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martes, 9 de octubre de 2012

tradução de um poema religioso do Santo Bispo Nikolaj Velimirovic do sérvio para português

Знаш ли ко те љуби силно? Владика Николај Велимировић (1881-1956) из
„ Духовне Лире“

Знаш ли ко те љуби силно
Ко те чува дан и ноћ,
Ко ти даје изобилно
Да одолиш врагу моћ?
Знаш ли ко ти живот дао,
Оца, мајку, брата твог,
И ко те је обасјао
Светлим зраком Духа свог?
Знаш ли ко је умро за нас,
На Голготи, знаш ли то,
И радости обећате,
Ко ти спрема знаш ли то?
Мораш знати ко то чини,
Ко то тако љуби нас,
То је Господ са висине,
То је Христос свима Спас
Sabes quem é que com fervor te ama? Bispo Nikolaj Velimirović (1881-1956) da “Lira Espiritual”
Sabes quem é que com fervor te ama
Quem é que te guarda dia e noite
Quem é que em abundância te dá
O poder para ao Diabo opores-te
Sabes quem é que a vida te doou
O pai, a mãe, um irmão teu
E quem é que te iluminou
Com o raio luminoso do Espírito seu.
Sabes quem é que por nós morreu
No Calvário, sabes disso?
E as alegrias que prometeu
Quem tas prepara, sabes disso?
Deves saber quem assim faz
Quem dessa forma nos ama a nós
E o Senhor das alturas
É Cristo salvador de todos.

lunes, 8 de octubre de 2012

terapia cinematográfica para casais de meia idade

Filme: Terapia a dois (Hope Springs)
com: Meryl Streep, Tommy Lee Jones, Steve Carell, Jean Smart
Realização: David Frankel
Género: Drama/Comédia
Após trinta e um anos de casamento Kay e Arnold, um casal economicamente bem situado, com dois filhos adultos e com as suas vidas independentes, está a viver na rotina da quotidianidade até que ela decide inscrever os dois numa terapia intensiva para casais, organizada numa ilha por um célebre autor de livros de auto-ajuda.
Desconfiando deste tipo de programas que oferecem soluções fáceis e propostas milagrosas, Arnold começa a expressar não apenas as suas queixas contra o doutor e as suas ideias, como também a admitir que tem alguns problemas com a esposa, sem os ter discutido sequer com ela.
Os dois tentam seguir as instruções do seu terapeuta (o exercício de dormirem abraçados, de tocarem-se de uma forma mais sensual, de introduzirem algumas novidades na sua vida íntima. Estes conselhos ás vezes falham e eles sentem-se obrigados (quer por causa do dinheiro investido, quer pelas suas próprias expectativas), e ao voltarem para casa encontram a sua própria forma de encarar e resolver os seus problemas, renovando os votos de casamento rodeados pelos filhos e amigos mais próximos.
A construção de duas personagens profundas e complexas como Kay e Arnold ajuda o espectador a entender melhor a dificuldade que as pessoas por vezes têm de admitir as próprias culpas e a assumir as próprias responsabilidades. No comportamento dos protagonistas nota-se claramente a situação incómoda de falar nos pormenores da sua vida íntima perante um estranho completo, que é o terapeuta, e a dificuldade de recuperar a confiança esqeucida entre os dois.
Falando da fragilidade e da vulnerabilidade tanto do homem como da mulher, toca-se o tema da possibilidade de todos poderem falhar ou acertar nos seus relacionamentos, independentemente da sua experiência ou dos anos que levam juntos.
O episódio do jantar romântico, em que os dois se recordam do seu primeiro jantar importante de namorados, num restaurante modesto de paredes cor-de-laranja revela muito da capacidade de Kay e Arnold de ultrapassarem os seus problemas sem seguirem cegamente os conselhos do seu médico. As memórias das declarações amorosas que faziam ao telefone depois de a conversa real entre eles acabar, as risadas que dão ao imitarem o doutor que os cura, a ideia que os dois têm sobre a sua melhor relação sexual de sempre, são apenas pormenores que ajudam muito mais a que eles construam de novo os momentos mágicos do seu passado, que os estereótipos de filmes tais como os morangos com chocolate comidos junto à lareira ou as dicas sexuais lidas num livro de auto-ajuda.
Embora não tenham introduzido grandes novidades na sua vida íntima, Kay e Arnold desfrutam dela porque conseguiram encontrar a sua felicidade à sua maneira.
A tão repetida e escarnecida metáfora do nariz partido, que significa uma mudança difícil, mas radical, no filme é apresentada também com uma pitada de humor e outra de ironia, referindo-se a todo tipo de terapias e soluções aparentemente acessíveis e compreensíveis a todos. O facto de no fim do filme, o tal nariz de plástico é pisado pelos protagonistas significa ao mesmo tempo a ruptura com a rotina e o passado e uma forma de se ridicularizarem os conselhos fáceis dos best-sellers sobre as relações inter-pessoais.
Um pormenor que gostaríamos de destacar é que o casal introduz as mudanças no seu casamento após trinta e um anos de vida a dois, que não é nem uma data simbólica nem "redonda" nem considerada especial segundo os critérios externos ou superficiais, mas que foi uma data decisiva para Kay e Arnold. Desta forma dá-se um toque mais pessoal à sua situação e foge-se ao estereótipo de que só as datas redondas devem ser significativas para as pessoas.
A excelente actuação dos protagonistas, a atenção que se presta aos pormenores (o pequeno-almoço de Arnold é sempre o mesmo, os programas sobre golfe são sempre aborrecidos e ele adormece, o jornal que ele lê é sempre o mesmo), o bom sentido de humor e as bonitas imagens tanto da natureza como dos espaços interiores fazem com que este filme seja uma diversão simpática, embora não tão ligeira como aparentemente pode ser, ensinando a importância da recuperação da confiança. do sentido de ouvir o outro e de partilhar os belos momentos apesar da realidade quotidiana que pode ser dura e monótona por vezes.

jueves, 4 de octubre de 2012

O mundo kafkiano

KAFKA, Franz (2007), Meditações, Alma Azul, Coimbra, 43 pp.
Desde as reflexões sobre o mundo, a posição do indivíduo dentro dele, a procura do sentido da vida, até as ideias sobre o amor, a crença, a liberdade e o sofrimento, esta compilação das Meditações kafkianas apresenta-nos algumas das vertentes centrais do universo deste escritor, acrescentando sempre um toque de pessimismo e absurdo às suas ideias. Mesmo sendo judeu das origens e sem fé na prática da  sua vida, Franz Kafka revela-nos a sua visão bastante particular dos temas cristãos, nomeadamente a percepção da impaciência e da preguiça como dois pecados capitais. Mesmo que à primeira vista isto contrarie os dogmas cristãos, na perspectiva do escritor, a primeira característica é a causa da expulsão do homem do paraíso e a segunda da sua impossibilidade de regressar lá.
Nesta linha de pensamento, desenvolvem-se também as ideias sobre amar a si mesmo e amar o próximo "mesmo no íntimo", o que por sua vez pode coincidir com o pensamento cristão sobre este tema.
No livro a ser analisado manifesta-se também a necessidade da luta do indivíduo contra e com o mundo, do sofrimento, da conquista da liberdade, da ociosidade como "o único dos vícios e coroamento de todas as virtudes". Debruçando-se um pouco mais sobre este assunto, ver-se-á que aparentemente estas duas afirmações são paradoxais. Tendo em conta o ponto de partida sobre a preguiça (e talvez um determinado grau de indiferença) do homem como a principal razão da sua infelicidade e incapacidade de atingir o absoluto, a ociosidade é ao mesmo tempo um descanso merecido depois do sofrimento e da dor que fazem parte do dia-a-dia dos hoemns.
Nesta colectânea reflexiona-se sobre o Bem, que por vezes pode ser desolador, sobre a mortalidade e imortalidade do indivíduo, a sua impossibilidade de se sentir realizado completamente, refere-se também um estreita relação entre o celibato e o suicídio, sendo as duas formas apropriadas de se salientar a falta e a ausência da plenitude, que são motivos muito recorrentes na escrita de Kafka.
Extraídos do contexto original, estes fragmentos parecidos com aforismos abundam de sabedoria e pintam muito bem o universo literário, estético e filosófico deste autor, convidando o  leitor a conhecerem melhor a sua obra e os seus temas e modos de pensar, sentir e escrever.

sábado, 29 de septiembre de 2012

mudanças e vida quotidiana

VIEIRA, Alice (2009), Lote 12 2º Frente, Editorial Caminho, Lisboa
Descrever coisas da vida quotidiana, tais como a mudanã de casa e da escola,  falar sobre a decisão de se comprar um apartamento em vez de se continuar a pagar a renda ao senhorio, lidar com a morte de seres queridos, abordar o assunto do insucesso escolar e dos problemas familiares, da emigraç\ao portuguesa, da solidão das pessoas mais velhas nas grandes cidades e nas relações interpessoais, explicar alguns pormenores importantes na História de Portugal e ao mesmo tempo alertar as meninas para algumas mudanças no seu corpo, é possível num só livro, tal como o mostra Alice Vieira neste breve romance.
Narrada pela Mariana, uma adolescente de doze anos, a história de uma típica família portuguesa que muda de casa traz ao leitor uma visão interessante do mundo que rodeia a protagonista, Mundo esse, sentido pelos diversos cheiros específicos que fazem parte da vida quotidiana, integra em si a avó Elisa, a tia Magda, os pais da Mariana, a sua irmã pequena Rosa, a memória da falecida avó Lídia, algumas amigas e vários adultos. Neste livro é explicado às crianças, que as mudanças na vida são necessárias, e que por mais estranhas que nos pareçam no início, têm as suas desvantagens e as suas mais-valias. Assim aconteceu também com a nova casa da família Fonseca, situada na Rua projectada à Praceta B, num Lote 12 2º frente em Lisboa. Uma rua impessoal, num bairro não identificado, uma casa que cheira a novo e a limpo convidam os seus moradores a fazerem um esforço a "darem gente à casa", isto é a atribuírem-lhe uma identidade única, uma marca personalizada e reconhecível,por causa da qual será mais agradável viver-se ali.
No caso da Mariana isso torna-se fácil, porque na nova zona ela cria amizades com a Susana, a Cláudia e a Isabel, embora não se tenha esquecido da Rita, sua amiga de infância, a quem escreve cartas e passa uma passagem de ano.
Este livro toca em alguns problemas que afectam a sociedade portuguesa actual: o crédito de habitaçaõ e até que ponto esta é uma decisão prudente nos tempos que correm, o insucesso escolar de um menino de família problemática (que tem uma mãe com problemas nervosos e um pai que bebe muito e bate nele), pode levantar polémica sobre a necessidade e forma de se falar na primeira menstruação das meninas, mas também ensina um pouco sobre a solidariedade (nas reflexões que a protagonista partilha com as suas colegas da turma sobre como é que seria o Natal do Jorge, o aluno problemático, no comportamento do pai da Mariana com o seu vizinho Sr. Guerreiros etc.). O romance ensina também que não é bonito ser-se bisbilhoteira, que não se deve ser bom apenas no Natal e no Ano Novo, que os irmãos mais velhos devem tomar conta dos mais novos, ter paciência com eles e educá-los, tal como a Mariana faz com a Rosa.
Entre alguns pontos tal vez menos desenvolvidos deve salientar-se a ideia da preocupação da protagonista com os problemas do Jorge, podendo ela ter feito alguma coisa concreta para fazer o seu Natal mais feliz (enviar-lhe um cartão de parabéns, indo a visitá-lo por exemplo), mas o romance não aprofunda este pormenor.
Um outro ponto menos  elaborado é a descrição detalhada da composição da Mariana sobre Viriato que depois não provoca nenhuma reacção na escola e parece estar no livro apenas para os leitores conhecerem esta parte da História portuguesa.
Reproduzindo fielmente a linguagem quotidiana