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martes, 18 de septiembre de 2012

Édipo revisitado

Sófocles, (2009) Rei Édipo, Edições 70, Lisboa, 157 pp.

Muito mais do que uma recepção literária do célebre mito clássico sobre o governador da cidade de Tebas que matou o seu pai e casou-se com a sua mãe,o "Rei Édipo" de Sófocles coloca perante o público  a problemática da posição do indivíduo no mundo, a sua insignificância face ao destino e à vontade dos deuses, debruçando-se também sobre a transitoriedade do poder e da glória humana, a tragédia que surge por causa da inevitabilidade do cumprimento do oráculo, a culpa e a tentativa da justificação do erro cometido.
Embora hoje em dia o nome de Édipo se relacione muitas vezes com a vertente freudiana da psicanálise e com o fenómeno do "complexo de Édipo", esta personagem não é apenas um vulgar parricida que mantém uma relação incestosa com a  mãe, apresentada nesta obra com toda a complexidade da sua personalidade, com toda a justiça com que governa na cidadede Tebas, com todas as suas dúvidas e com todas as suas reflexões, que fazem com que ele não seja um herói perfeito e que ajudam a que se vejam melhor a sua vertente humana e a sua grandeza e miséria interiores.
Esta obra tem também uma grande força didáctica, ensinando-nos que "é que eu entendo,que o mal, se encontra um caminho justo, pode transformar-se num bem completo".Estaspalavras, ditas pela boca de Creonte, têm um efeito quase cristão, porque deixam sempre aberta a possibilidade da redenção e da correcção do mal.
Revelando uma grande saabedoria  sobre a transitoriedade dos bens terrenos e do lado negativo do poder,da glória e da riqueza, e do prestígio entre os homens, Édipo dirige-se a todos nós apelando á nossa consciência: "ó, riqueza, ó, poder, ó sabedoria acima do comum,nesta vida por cobiças agitada, como é grande a inveja que vos espreita".Nestacitação vê-se que Édipo recomenda um maior auto-conhecimento a todos os homens,implicando a ideia de que a modéstia e simplicidade do coração não fomentarão sentimentos mesquinhos nas almas humanas. O protagonista do drama reconhece também as tentações perante as quais se encontram os governantes e os poderosos, recomendando desta forma muita prudência e sabedoria ao assumir algum cargo na sociedade.
"Repelir um amigo honesto,entendo eu que éo mesmo que desperdiçar a própria vida que em cima de tudo nos é cara. Só o tempomostraa justiça de um homem, a sua perfídia basta um dia para a conheceres (p.94) Estas afirmações de Creonte são apenas algumas das grandes verdades sobre a condição humana, os seus vícios e virtudes que são verificáveis no tempo e que não permitem que se tirem conclusões precipitadas sobre ninguém. A importância da amizade, comparada com a da própria vida nesta obra é também uma das constantes do mundo cla´ssico, colocando a honestidade e a proximidade do outro ser humano  e nós num patamar muito alto. Trair esta ideia conduz ao sentimento trágico da vida humana e à sua profunda infelicidade.
" Assim, aos olhos dos mortais que esperam ver o dia derradeiro, ninguém pareça ser feliz, até ultrapassar o termo da vida,isentoda dor" (p.151).O que o coro anuncianeste fragmento do texto dramático é a transitoriedade da felicidade do indivíduo, dos seus méritos,das suas culpas, do seu heroísmo  ouda sua miséria, sendo todas estas características insignificantes perante a grandezadaeternidade eainevitabilidadedamorte.
Com uma apresentação crítica da apreciação do mito, da obra, das personagens e sobretudo de Édipo, com uma bibliografiaselecta e notas esclarecedoras, estaedição é de uma grande ajuda aos estudantes e aos que desejam aprofundar os seus conhecimentos da cultura clássica, fazendo com que se recupere e rehabilite um pouco a imagem deste grande herói trágico do mundo grego, sem secair na banalidade daenfatização da sua relação amorosa com a mãe, que foi apenas uma das razões da sua queda.



































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