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viernes, 17 de agosto de 2012

Florbela resenha do filme de Vicente Alves do Ó

crítica do filme "florbela"...
Título do filme: Florbela

Género: drama

Elenco: Dalila Carmo (Florbela Espanca), Albano Jerónimo (Mário Lage), Ivo Canelas (Apeles), António Fonseca (João Espanca), Carmen Santos (Henriqueta)

Realização e argumento: Vicente Alves do Ó

Produção Ukbar Filmes

Nos cinemas a partir de 8 de Março

Ante-estreia: 28 de Fevereiro de 2012 cinema São Jorge

Recensão por: Anamarija Marinović



O ser artista, é ser mais alto, é ser maior do que os homens (…) e é amar-te assim tão perdidamente

Adaptado e modificado para as necessidades da arte no geral e não apenas para a poesia, o verso de Florbela Espanca parece ser o ideal para caraterizar o novo filme de Vicente Alves do Ó, a sua segunda longa-metragem, que depois dos Quinze Pontos na Alma, continua a preocupar-se com a condição feminina, elogiando as personalidades fortes e complexas de mulheres.

Este filme é mais do que uma biografia da famosa poeta portuguesa, é uma homenagem a ela e a todas as mulheres não conformistas, que procuram o amor, a felicidade e a sua afirmação num mundo abundante em preconceitos e estereótipos. Num Portugal conservador, da época do fim da Primeira República, resistente a todo tipo de novidades, destaca-se uma mulher de calças,  com um cigarro numa mão e um copo de vinho noutra, com três casamentos e duas separações assumidas, que ainda por cima escreve versos numa localidade provinciana em que para a mulher é aceitável apenas ser uma esposa obediente e uma mãe devota, sem quaisquer perseptivas no plano profissional.

Com uma extraordinária qualidade das imagens e do som, com a história construída e desenvolvida de forma original e interessante, com a excelente atuação dos três atores principais e um argumento intrigante e excelente realização, Florbela é um filme capaz de marcar uma nova época na cinematografia portuguesa. Este é um filme que não intriga apenas os conhecedores e estudiosos da vida e obra de Florbela Espanca, narrando com intensidade e um lirismo profundo a complexa e comovedora relação entre a poetisa e o seu irmão Apeles. É uma obra artística que põe a tónica no lado humano da poeta, sem a condenar pelos seus erros, e desmentindo as possíveis especulações sobre a natureza da relação entre ela e o irmão. Trata-se de uma obra de arte que fala sobre a proximidade, o amor, o carinho, a ternura, a procura da felicidade e da realização pessoal, mas também é um filme sobre a perda e a dor, a criação poética e a crise artística. Não sendo um clássico filme com declamações dos poemas de Florbela, esta obra  abre o caminho não apenas para um melhor conhecimento de um período na vida da poeta (os quatro dias anteriores à morte do seu amado irmão Apeles), como representa o convite para o auto-conhecimento de cada um de nós. A reflexão sobre a felicidade (se ela se encontra ao virar da esquina ou há que buscá-la), sobre a dor (“tem que doer, se não doesse, não estaríamos vivos”), a (im)possibilidade de se encontrar o amor da sua vida, a (não) aceitação da morte, e o processo de libertação são os pontos mais fortes deste filme, que nos tocam a todos e que não deixam ninguém indiferente. Sem cair em clichés e na banalidade, o filme sobre a vida da poeta dá uma visão sofisticada e sublime dos complexos e diversos sentimentos femininos e humanos, oferecendo elementos de catarse comparáveis aos das heroínas gregas da Antiguidade clássica.

As personagens estão construídas de forma a não se reduzirem aos típicos heróis dos filmes, profundas, vivas e autênticas, com as virtudes e fragilidades que as tornam ainda mais humanas e verídicas. No desenvolvimento de Florbela e do seu irmão nota-se uma sincera cumplicidade, uma profunda compreensão mútua, mesmo em silêncio como acontece no início do filme, a confiança e o apoio, que devem ser valorizados tanto no caso destas duas personalidades, como no caso de quaisquer outros irmãos.

Indiretamente o filme condena o medo de pensar dos Portugueses do tempo ditadura

da Primeira República, como o medo geral de exprimir os próprios pensamentos e sentimentos.

Este filme é belo, emocionante, multifacetado e com certeza absoluta vale a pena ser visto.

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