LOURENÇO, Eduardo (1988), Nós e a Europa ou as duas Razões, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, biblioteca Temas Portugueses, 142 pp.
Publicada em 1988, relativamente pouco tempo depois da adesão de Portugal à União Europaia, a obra que trouxe ao seu autor o Prémio de Ensaio Charles Veillon, Nós e a Europa ou as duas Razões representa uma das reflexões importantes sobre a identidade portuguesa e europeia, a (im)possibilidade de reconciliar estes dois conceitos. Debatendo estas e outras questões tais como o olhar da Europa para Portugal e Espanha, a cultura, o passado histórico e cultural português, a crise da Universidade enquanto instituição em Portugal, Eduardo Lourenço pretende dar mais ênfase às noções do centro, margem e periferia na Europa e no mundo do ponto de vista económico, político, social, cultural, religioso e ideológico.
Na sua observação do ponto da situação na Europa na altura em que esta colectânea de ensaios foi escrita salienta-se a ideia da diferença e da divisão de um continente "sem nome", antigamente forte e centralizado, em "duas Europas", a "Europa-Europa" (os países mais desenvolvidos como França, Alemanha, Bélgica e os países nórdicos" e a "Europa Menor" (que abrange basicamente Portugal e Espanha). nesta linha de pensamento o autor menciona "a europa católica" e a "Europa protestante", sem sequer ter em conta "a Europa ortodoxa" ou "a Europa socialista".
Obviamente debruçando-se apenas sobre o lado "ocidental" do continente europeu no sentido mais lato da palavra, Lourenço expõe as suas ideias pró-europeias tal como os problemas que Portugal e Espanha enfrentam no seu caminho das integrações europeias, discutindo também um certo "excesso de peso" que o passado destes dois países tem em relação a um futuro europeu.
Nesta obra colocam-se constantemente as questões de "nós" e os Outros, das fronteiras e das identidades, de "nós" e os "Estrangeiros", a universalidade e a singularidade usando-se para o pensamento de Miguel Torga relacionado com Portugal a metáfora de David e Gilías, e sendo o Estrangeiro visto como a segunda personagem da célebre história. A imagem do Estrangeiro como Golías convida o leitor a reflectir se o Outro deve necessariamente ser encarado como uma ameaça ou como um perigo.
Há que salientar que alguns dos ensaios desta colectânea foram escritos em francês ("L' Europe et Nous", "Camões et l' Europe", " Le Romantisme et Camoens" e "Envoi et Adieu à Madeleine",) podendo as razões para esta opção ser múltiplas: desde o desejo do autor de chamar a atenção do público francófono para alguns aspectos da cultura portuguesa, até a "comunicação assimétrica" entre Portugal e França ou ainda a tendência de se afirmar que é possível tratar as duas línguas e culturas em questão por igual e sem necessidade para um sentimento de inferioridade ou superioridade de nenhuma delas.
Nesta fase da reflexão dos temas europeus A Europa, para Eduardo Lourenço é ainda um espaço inexplorado, que faz com que os Portugueses sintam por ela simultaneamente o ressentimento e o fascínio, colocando-os perante a escolha entre a glorificação do próprio passado e ao mesmo tempo idealização da europa desenvolvida.
Esta colectânea de ensaios de forma crítica e analítica, objectiva e imparcial sempre que possível, reflecte sobre Portugal como entidade, a sua posição na europa e no mundo, o choque entre as diversas culturas, a memória, a imagem que se tem sobre si próprio e sobre os Outros, oferecendo aos leitores um excelente material para a discussão, observação e desenvolvimento do espírito crítico.
Crítica de "Nós e a Europa ou as Duas Razões"
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