escritora usa comparaç\oes muito originais, uma linguegemm viva e abundante em imagens literárias belas e elaboradas. Tal é o caso da comparação das pessoas desassossegadas com a maré, utilizar a ideia dos agrilhões que apertam a alma para a cobiça ou igualar a ira com um rio.
Em termos de poesia presente neste livro, parece poarticularmente interessante o diálogo entre a velhice e a razão, porque a raz\ao enumera motivos pelos que a velhice é digna e honrada, tentando apagar toda a tristeza e abatimento da primeira personagem do poema, As restantes poesias de Joana da Gama abordam os típicos temas do século XVI: a passagem do tempo, a mudança, o desengano, a dor e o sofrimento, sendo os romances de uma qualidade superior aos sonetos. Nota-se que a autora conhecia melhor a tradição popular portuguesa e que estas formas métricas lhe eram muito próximas, enquanto as formas eruditas como o soneto exigiriam tal vez um pouco mais de instrução formal.
Com uma excelente apresentação, dirigida "ao leitor curioso", imitando o estilo dos livros da época renascentista e barroca, este livro dá a conhecer uma das figuras femininas importantes para a cultura portuguesa. Joana da Gama, independente, livre, culta, sensível e em certos aspectos "à frente" do seu tempo, pretendendo recuperar o seu lugar e importância no âmbito da escrita feminina e da literatura portuguesa no geral.

sábado, 11 de agosto de 2012

cuentos medicinales

BUCAY, Jorge (2008) Cuentos para Pensar, RBA Publicaciones, Buenos Aires, 181 pp.
Que los médicos escriban obras literarias no ha sido un hecho aislado a lo largo de la historia de la literatura y para confirmar este dato citaremos apenas algunos de los nombres conocidos de autores cuya profesión era la medicina, siendo la escritura aquello que los volvió realmente célebres en el mundo: Antón Chéjov, Arthur Conan Doyle, Mariano Anzuela, Laza lazarevic y como el último caso se citará Jorge Bucay, autor argentino, cuya colección de Cuentos para Pensar es el objeto del estudioy análisis.
Siendo este escritor licenciado en medicina y especializado en las enfermedades mentales, és lógico que nos presente una serie de narrativas breves, algunas entre ellas consideradas de microrrelatos, otras más largas, reunidas en un libro de autoayuda destinado al público adulto y a sus problemas cotidianos, sus insucsos, su inseguridad, su vanidad, sus miedos, amores, ilusiones, sufrimientos, rechazos y aceptaciones de su propia personalidad. 
En la capa del libro es posible leerla afirmación que "los cuentos sirven para dormir a los niños y para despertar a los adultos", ofreciendo al lector el material para pensar expuesto a veces en la forma de un cuento de hadas, otras como un cuento más contemporáneo, como un poema en prosa u otro género literario breve. El objetivo de todos estes cuentos es despertar en los adultos el interés por sus propias capacidades y limitaciones, brindándole una de las posibles maneras de enfrentar su problema particular y de resolverlo.
En la parte teórica que precede a los cuentos, se notan el estilo y las ideas típicas de los libros de autoayuda, que consisten en respuestas fáciles y aparentemente persuasivas como  por ejemplo: "Tú... eres quién eres" (p. 17), "nada que sea bueno es gratis" (idem), "nunca hacer lo que no quiero" (p. 19), que están impresas a negrito, para subrayar todavía más la idea que el autor desea que los lectores recuerden.  La introducción termina con el destaque de las "tres verdades" (la verdad montaña que sirve "para poder construir nuestra casa sobre una base sólida, la verdad río " para calmar nuestra sed y poder navegar (...) en busca de nuevos horizontes" y la verdad estrella "para poder servirnos de guía aún en nuestras noches más oscuras" (p.23)), que son nada más que metáforas muy gastadas y demasiado previsibles, después de las cuales es necesario mucho esfuerzo para continuar la lectura.
Lo que, sin embargo, hay de interesante en esta colección de cuentos, son  algunas de las las historias  particulares, entre las que  se deben destacar la del "enemigo temido", que narra la relación emtre un rey y su mago, que por una falsa profecía sobre el día de sus respectivas muertes, llegan a aproximarse y a mejorar sus defectos, a no juzgarse y a creer más el uno en el otro. El cuento "Darse cuenta" es un ejemplo del aprendizaje por tentativa y error y reflecte todo un proceso de crecimiento humano. La"lógica del borracho" de una forma ligeramente irónica desvenda el mecanismo de defensa de un alcohólico para explicar su dependencia. "La ilusión" parece presentar en palabras simples toda la magia de los primeros momentos del enamoramiento, "Los obstáculos" son un testimonio muy claro de que es el mismo hombre que muchas veces complica su vida sin necesidad. La "Pequeña historia autobiográfica" pretende recordar a los lectores sobre lo fácil que es un hombre pequeño, común y corriente, alimentar su vanidad si oye constantes elogios de los demás, pero que sólo después de la caída puede darse cuenta de su pequeñes e insignificancia.
Entre los consejos que se pueden leer en este libro se destacan los siguientes: Cada semilla sabe cómo llegar a ser árbol", que "ser feliz es tener la convicción de estar en el camino correcto", "la magia sólo funciona mientras persiste el deseo".
uno de los cuentos que son más negativos y que menos sentido tienen dentro de este libro es la historia de Juan Sinpiernas, que después de un accidente con la sierra eléctrica se queda en la silla de ruedas y descubre que sus antiguos amigos ya no comparten sus actividades con él. Siguiendo el consejo de su psiquiatra de participar en las mismas actividades con sus iguales, Juan Sinpiernas llega a la idea de cortar las piernas a todos sus amigos, vengándose de ellos. Este cuento sólo muestra que algunos seres humanos no aprenden nada de sus situaciones difíciles, llegando a degradarse completamente, en vez de volverse más fuertes y más purificados, lo que es el objetivo principal de algunas de las grandes desgracias.
De estas breves narrativas lo que se puede esperar es un pasatiempo divertido con una lectura  leve, pero no se puede ni se debe llevar muy en serio su contenido porque en la vida real no todo es tan simplificado y superficial como lo presentan los libros de autoayuda.
Algunas de las narrativas están muy bien escritas, otras juegan con los clichés literarios y los del lenguaje, y algunas entre ellas parecen inacabadas o poco profundizadas, probablemente con la intención de obligar al lector a pensar y a añadir el contenido que falta.
De todos modos, entre los escritores argentinos y latinoamericanos en general hay muchos nombres cuyas obras vale más la pena leer y analizar, siendo Jorge Bucay apenas um entre muitos escritores dos best-sellers comerciais sem um grande valor estético y literario.

fronteiras perdidas José Eduardo Agualusa

AGUALUSA, José Eduardo, (2002) Fronteiras Perdidas, Contos para Viajar,  Publicações Dom Quixote, Lisboa, 124 pp.
 Quem conhece a prosa de José Eduardo Agualusa, sabe que nas suas obras pode esperar que se debatam as questões da fronteira, da identidade, de alguns problemas do homem angolano contemporâneo tais como "de que forma o seu país é visto no exterior", "onde está o seu lugar," " o que significa hoje em dia ser angolano" e neste sentido as Fronteiras Perdidas não representam nenhuma excepção.
Quer que se trate de uma viagem de jipe, de ónibus no Brasil, de avião, de comboio ou de um simples elevador, o que une estas desassete  narrativas breves é de facto a constante procura de um "lugar de morança", de um ponto de referência, de uma identidade, de um espaço fixo no mundo cada vez mais globalizado em que as noções da fronteira do centro, da margem e da periferia são sempre mais abaladas e menos reconhecíveis. A identidade torna-se cada vez mais traiçoeira e perde o seu significado, ainda que se trate de um nome e apelido à partida inconfundível.
Nas narrativas de Agualusa, tal é o caso de Plácido Domingo, para o qual todos os leitores poderiam assegurar que se trata da grande estrela de ópera, quando ao longo do conto se descobre que o seu protagonista é um antigo capitão do exército português, que apóa a Revolução de Abril em Luanda "foi levado em ombros por uma multidão eufórica". A mesma insignificância do nome e da identidade revê-se no caso da raquel, que sempre foi chamada de Fronteiras Perdidas, para o narrador do conto pôr em questão o seu verdadeiro nome, explicando que nalgumas tradições existe um nome público e ooutro íntimo, usado apenas em cerimónias restritas.
Ao longo da leitura desta obra confirma-se que "não há mais um lugar de origem", que existem "outras fronteiras", que até o sonho como uma das experiências humanas mais íntimas é apenas um sítio de passagem e que é possível viajar pelas memórias, pelas cidades reais como Luanda, pela fantasia e pelo cinema, mas que a existência de uma "casa" é um assunto muito vago e frágil. Mesmo quando uma casa física existe, o importante é como é que nos sentimos nela, o que nos mostra o caso de Jimmy waters, que regressou à África, mas que se sente desvinculado da terra das suas origens porque já adoptou um pouco da mentalidade e da cultura ocidentais.
Nestas narrativas está sempre latente a questão do "eu" e do "Outro", de "nós" e "eles" e que sempre existem alguns estereótipos e preconceitos culturais, mesmo entre os próprios africanos ou descendentes de africanos o que melhor se expressa na afirmação que "os pretos não sabem comer langosta".
Entre os tópicos abordados nesta colectânea destacaríamos a insegurança humana e a sua humilhação perante o riso dos outros, elaborada no conto "o perigo do riso", a necessidade de se acreditar numa força superior, como é o caso do "Taxista de Jesus", a alienação humana no meio urbano e o afastamento do homem contemporâneo da natureza e das suas raízes, expressos nas palavras da avó no conto "Por que é tão importante ver as estrelas".
Com os seus títulos bem escolhidos " A volta ao mundo em elevador", " A noite em que prenderam o Pai Natal", " Carro Malhado", "A pobre pintora negra que era um branco rico", com o seu estilo simples, mas cativante, com uma ligeira dose de humor e linguagem coloquial, estes contos convidam o leitor a deslocar-se juntamente com o narrador e a viajar à procura de diversão, algum ensinamento e das imagens de uma África conhecida e misteriosa ao mesmo tempo, de uma África próxima e longínqua que habita detrás das fronteiras perdidas e frágeis do nosso mundo contemporâneo.

viernes, 10 de agosto de 2012

en busca del lado negativo del alma humana "Memórias del Subsuelo" Fedor Dostoyevski

DOSTOYEVSKI, Fedor (2003), Memorias del Subsuelo, Editorial Juventud, Barcelona,179 pp.
Esperar de Dostoyevski un análisis profundo de los vicios, trastornos y las emociones más profundas y marcantes del alma humana es tan natural y común para quien está acostumbrado a leer sus grandes novelas como El crimen y el Castigo, Los Hermanos Karamazov u otras, siendo sus Memorias del Subsuelo su antecedente más importante. 
En esta narración breve ya se empiezan a notar los temas y preocupaciones que el novelista ruso iría a desarrollar a lo largo de toda su creación literaria: el libre albedrío, la existencia del mal y sus raíces, la culpa del hombre, la denuncia de los trastornos psicológicos de la gente etc.
La primera parte, con el título "El Subsuelo" consiste en once capítulos breves en que el narrador de la historia, un antiguo funcionario público que se dimitió porque era grosero y antipático con todos, hipocondríaco y desilusionado de la vida, se dirige a un público imaginario, tratándolo por "señores". A lo largo de los capítulos iniciales discute tanto las cuestiones filosóficas (la razón y el libre albedrío, la voluntad, el carácter humano, haciendo un "ajuste de cuentas" con el racionalismo iluminista y con el utilitarismo burgués), como despliega ante los ojos de sus observadores invisibles toda una serie de defectos humanos (la hipocrecía, la vanidad y la debilidad de los que no tienen la autoestima suficiente), debatiendo también el papel del sufrimiento y de la felicidad en la vida humana y en la formación del carácter de las personas. En la primera mitad de su obra, Dostoyevski aprovecha la oportunidad de reflexionar sobre la literatura y la crítica literaria, dando su opinión sobre Nekrasov, Gógol y otros autores de su época, tal como para concentrar-se (no sin ironía) en los conceptos de lo bello y lo sublime, muy discutidos y abordados por los filósofos románticos alemanes, desde Kant até Schelling e Fichte, embora não mencione os seus nomes. Definiendo el romántico russo, el autor lo cualifica como un hombre inteligente, que aún así puede ser el mayor de los canallas, y por eso se distingue del romántico alemán o francés. tocando en este asunto, discute también la especificidad del "alma rusa", concepto que fue muy popular durante el siglo XIX.
En esta parte el narrador puede perecer cínico, a veces demasiado directo, otras veces irónico, pero con todas estas tácticas, traza lo que posteriormente en la teoría literaria se llamaria de "antihéroe",  personaje principal negativo sin cualesquiera escrúpulos, que pretende presentar el mundo como un sitio hostil e injusto para vivirse en él.
La segunda unidad del libro, con el título "A Propósito del Aguanieve", también dividida en once capítulos breves, presenta ya la degradación total del narrador, que en su subsuelo se acuerda de un episodio de su juventud, con un hombre llamado Zverkov, su humillación, muchas injusticias, la crueldad humana y el desinterés por el prójimo.
Lo más impactante en esta parte de la obra es la construcción del personaje de Lisa, una joven de veinte años, que huye de su familia paterna por determinadas divergencias y termina en el subsuelo, pensando en seguir su propio camino.
Por momentos hasta parece que en el narrador se despiertan algunas características buenas, porque inicialmente siente compasión por Lisa, advirtiéndola a los peligros, la desonestidad y la miseria que la esperan en el mundo de la prostutución (además de la degradación de su juventud y belleza física, las enfermedades, ella debería enfrentar-se con la violencia, el desprecio, los malos tratos por parte de todos: desde su propia patrona hasta los clientes, la borracchera, el camino de la perddición absoluta).
Conforme se llega al final de esta obra literaria, se ve que la intención del narrador no era la de hacer que Lisa recapacitara y que volviera a la casa paterna, porque será él mismo que la deshonraría. Su afirmación que "no puede ser bueno" ya en las páginas finales del libro pone ante el lector  la cuestión si el mal es innato o si se ouede combatir, si el libre albedrío del hombre, de permanecer malo hasta el último momento es tan grande y tan fuerte que nada ni nadie lo puede influir o cambiar, y eso da un carácter todavía más profundo al modo de pensar dostoyevskiano.
A pesar de su tono bastante negativo, a pesar de presentar una irreparable degradación del ser humano, las Memorias del Subsuelo es un libro que vale la pena leer porque toca en los asuntos universales y siempre actuales que no se refieren solo al hombre ruso de los finales del siglo XIX, sino que siguen interesando e intrigando al público lector del mundo entero, con su profundidad de reflexiones y un excelente estilo en que está escrito.

jueves, 9 de agosto de 2012

um olhar psicanalítico para os contos de fadas

FRANZ, Marie-Louise Von (2005) A Interpretação dos Contos de Fadas, Paulus Editora, São Paulo, 240 pp.
Afirmar que os contos de fadas não são apenas textos divertidos para o passatempo e a educação de crianças não é novidade nenhuma desde que os psicanalistas da vertente junguiana lhes deram uma interpretação nova e diferente.
Marie-Louise von Franz, psicanalista suíça, discípula de Jung e sua colaboradora durante mais de trinta anos, tornou-se numa autoridade reconhecida na área de investigação dos mitos e contos de fadas. Este livro, desde o seu prefácio, feito por Léon Bonaventure, oferece-nos afirmações interessantes como nomeadamente que (p.5) "somente o amor é capaz de gerar a alma, mas também o amor precisa da alma". Nesta citação vê-se não apenas o reflexo do mito sobre Cupido e Psique, como também se confirma que em vez de se interrogar e buscar explicações dos nossos traumas e feridas, devemos aceitar e amar a nossa alma assim como ela é, e os contos de fada têm como uma das funções primordiais oferecer um reconforto ao ser humano e ajudá-lo a integrar-se no mundo e na comunidade em que vive, circunscrevendo o desconhecido e intentando revelar o que é o SELF de cada indivíduo ou de cada nação.
a autora deste estudo chama os mitos e contos de fada de "experiências arquetípicas" que surgem mediante a irrupção das imagens do inconsciente colectivo na experiência de um indivíduo e eis uma das possíveis razões de haver variações do mesmo tema nos contos de fadas de diferentes culturas.
Através da análise de um conto tradicional concreto As Três Penas encontrado pelos irmãos Grimm, pretende-se descodificar a múltipla simbologia da linguegem das personagens da narrativa, dos objectos que elas usam, as reacções dos participantes na intriga e toda uma série de acontecimentos que dão a esta história uma perspectiva mais profunda do ponto de vista da psicanálise. desta forma, as quatro personagens principais do conto (o velho rei pai e os seus três filhos) simbolizam as quatro funções psíquicas das quais falava jung nas suas teorias, mas na fase inicial nota-se a presença do princípio masculino, sem qulquer menção do feminino, uma vez que a rainha não faz parte do quadro dos protagonistas. Poder-se-ia pensar que nas antigas sociedades patriarcais o papel da mulher (ainda que fosse a própria rainha) não era muito considerado nos assuntos tão importantes como quem é que vai ser o herdeiro do trono. Marie-Louise von Franz, porém não oferece aos leitores uma visão tão simplista deste problema, uma vez que o terceiro filho, chamado por todos de "Tolo", o que sempre está mais próximo da terra, é quem entra em contacto com o feminino, através da Senhora Rã e das suas filhas rãzinhas, que simbolizam o feminino e completam o que falta na história. Há-que mencionar que as prendas que o rei pai pede (o tapete, o anel e a esposa) não foram escolhidas por acaso. Nas culturas orientais, o tapete é uma espécie de "continuação da terra", um objecto que oferece conforto, calor, abrigo, mas que não deixa de ser o mais próximo do chão, isto é do princípio telúrico e feminino. O anél, objecto redondo, que ao mesmo tempo vincula e isola, simboliza a união eterna e o desejo de pertença, no que também se reflecte o princípio feminino. A esposa mais bela que deveria corresponder ao herdeiro do trono e de ser digna dele é uma rã transformada em princesa. Este motivo é muito comum nos contos tradicionais indo-europeus, quer que se trate de rã que se transforma em princesa, quer que seja um sapo que se torna no príncipe mais belo mo mundo. Várias são as possíveis explicaç\oes para esta metamorfose, mas a autora deste livro é da opinião que a rã obtém a sua plena realização feminina na forma de princesa, mostrando que o princípio feminino é indispensável para completar o masculino. A quarta prova que pedem os irmãos do Tolo, na perspectiva desta investigadora, é apenas a afirmação da ideia que o número quatro é de facto aquele que ajuda a plena activação do SELF. Curiosamente, a última tarefa que deve ser cumprida, não é exigida dos filhos do rei, mas, sim das suas noras: a de saltar por uma argola, e ela é bem-sucedida apenas pela princesa, a esposa do filho mais novo. Por causa da sua vida anterior na pele de rã, ela é habilitada de fazer bem o salto. Há-que notar também que a argola tem a mesma forma que o anel e a mesma função, de vincular e isolar, de unir e separar. Como a argola pode representar o órgão sexual feminino, a que consegue fazer a prova sem se partir, consegue ser sexualmente iniciada com sucesso e desta forma garantir o herdeiro do trono, embora isso não seja explicitamente dito no conetúdo da história.
Na segunda parte do seu estudo Marie-Louise von Franz debruça-se sobre algumas das questões importantes para a psicanálise, tais como a existência e a manifestação do animus, da anima e da sombra nos contos de fadas e ilustra as suas afirmações com diversos exemplos de contos tradicionais, desde a tradição russa até à judáica.
A terceira parte, talvez a mais interessante do ponto de vista teórico e prático é a das perguntas feitas à autora e as suas respostas, em que com palavras simples explica a importância dos sonhos, contos de fada, arquétipos e outros termos da psicanálise junguiana. Uma das hipóteses desta investigadora é que Andersen aa través dos seus contos manifesta um tipo de neurose, condicionada pela rigorosa relação da igreja luterana em relação às questões da sexualidade e individualidade.
mesmo que esta possa ser uma interpretação um pouco radical da criação de Andersen, este livro representa um conjunto de estudos valiosos relacionados com o domínio do mito e dos contos de fadas, matéria que parece inesgotável e sempre actual, sempre nova e interessante, tanto para as crianças e adolescentes como para os adultos.

miércoles, 8 de agosto de 2012

histórias de amor e de procura da identidade em "Sputnik, Meu Amor" de Haruki Mmurakami

Apesar de este romancista japonês ultimamente ser muito popular e traduzido no mundo inteiro, Sputnik, Meu Amor de Haruki Murakami não é uma história muito prometedora, talvez por ser a primeira obra conhecida do autor.
Antes de começar a narração, ao leitor é-lhe dada uma informação básica sobre  Sputnik I e Sputnik II, e sobre a cadela Laika, que parece ter sido sacrificada em nome da ciência. este texto inicial, que serve para recordar alguns factos básicos do domínio da cultura geral, guarda uma ligeira relação com o conteúdo do livro, apenas porque o nome do satelite artificial passa a ser a alcunha de uma das personagens. 
Ao longo da obra é apresentada a vida de Sumire, uma jovem de vinte e dois anos, que se apaixona por uma mulher desasséis anos mais velha e casada. Esta rapariga, no início desorganizada, esquecida, despistada, sem empregos sérios, sem objectivos na vida, a não ser o de se tornar numa romancista brilhante, tem apenas um amigo, o narrador da história, secretamente apaixonado por ela.
Quando conhece Miu, uma mulher coreana, empresária, independente e pelo que aparenta, o seu pólo oposto, mas que gosta de música clássica como ela, Sumire apaixona-se perdidamente, e essa obsessão será um dos fios condutores do romance. Com ela começa a trabalhar, a ter mais responsabilidades, a vestir-se bem, a falar italiano, a deixar de fumar e a viajar pela Europa, o que é um pormenor importante no desenvolvimento da intriga, uma vez que sputnik em russo significa "companheiro de viagem". Essa viagem poderia ser a tanto física, pelos distintos espaços da Europa, coomo a interior, para o mundo íntimo das pessoas que reflecte a sua busca da identidade, da felicidade e da realização pessoal.
No livro não fica claro se na sua frívola, mas devastadora paixão por uma mulher, Sumire procurava a imagem da mãe que perdeu cedo, uma figura que seria modelo para ela, o seu outro eu, a realização do seu ideal de mulher ou apenas um objecto de satisfacçãodo seu desejo sexual. Quando escreve sobre isso no documento 1 do seu computador, deseja que as duas penetrem no mais profundo uma da outra, o que poderia revelar mais uma procura de conhecimento e auto-conhecimento mútuo do que uma mera paixão carnal. Quando está com Miu, ela deixa de pensar e de escrever, sonha com a sua mãe que está morta e pretende alcançá-la no céu e não o consegue. Por outro lado, a história de Miu, que uma noite ficou fechada num parque de diversões e através dos seus binóculos viu a sua dupla ou sósia a ter relações sexuais com um homem que a assediava e que lhe metia medo, e por causa dessa visão ficou frígida e dividiu-se em duas mulheres diferentes separadas por um espelho imaginário, não é capaz de comover a ninguém e podia perfeitamente ser omitida no livro, embora se pretenda sublinhar que essa duplicidade entre este lado e o outro lado é um fio que une as duas personagens.
Mais interessante do que tudo isto parece ser a relação de amizade e cumplicidade entre Sumire e o narrador da história, a única pessoa que a compreende, que a ama, que está sempre ao lado dela, que a conhece profundamente, que é capaz de fazer tudo por ela, até de viajar subitamente desde o Japão até uma ilha grega perdida no mar perto da fronteira turca. A personagem do narrador está muito bem construída, porque revela a plena dedicação a tudo o que faz, ao seu trabalho de professor primário, às suas leituras e mais do que tudo à Sumire.  Enquanto todos o usam como instrumento de ajuda, ninguém se preocupa com os seus sentimentos e a sua solidão, que o onbriga a relações ocasionais com mulheres mais velhas e casadas, muitas delas mães dos seus alunos. Até nesse pormenor (de quererem estar com uma mulher mais velha e casada), Sumire e o seu amigo são semelhantes, mas por parte dela não se manifesta nenhum interesse no contacto físico com ele e por isso não pode haver uma relação amorosa com ele.
Quando o narrador reflecte acerca dos seus sentimentos por Sumire, pensa que Miu a ama, mas não a deseja, que a sua amada ama e deseja Miu e ele ama e deseja apenas a sua amiga o que torna as persoonagens deste livro em participantes de um previsível e frívolo triángulo amoroso, digno de telenovelas ou de um romance barato romance cor-de-rosa e não de uma obra que pretende ser considerada grande obra de arte.
Após o misterioso desaparecimento de Sumire e o seu regresso ainda mais misterioso, a história da sua procura, realização pessoal e a sua identidade ficou incompleta, confusa e inacabada. O pormenor de Miu voltar a ter o cabelo branco depois de ter voltado da Grécia, poderia significar uma forma de ela ter ultrapassado o trauma do passadp e de ter-se aceite tal como é, enqaunto o narrador da história, também voltou da sua viagem transformado, com um irreparável sentimento de perda.
Além de o romance estar repleto de temas pseudo-intelectuais como nomeadamente a diferença entre o signo e o símbolo, a importância dos sonhos e a referência de demasiadas peças e compositores de música clásssica, muitas vezes peca no estilo, usando muitas repetições e comparações quee se reduzem a clichês gastos. ("certo, certíssimo", "ter fome de lobo", "evaporar-se como o fumo", que se notam tanto no próorio autor, como na escrita de Sumire, que se pretende ser uma escritora extraordinária, não deveria escrever assim.
Sputnik, Meu Amor, com o seu título interessante e alguns dos temas que poderiam dar muito material para um excelente romance (o amor, a perseguição de um ideal, a procura da identidade e da realização pessoal), não deixa de ser um de muitos livros comerciais e superficiis, que exigem um grande esforço do leitor para não serem abandonados a meio da leitura.