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martes, 11 de junio de 2013

o grande dia

BEM-VINDOS AO APAIXONANTE MUNDO DE LETRAS PRECIOSAS E IMAGENS ENCANTADORAS, SEJAM LEITORES, OBSERVADORES, CRÍTICOS E PALAVRÓFILOS, LEIAM, LEIAM, LEIAM. MESMO QUE UM PROVÉRBIO POPULAR SÉRVIO DIGA QUE "A CABEÇA É MAIS VELHA QUE O LIVRO", ISTO É QUE O PENSAMENTO É MAIS ANTIGO QUE A ESCRITA, LEIAM, ISSO AGUÇA O ESPÍRITO, ENRIQUECE O VOCABULÁRIO E A ALMA, DESPERTA A CURIOSIDADE E FAZ VOS PALAVRÓFILOS CURIOSOS TAMBÉM...

 Filme: O Grande Dia

Género: Drama, comédia romântica

Duração: 100 min.

Realização: Justin Zackham

Com: Robert de Niro, Susan Sarandon, Diane Keaton

Don e Ellie são duas pessoas de meia-idade, divorciados há muito tempo, que têm dois filhos biológicos e um adoptado, Alejandro, originalmente de Colômbia. Quando o rapaz se decide casar, convida a sua mãe natural, a sua irmã e os familiares colombianos, apresentados como católicos fanáticos e retrógrados. Para satisfazerem a família biológica do seu filho, os protagonistas fingem estar juntos, como um casal feliz. Claramente, isso não resulta e descobrem-se muitos segredos e hipocrisias e aventuras amorosas escondidas durante muito tempo nas duas famílias.

É uma típica história de amor abundante em preconceitos e ignorância (Veneza é o sítio onde se fala a língua de Alejandro, as mulheres colombianas são todas apresentadas como conservadoras e atrasadas, é mau ser-se virgem). Este filme apresenta um choque de culturas demasiado simplificado: os americanos são os que têm a razão e os latino-americanos como hipócritas que detrás da sua insistência nos preceitos da Igreja Católica escondem a sua promiscuidade. É extremamente feia a imagem da irmã biológica de Alejandro que sem sequer saber o nome do rapaz sentado ao lado dela, lhe põe a mão dentro das calças, como também a ideia de que “em Colômbia não se necessitam os fatos de banho”, porque as raparigas nadam todas nuas. Cai-se também no clichê no desenrolar da situação em que o irmão adoptivo de Alejandro é profissionalmente realizado, virgem aos vinte e nove anos (por uma convicção romântica de encontrar o seu verdadeiro amor), que se recusa durante anos a ter aventuras com as enfermeiras do seu trabalho e com todas as outras raparigas que o procuram apenas para obrigarem-no a ceder, ao ver a bonita e apaionada colombiana esquece logo todas as suas ideias e vive com ela uma noite de paixão intensa. A final tudo se descobre, o pai de Alejandro casa-se com a sua amante de muitos anos (amiga da sua primeira esposa), Alejandro casa-se, o seu irmão também, a sua irmã adoptiva reconcilia-se com o marido ao saber que finalmente vai ser mãe e tudo se resolve como numa telenovela. O filme toca de uma forma bastante superficial nos assuntos da família, o casamento, o amor, a educação dos filhos (religiosa ou não), a virgindade (masculina e feminina), a amizade, a vida sexual, a confiança e não deixa perceber por que é mau ser-se conservador, guardar uma boa relação com os pais, por que é retrógrado acreditar em Deus, confessar-se e seguir uma convicção, como também não deixa saber por que é bom terem-se situações não-resolvidas dentro da família e viver-se com isso.

Além da excelente actuação dos três actores principais, o filme não tem muito mais a dar aos seus espectadores, além da ideia da amizade entre Ellie e a sua rival, que perdurou no tempo apesar de a primeira ter sido a esposa e a segunda a amante de Don. É uma de muitas histórias sobre os pais e sogros sem qualquer profundidade, embora um par de vezes se tenha intentado impingir ao público uma ou outra “frase sábia” sobre a vida e o amor e a aceitação do Outro.

só precisamos de amor

BEM-VINDOS AO APAIXONANTE MUNDO DE LETRAS PRECIOSAS E IMAGENS ENCANTADORAS, SEJAM LEITORES, OBSERVADORES, CRÍTICOS E PALAVRÓFILOS, LEIAM, LEIAM, LEIAM. MESMO QUE UM PROVÉRBIO POPULAR SÉRVIO DIGA QUE "A CABEÇA É MAIS VELHA QUE O LIVRO", ISTO É QUE O PENSAMENTO É MAIS ANTIGO QUE A ESCRITA, LEIAM, ISSO AGUÇA O ESPÍRITO, ENRIQUECE O VOCABULÁRIO E A ALMA, DESPERTA A CURIOSIDADE E FAZ VOS PALAVRÓFILOS CURIOSOS TAMBÉM...

Filme: Só Precisamos de Amor

Género: Drama

Duração: 116 min.

Realização: Susanne Bier

Com: Kim Bodnia, Molly Blixt Egelind, Pierce Brosnan

Cinema: El Corte Inglés

Depois de voltar da última sessão de quimo-terapia e de receber a feliz notícia de que está curada, Ida volta para casa pensando que iria alegrar o seu marido Life, de quem está segura que a aceita e ama tal como é. Em vez disso, apanha-o com uma bela e jovem colega de trabalho. Como desculpa ouve a resposta do marido que estava cansado dela e da sua doença e que precisava de satisfazer as suas necessidades físicas. Indignada e triste, decide ir sozinha à Itália, para assistir ao casamento da filha. Depois de um pequeno acidente de carro no aeroporto, conhece Philipp, a quem considera a pessoa mais antipática e rabugenta que jamais tinha conhecido. Além de ser o pai do noivo da filha de Ida, é um homem de negócios com muito sucesso na sua carreira, que parece inacessível e rude, escondendo na verdade a sua vulnerabilidade e tristeza por ter perdido a esposa há muitos anos.

O casal principal nesta história, os jovens que se deveriam casar e que deveriam estar radiantes de felicidade, estão atormentados pelas suas dúvidas, fingimentos, desejos de deixar uma boa impressão perante os outros, sufocando a sua relação com trivialidades (porque é que em todo o tempo das preparações do casamento não tinham relações, se ele ainda a deseja etc.), para no final resultar que o noivo é homossexual, frustrado por não ter tido a devida atenção e amor paternal, e que se pretendia casar apenas para criar uma imagem de filho perfeito. A rapariga, também, sendo contra o casamento e bastante superficial nos seus projectos de se casar, quer fazê-lo sem ela mesma saber a razão. Enquanto os jovens se revelam como pessoas sem força nem desejo para enfrentar os desafios da vida, sem sonhos nem ideais, sem motivação nem um alvo por que lutar, os mais velhos e maduros, Ida e Philipp já sabem claramente o que querem, querem dar o seu apoio, amizade, compreensão. Os dois redescobrem como lidar com a dor, a perda, a indiferença e o preconceito dos outros. Ela, apesar de ser cabeleireira numa localidade pequena na Dinamarca e apesar de ter uma vida bastante recolhida, decide aventurar-se e partir em direcção da Itália, desprezar o seu marido e reconstruir a sua vida, sem saber ainda se o seu cancro voltou a aparecer ou os sintomas foram apenas um falso alarme.

Paralelamente com estas duas histórias de amor desenrola-se a aventura entre Life e a sua jovem amante, que se baseia apenas numa atracção física temporária, o que se revela no dia do casamento da filha de Life, em que ela bebe muito, comporta-se como uma mulher vulgar, tentando seduzir o próprio filho do seu amante.

Mais do que um filme de amor, é uma obra que nos faz reflectir sobre as questões como: onde é que termina o amor e começa o desejo de que os outros tenham pena dos nossos problemas, se mais vale a solidão ou um casamento que cumpre com as convenções sociais, o que é necessário para uma relação funcionar…

Mesmo que pareça estereotipado em alguns aspectos, o filme fala de relações familiares arruinadas, do egoísmo, da amizade, das falsas aparências, de que o amor não é mito e que é necessário um grande esforço para uma pessoa se conhecer a si própria e aos outros.

Com umas esplêndidas imagens da Itália,  e uma boa actuação de Pierce Brosnan, este é um bom passatempo para um fim da tarde, como também é uma boa escolha para os que gostam de perceber melhor os seres humanos com todos os seus defeitos, preocupações sonhos e temores.










sábado, 8 de junio de 2013

um quarteto inesquecível

BEM-VINDOS AO APAIXONANTE MUNDO DE LETRAS PRECIOSAS E IMAGENS ENCANTADORAS, SEJAM LEITORES, OBSERVADORES, CRÍTICOS E PALAVRÓFILOS, LEIAM, LEIAM, LEIAM. MESMO QUE UM PROVÉRBIO POPULAR SÉRVIO DIGA QUE "A CABEÇA É MAIS VELHA QUE O LIVRO", ISTO É QUE O PENSAMENTO É MAIS ANTIGO QUE A ESCRITA, LEIAM, ISSO AGUÇA O ESPÍRITO, ENRIQUECE O VOCABULÁRIO E A ALMA, DESPERTA A CURIOSIDADE E FAZ VOS PALAVRÓFILOS CURIOSOS TAMBÉM...
Filme: Quarteto
Género: Drama
Duração: 98 min.
Realização: Dustin Hoffman
Com. Maggie Smith, Tom Courtenay,  Billy Conolly, Pauline Collins
Cinema: El Corte Inglés
Num lar para músicos reformados e abastecidos no Reino Unido depois de muitos anos e por coincidências da vida encontram-se quatro amigos solitários: Jean, Reginald, Cissy e Wilf, antigamente brilhantes na sua carreira de artistas, agora envelhecidos e quase esquecidos. O que os une, para além da música, é a sua solidão, uma vez que nenhum deles conseguiu realizar-se no plano pessoal e familiar. Sem filhos nem netos para os acompanharem na velhice, estas quatro pessoas aprendem a redescobrir a amizade, o valor do apoio mútuo, da sinceridade e do amor, aprendendo a aceitarem.se a si mesmos e os outros tal como são. Uma antiga história de amor entre Jean e Reggie, que perdurou no tempo é o fio condutor que leva os protagonistas desta história a reconhecerem que a vaidade, as ambições humanas e a fama não têm valor nenhum quando se chega a uma determinada idade e quando as pessoas enfrentam doenças, isolamento e medos. Homenageando o aniversário de Verdi, juntam-se para cantar mais uma vez o célebre Quarteto de "Rigoletto", celebrando a beleza da vida, da arte e de todos os momentos de felicidade intensa que fez as suas vidas tão ricas e únicas. As personagens são muito bem construídas:  Reggie é um eterno romântico e sonhador, fiel a um único amor, Jean é um pouco vaidosa, perfeccionista e desfruta da sua fama, não permite que os outros vejam a sua fraqueza, sendo na realidade uma excelente amiga que ajuda Cissy nos seus momentos de Alzheimer. Cissy, faladora e à primeira vista desleixada, deseja a felicidade de todos os que a rodeiam e Wilf "o grande malandreco", com as suas piadas inocentes de teor erótico não ofende ninguém e afirma que a vida é bela. Com elementos de humor, este filme na verdade é um drama que glorifica o direito de viver, sentir, apaixonar-se, reconciliar-se, esquecer o rancor e começar de novo a qualquer idade. É também uma obra que aborda o choque geracional (na aula sobre o rap e a ópera ou no momento em que Reggie e Jean surpreendem dois jovens amantes), trata das questões do gosto (será que apenas a música clássica é cultura e os outros géneros são "um barulho tremendo"? Será que os jovens podem gostar da "alta cultura" ou devem inventar e criar as suas formas de expressão?).
Com uma alta qualidade das imagens e fotografias muito bem feitas, com a brilhante realização e actuação, com os ambientes exteriores e interiores muito bem escolhidos, este filme é uma combinação de todas as artes que não deixa os espectadores indiferentes e que desperta a esperança, sublinhando que a vida é bele em todos os seus aspectos. A cena em que Jean e Reggie apertam as mãos e começam a cantar é apenas um dos pormenores emocionantes sobre a maturidade, amor, crescimento pessoal e os pequenos momentos que valem ser recordados na vida.

sábado, 18 de mayo de 2013

O comboio nocturno para Lisboa

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Filme: O comboio nocturno para Lisboa
Género: Drama
Com: Jeremy Irons, Adriano Luz, Beatriz Batarda
Realização: Billie August
Cinema. El Corte Inglés
Um professor de meia idade, que tem a sua vida estável e organizada e o seu emprego seguro em Berna, um dia impede a uma jovem de cometer o suicídio atirando-se duma ponte. No bolso do casaco dela encontra o livro "O Ourives das Palavras" de Amadeu de Almeida Prado e decide apanhar o comboio nocturno para Lisboa, indo à procura da história de vida do poeta e da rapariga, proprietária do livro. Esta decisão introduzirá uma mudança radical na sua vida, vai proporcionar-lhe o desejo e a curiosidade de conhecer todos os cantos mais recônditos da cidade de Lisboa, que aos seus olhos se revela como um lugar encantador, libertador e acolhedor. Chegando ar reconstruir a história dos acontecimentos imediatos ao 25 de Abril (cujo participante directo era também o poeta e pensador português Amadeu de Almeida Prado), começa a compreender melhor a sua criação literária, ideias políticas, revolta contra Deus, a Igreja Catlica, as convenções sociais. No seu percurso, que também era uma forma de o Professor se conhecer melhor a si próprio, encontra uma senhora que não o considera aborrecido e que se apaixona por ele.
Um filme baseado em factos reais, bastante emocionante e comovedor, mais do que sobre a vida de uma das figuras importantes da cultura portuguesa, fala sobre o valor e a importância da vida, da poesia, da amizade, dos peqenos momentos que fazem a felicidade das pessoas, da  poesia, da liberdade e das oportunidades que surgem ao longo da vida. O filme termina com a despedida do Professor e a sua amada na Estação do Rossio, sem se deixar a saber se ele chega a voltar à sua vida segura, ou decide ficar em Lisboa, cidade das suas grandes descobertas, aventurando-se a viver a sua felicidade tardia. Esta é uma obra cinematográfica sobre o choque de culturas e modos de pensar, a identificação com o Outro como uma forma de auto-conhecimento, a procura de um caminho próprio e a felicidade. A excelente actuação de  Jeremy Irons, as encantadoras imagens da cidade de Lisboa e um argumento muito bem narrado são algumas das mais-valias deste filme. Entre os seus pontos menos fortes salientar-se-ia o facto de as personagens que desempenham o papel de portugueses falem sempre inglês e de algumas das localidades não corresponderem ao nome que se lhes dá no filme.  Este é um convite para ler-se a obra de Amadeu de Almeida Prado, de reflectir-se sobre a recente história de Portugal e para se pensar sobre alguns dos temas universais como a posição do indivíduo no mundo e a procura de um sentido da vida.

miércoles, 1 de mayo de 2013

Não à maneira chilena

BEM-VINDOS AO APAIXONANTE MUNDO DE LETRAS PRECIOSAS E IMAGENS ENCANTADORAS, SEJAM LEITORES, OBSERVADORES, CRÍTICOS E PALAVRÓFILOS, LEIAM, LEIAM, LEIAM. MESMO QUE UM PROVÉRBIO POPULAR SÉRVIO DIGA QUE "A CABEÇA É MAIS VELHA QUE O LIVRO", ISTO É QUE O PENSAMENTO É MAIS ANTIGO QUE A ESCRITA, LEIAM, ISSO AGUÇA O ESPÍRITO, ENRIQUECE O VOCABULÁRIO E A ALMA, DESPERTA A CURIOSIDADE E FAZ VOS PALAVRÓFILOS CURIOSOS TAMBÉM...
Filme: Não
Género: Drama
Duração:118 min.
Com: Gael García Bernal, Alfredo Castro, Antonia Zegers, Christopher Reeve, Jane Fonda, Richard Dreyfuss
Realização: Pablo Larrain
Em 1988 pressionado internacionalmente o presidente e ditador chileno Augusto Pinochet convoca um referendo no qual se decidiria o futuro do Chile: os chilenos tinham duas opções ou votar em mais oito anos do seu Governo, ou um caminho novo de transição e democracia. Tudo dependia apenas de duas palavras: "sim" ou "não" e de uma boa campanha eleitoral, de uma propaganda bem conseguida e de uma mensagem correctamente transmitida mais do que propriamente das ideias políticas. Os ieólogos do "não" decidem contratar um jovem, criador também dos anúncios de um refrigerante conhecido (curiosamente chamado FREE (livre), que quase que foi profético dentro do contexto que favoreceu a derrocada do regime totalitário. Este espírito criativo deve inventar uma campanha diferente, que garanta uma maior comparência ´ás urnas, que desperte interesse nos mais novos e que elimine o medo nos mais velhos, sendo ao mesmo tempo alegre e tocando nos temas sérios tais como desaparecimentos, mortes, censuras, recessão. O símbolo da vitória, á primeira vista um pouco infantil e irrisório, um arco íris, pode ter uma múltipla simbologia (unir todos os chilenos independentemente das pertenças políticas em prol de um objectivo comum- uma vida mais feliz e despreocupada, como também pode ser uma vaga alusão á aliança do Antigo Testamento que prometia que não haveria mais dilúvios.) Do mesmo modo este arco-íris prometia o "não" á censura, á fome, á violência, ao suicídio e muita outras questões importantes que atormentavam o Chile de Pinochet, mas que permaneciam escondidos devido à política  opressora do regime.
Seria interessante observar este filme do ponto de vista das tácticas de marketing tanto da perspectiva das imagens, que oferecem uma visão do mundo divertida e provocadora (jovens dançando nas ruas, piqueniques na natureza,alusões a alguns episódios históricos) e por outro lado as formulações frásicas negativas, que pretendem chamar a atenção para o lado optimista e humorístico da vida.
Vale notar também que no filme se tocam os temas da indiferença em relação ao sofrimento dos outros (no caso da senhora que vota no regime antigo porque os seus filhos estão bem, estudando ou trabalhando, enquanto não mostra muita sensibilidade em relação aos joven.s desaparecidos), as campanhas sujas, a luta pelos ideais, a procura da felicidade pessoal, o medo (do próprio criador da campanha pelo seu filho e ex-mulher no meio do caos e do desordem nas ruas), questiona os regimes totalitários no geral, salienta os efeitos das aparências (a voz do Presidente Pinochet parece muito indecisa, neutra, fraca), mas também convida para uma reflexão sobre se mais vale suportar um mal conhecido ou atrever-se a viver algo novo. Uma outra questão que se levanta é se é possível votar numa campanha tão alegre e prometedora sem ser um pouco manipulado também. é curiosa a personagem do filho do protagonista, menino que não fala muito, mas observa tudo, absorve as impressões do mundo que o rodeiam, sendo ele o motivo principal da luta e da inspiração do pai.
Com um ligeiro humor latino-americano, uma excelente actuação de Gael García e muitas imagens bem-sucedidas este é um filme que perpetua uma parte da História chilena e  faz pensar nos valores universais, como também em segundo plano questiona a democracia financiada e apoiada pelos americanos e por isso vale muita pena vê-lo.

jueves, 25 de abril de 2013

ferrugem e osso

BEM-VINDOS AO APAIXONANTE MUNDO DE LETRAS PRECIOSAS E IMAGENS ENCANTADORAS, SEJAM LEITORES, OBSERVADORES, CRÍTICOS E PALAVRÓFILOS, LEIAM, LEIAM, LEIAM. MESMO QUE UM PROVÉRBIO POPULAR SÉRVIO DIGA QUE "A CABEÇA É MAIS VELHA QUE O LIVRO", ISTO É QUE O PENSAMENTO É MAIS ANTIGO QUE A ESCRITA, LEIAM, ISSO AGUÇA O ESPÍRITO, ENRIQUECE O VOCABULÁRIO E A ALMA, DESPERTA A CURIOSIDADE E FAZ VOS PALAVRÓFILOS CURIOSOS TAMBÉM...
Filme: Ferrugem e Osso
Género: Drama Duração: 120 min
Com: Matthias Schoenaerts, Marrion Cottiliard
Realização: Jacques Audiard.
Desempregado, sem dinheiro, sem amigos nem planos para o futuro, Ali deve começar a tomar conta do seu filho Sam. Até chegar á casa da da sua irmã, Ali juntamente com o menino passa dificuldades, fome, dores, frio etc. decidindo encontrar um emprego e organizar a sua vida, Ali começa a trabalhar como segurança numa discoteca, até que uma noite conhece uma jovem atraente que gosta de se sentir desejada e de suscitar o interesse dos homens. Um dia, no seu trabalho de treinadora de orcas, esta rapariga sofre um grave acidente e perde ambas as pernas. Com a ajuda de Ali consegue ir recuperando a sua auto-estima, reintegra-se na sociedade, aceita a nova situação do seu corpo e sentir-se amada e desejada outra vez.
Embora a intenção inicial do filme tivesse sido a de dar valor à vida, as relações interpessoais e ao carinho e amizade, é uma obra que assenta em várias fragilidades: em primeiro lugar não se refere o que é que tinha acontecido à mãe do menino (menciona-se apenas uma vez na pergunta quando é que a mãe vem, e na resposta do pai que ela voltaria em breve), e não se sabe se os pais se divorciaram, se a mãe morreu ou se os abandonou. As personagens centrais não são muito aprofundadas, sobre tudo no caso de Ali, que antes de correr o risco de perder o filho debaixo do gelo, é um pai violento, superficial, pouco sensível para as necessidades do filho, é desleixado, esquece-se de ir à escola e buscá-lo por causa das relações sexuais ocasionais num ginásio. É um pai que grita e não tem paciência com o filho, mostrando-se completamente diferente com a Stéphanie, rapariga que mal conhece, mas a quem se dedica inteiramente após o acidente que a deixou com grave deficiência. Com a sua irmã Ali também não tem uma relação muito próxima e nem sequer se esforça por estabelecê-la, sendo indirectamente culpado pela perda sua perda de emprego.
A única pessoa por quem mostra alguma compreensão é a treinadora de orcas. A relacionamento entre eles inicialmente baseia-se apenas numa sexualidade bastante bizarra (ela pretende descobrir se o seu corpo ainda é capaz de reagir a estímulos sexuais e ele quer mostrar que está "opé" (operacional) em qualquer momento. No filme há demasiadas cenas muito explícitas do corpo amachucado de Stéphanie, entregue ao prazer sexual, que por um lado afirmam que uma pessoa deficiente tem todo o direito de sentir, amar e ser desejada, e por outro parecem um tanto perversas, porque as cicatrizes, as tatuagens que dizem "esquerda" e "direita" e os restos das pernas que não foram atingidos pelo acidente provocam muita repulsa em quem vê, se não tiver em conta a pessoa concreta em questão. A relação entre os protagonistas aprofunda-se tornando-se cada vez mais um verdadeiro namoro cheio de apoio, confiança. O que une ainda mais os protagonistas no fim do filme são os seus defeitos físicos, uma vez que Ali partiu ambas as mãos tentando salvar o filho da morte.
Não podendo exercer nunca mais os seus trabalhos perigosos (o treino de orcas e as lutas na rua por dinheiro), Ali e Stéphanie compreendem que na vida há outros caminhos e outros valores: a amizade, a tolerância, a auto-aceitação e a plena aceitação do Outro.
Apesar de uma história muito emocionante, a excessiva violência e inúmeras e demasiado longas cenas das relações sexuais um tanto estranhas entre os protagonistas poderiam ser destacados como os seus pontos fracos.
Embora sem dúvida a sexualidade seja uma parte importante na vida das pessoas com alguma deficiência, não é o único aspecto que vale salientar e em que se deve insistir para elas serem consideradas normais. Mais importante no caso deste filme, é o reencontro de Stéphanie com os seus amigos (uma cena sem palavras, mas muito intensa), o desejo de voltar a ver as orcas e ultrapassar o seu trauma, a sua vontade de voltar a dançar e ir à discoteca, compreendendo as suas limitações. O momento em que os protagonistas se beijam na boca pela primeira vez é muito emocionante, porque revela uma verdadeira intimidade e cumplicidade e proximidade entre eles.
Por vezes demasiado longo e disperso em pormenores desnecessários (cenas em que a protagonista vai á casa de banho e em que se ouve a sua urinação, os pequenos furtos no supermercado feitos pela irmã de Ali), o filme é bastante realista e ao mesmo tempo optimista, fazendo reflectir sobre a beleza da vida, a intensidade dos pequenos momentos fugazes de felicidade, o amor, os rituais e o sentido das tragédias que purificam as pessoas e cristalizam as coisas e as situações.



lunes, 22 de abril de 2013

pedagogia através de enfrentar a dor

BEM-VINDOS AO APAIXONANTE MUNDO DE LETRAS PRECIOSAS E IMAGENS ENCANTADORAS, SEJAM LEITORES, OBSERVADORES, CRÍTICOS E PALAVRÓFILOS, LEIAM, LEIAM, LEIAM. MESMO QUE UM PROVÉRBIO POPULAR SÉRVIO DIGA QUE "A CABEÇA É MAIS VELHA QUE O LIVRO", ISTO É QUE O PENSAMENTO É MAIS ANTIGO QUE A ESCRITA, LEIAM, ISSO AGUÇA O ESPÍRITO, ENRIQUECE O VOCABULÁRIO E A ALMA, DESPERTA A CURIOSIDADE E FAZ VOS PALAVRÓFILOS CURIOSOS TAMBÉM...

Professor Lazhar

Título original:
Monsieur Lazhar
De:
Philippe Falardeau
Com:
Mohamed Fellag, Sophie Nélisse, Émilien Néron
Género:
Drama
Cinema: El Corte Inglés
 Após o suicídio de uma Professora dentro da sala de aula,inesperadamente chega o substituto, o Professor Bachir Lazhar, imigrante argelino, que usando métodos antigos (corrigindo os trabalhos de casa a vermelho, dando ditados, obrigando os alunos de onze anos de idade a lerem Balzac e a escreverem composições sobre a violência escolar, não permitindo que os alunos o tratem por "tu", redistribuindo as mesas outra vez em filas direitas) consegue ganhar a cnfiança dos alunos, despertar o interesse pela aprendizagem, pelas outras culturas e ajuda-os a crescerem, amadurecerem e ultrapassarem o trauma que a morte da sua Professora lhes tinha causado. Tendo sofrido uma perda muito grande recentemente (a sua esposa foi vítima do terrorismo no seu país de origem),  o Professor Bachir Lazhar, cujo nome próprio é bastante simbólico (Bachir significa "portador de boas notícias" e "Lazhar" significa "afortunado"), tenta trazer para a sala de aula os temas da perda, da morte, da violência e encontra uma grande resistência por parte dos outros colegas e sobretudo da Directora da escola, que é da opinião que as crianças devem ser educadas evitando quaisquer perguntas ou noções sobre os temas "difíceis". Como resposta aos métodos do novo Professor, a Direcção da escola sempre lhe menciona a morte da Professora Martine e o respeito que se deve ter pela memória dela. Levantando a questão se o suicídio dentro da sala de aula também não seria uma falta de respoeito com os alunos, o Professor consegue lidar com este problema, fomentar discussão entre os alunos e esclarecer que a morte da sua colega anterior não foi culpa de nenhum deles, especialmente não de Simon, aluno que a repeliu violentamente e que lhe negou um abraço.
Pelo que os alunos contam sobre a Professora Martine e pelo que se vê na fotografia que um dos alunos lhe tinha tirado (a dar aulas com um par de asas nas costas), vê-se que os seus métodos eram bastante alternativos, que permitia aos alunos que a tratassem pelo nome e não pelo título, que fomentava trabalhos de grupo e espírito de equipa, mas que mesmo assim não conseguia lidar com a sua ansiedade, o que a levou a cometer o suicídio dentro da escola. Nada se sabe, porém sobre a razão da sua angústia, nem acerca da sua relação com o marido, a não ser que ele não apareceu na escola para buscar as coisas que lhe pertenciam), nada se sabe sobre as dificuldades reais que teria esta Professora no seu trabalho (uma vez que a sua turma não revelava comportamentos particularmente preocupantes), mas o que se sabe certamente é que não sabia lidar com a sua dor de forma mais apropriada.
Além da figura marcante do Professor Lazhar, as personagens de Simon, da menina Alice, a aluna mais madura da turma e de Victor, caracterizado como "atrasado mental" estão construídas de uma excelente forma, mostrando toda a profunidade dos seus temores, preocupações, pensamentos, reflexões e inquietações mais íntimas. A fotografia e uma excelente realização reforçam a beleza desta história emocionante sobre o papel da educação correcta e dos bons professores no percurso da vida de cada criança. Este é um filme sobre a tristeza, a dor, a perda, a culpa, mas também sobre a amizade, o apoio, o respeito, a integração na sociedade (no caso do aluno árabe que tem que falar francês no horário das aulas e dos intervalos, sendo essa a língua oficial do Quebec), do amor e da esperança, que triunfam e que ensinam valores para a vida. Por isso esta é uma grande obra de arte que vale a pena ver e que por causa da sua forte componente pedagógica é recomendável para ser vista nas escolas, tanto pelos alunos como pelos pais e Professores.

sábado, 13 de abril de 2013

poema á mulher, tradução

BEM-VINDOS AO APAIXONANTE MUNDO DE LETRAS PRECIOSAS E IMAGENS ENCANTADORAS, SEJAM LEITORES, OBSERVADORES, CRÍTICOS E PALAVRÓFILOS, LEIAM, LEIAM, LEIAM. MESMO QUE UM PROVÉRBIO POPULAR SÉRVIO DIGA QUE "A CABEÇA É MAIS VELHA QUE O LIVRO", ISTO É QUE O PENSAMENTO É MAIS ANTIGO QUE A ESCRITA, LEIAM, ISSO AGUÇA O ESPÍRITO, ENRIQUECE O VOCABULÁRIO E A ALMA, DESPERTA A CURIOSIDADE E FAZ VOS PALAVRÓFILOS CURIOSOS TAMBÉM...

Jован Дучић

 ПЕСМА ЖЕНИ

Ти си мој тренутак, и мој сен, и сјајна
Моја реч у шуму; мој корак, и блудња;
Само си лепота колико си тајна;
И само истина колико си жудња.
Остај недостижна, нема и далека —
Јер је сан о срећи виши него срећа.
Буди бесповратна, као младост; нека
Твоја сен и ехо буду све што сећа.
 
Срце има повест у сузи што лева;
У великом болу љубав своју мету;
Истина је само што душа проснева;
Пољубац је сусрет највећи на свету.
Од мог привиђења ти си цела ткана,
Твој је плашт сунчани од мог сна испреден;
Ти беше мисао моја очарана;
Символ свих таштина поразан и леден,
А ти не постојиш нит си постојала;
Рођена у мојој тишини и чами,
На сунцу мог срца ти си само сјала:
Јер све што љубимо створили смо сами. ´
 
Poema`a  mulher  Jovan Ducic
 
Tu és o meu instante, minha sombra e luminosa
palavra minha no ruido, meu passo e divagação minha
Apenas es beleza quanto és misteriosa
e apenas és verdade quanto és ânsia.
 
Fica inalcançável, muda e longíngua
 o sonho da felicidade que a felicidade é maior
Sê irreversível, como a juventude  e que
 a tua sombra e eco sejam toda a memória
 
O coração tem história na lágrima que derrama,
na grande dor o seu alvo tem o amor
A verdade é apenas o que sonha a alma
o beijo é o encontro no mundo maior.

Da minha quimera tu toda és trançada

o teu manto de sol do meu sonho é urdido
tu eras a minha ideia encantada
símbolo de todas as vaidades,esmagador e frio.

Mas tu não existes nem existias jamais
no meu silêncio e tédio nascida
no sol do meu coração tu apenas brilhavas
porque a tudo o que amamos, nós mesmos demos vida.
Tradução: Anamarija Marinovic
 

lunes, 1 de abril de 2013

dor e sofrimento na infância

BEM-VINDOS AO APAIXONANTE MUNDO DE LETRAS PRECIOSAS E IMAGENS ENCANTADORAS, SEJAM LEITORES, OBSERVADORES, CRÍTICOS E PALAVRÓFILOS, LEIAM, LEIAM, LEIAM. MESMO QUE UM PROVÉRBIO POPULAR SÉRVIO DIGA QUE "A CABEÇA É MAIS VELHA QUE O LIVRO", ISTO É QUE O PENSAMENTO É MAIS ANTIGO QUE A ESCRITA, LEIAM, ISSO AGUÇA O ESPÍRITO, ENRIQUECE O VOCABULÁRIO E A ALMA, DESPERTA A CURIOSIDADE E FAZ VOS PALAVRÓFILOS CURIOSOS TAMBÉM...
VASCONCELOS, José Mauro de (1968)  O Meu Pé de Laranja Lima, Melhoramentos, São Paulo, 192 pp.
"A história de um meninozinho que um dia descobriu a dor" poderia ser a ilustração perfeita do conteúdo deste peculiar romance infanto-juvenil, que por sua vez levanta muitas questões: se as histórias para crianças devem conter referências à dor, ao sofrimento, aos maus tratos e caso a resposta seja afirmativa, de que forma estas questões devem ser abordadas, sem que os seus leitores fiquem traumatizados ou emocionalmente inibidos na sua posterior vida adulta.
Narrando a infância de Zezé, um menino nascido no seio de uma família numerosa e pobre no Brasil,  José Mauro de Vasconcelos aborda o problema do crescimento e amadurecimento precoce das crianças carenciadas, a quem não se dedica a devida atenção na família, e que são educadas com métodos violentos (chineladas no rabo, bofetadas, puxões de orelhas) e que devido às difíceis condições socio-económicas em que vivem desde cedo são privadas até dos bens essenciais como o lanche, os sapatos, os medicamentos. Da mesma forma, uma infância cortada demasiado prematuramente pela falta de alegrias mais fundamentais como as prendas e a união da família no dia do Natal deixam na alma do protagonista marcas muito profundas, que o obrigam a revoltar-se contra muitas injustiças e a reagir de uma forma demasiado impulsiva ("como é ruim a gente ter pai pobre"), mas também ess mesma situação enche-o de remorsos e de culpas, trabalhando muito duro no dia do Natal e suportando humilhações e desprezo para poder comprar um cigarro ao pai desempregado.
O desejo do saber, a curiosidade que o leva aprender tudo, até os palavrões e "palavras difi´ceis" como " cadáver", "nádegas" ou "troglodita" transportam este menino para os mundos melhores e mais bonitos: o do cinema, em que imagina ser amigo próximo dos grandes heróis dos seus filmes preferidos, o da natureza, em que aprende a crescer e a desenvolver-se graças aos seus amigos o passarinho, sua voz interior que o ajuda a cantar sem palavras e a compreender o mundo, o pé de laranja lima, árvore a quem ele confia os seus medos, preocupações, sonhos, ideias sobre o futuro. Os familiares: o titio Edmundo, os irmãos Totoca e Luís, a irmã Glória, a mãe e até o "papai", essa figura ambivalente por quem o menino sente ao mesmo tempo rancor por causa da miséria em que vive, medo, respeito, compaixão e amor, ensinam-no, cada um à sua maneira as grandes verdades da vida: o que é a miséria, o que é a dignidade, a dor, o sofrimento, a esperança e a amizade. Carenciado de afectos e palavras carinhosas, vivendo em circunstÂncias demasiado duras para uma criança, consola-se e refugia-se nas aulas da sua professora, D. Cecília Paim, feia, mas generosa, que por vezes lhe dá dinheiro para comprar o bolo, sonho recheado, que não é por acaso que tem esse nome, uma vez que para um menino que passa fome, até esse gesto pequeno pode ser o alcance de um sonho, recheado do pensamento que ainda existem pessoas no mundo que não são malvadas. Outra figura interessante no romance é a personagem do "Portuga", Sr. Manuel Velardes, que gosta muito do menino, compra-lhe doces e refresos, passa tempo com ele, dá-lhe boleia no carro, leva-o a pescar e passear e tem uma coisa em comum com ele: é muito amigo da sua árvore Rainha Carlota. O portuga para Zezé é um reflexo no espelho de tudo aquilo que o pai não é: tem modales, é sofisticado, tem paciência, é educado e culto, é gordo e meigo como um rei dos jogos de cartas e entre eles cria-se uma amizade muito profunda, que não se baseia apenas nos bens materiais que o menino recebe, mas que vai até ao desejo de o menino ser adoptado.
porém, tudo o que mantém o protagonista no mundo da ilusão e imaginação, bruscamente é-lhe retirado das mãos, quando se apercebe que está a crescer, solta o seu passarinho interior, decide não ver mais filmes violentos e opta pelos filmes de amor em que "há muito abraço, muito beijo e toda a gente se gosta", o seu amigo Portuga é morto pelo comboio e o seu pé de laranja lima é cortado, até os lugares de que gosta vão-lhe ser retirados, porque se virá obrigado a viajar com a família para Santo Aleixo, onde o seu pai terá um emprego novo.
A constante privação e os esforços para sobreviver na miséria e na fome, a constante luta com a dor (física quando corta o pé com o caco de vidro ou quando é espancado pelo pai) emocional (a morte do amigo português, a tristeza pela falta de prendas de Natal, a resignação com o facto de a sua árvore preferida ser cortada) e psicológica quando é confrontado com o desamor e a negligência dos seus próximos obrigaram Zezé a crescer muito prematuramente e mesmo assim a não perder algo da sua ternura e inocência de criança. É justamente por isso que não quer dizer ao seu irmãozinho Luís que foi ele que comeu a galinha negra e prefere dizer-lhe que ela foi passar férias perto do Amazonas. mesmo que as suas ilusões tenham sido várias vezes negadas e desmanchadas de formas cruéis, ele prefere manter o Luís no estado de pureza, inventando para ele as mais belas histórias, imaginando que os animais do quintal são os habitantes do jardim zoológico, que o pátio da casa é a Europa pela qual eles costumam viajar etc.
Ainda que se fale na violência e na crueldade com palavras claras e muito abertamente, o final do livro é optimista: o pai vai ter um emprego melhor, nunca mais vai faltar prenda no seu sapatinho de Natal, ele consegue crescer e distribuir bolas de gude e outras coisas a crianças carenciadas, o que revela que existem a esperança e a ternura no mundo, que nem tudo é tão corrupto e tão desalmado e que o Menino Jesus não gosta apenas de meninos ricos, mas de todos aqueles que nele acreditam, recompensando justamente os que por ele suportaram o sofrimento com paciência e sem protestar.
Com muitos regionalismos e características da linguagem brasileira na escrita, esta obra torna-se próxima não apenas dos leitores do Brasil , da condição social e económica parecida  com a de Zezé, mas abre as portas para qualquer leitor europeu, que se queira identificar com o protagonista e o seu mundo. Embora marcadamente brasileira, esta criação literária toca nos temas universais e certamente sempre actuais como o crescimento, a infÂncia, o sofrimento e a dor, a importÂncia da família e a existência de carinho mesmo no meio familiar mais mal estruturado, que é o que dá a este romance um tom menos sombrio e mais humano, pelo qual este livro se deveria recomendar ao público mais novo.

em busca de Alfred Hitchcock

BEM-VINDOS AO APAIXONANTE MUNDO DE LETRAS PRECIOSAS E IMAGENS ENCANTADORAS, SEJAM LEITORES, OBSERVADORES, CRÍTICOS E PALAVRÓFILOS, LEIAM, LEIAM, LEIAM. MESMO QUE UM PROVÉRBIO POPULAR SÉRVIO DIGA QUE "A CABEÇA É MAIS VELHA QUE O LIVRO", ISTO É QUE O PENSAMENTO É MAIS ANTIGO QUE A ESCRITA, LEIAM, ISSO AGUÇA O ESPÍRITO, ENRIQUECE O VOCABULÁRIO E A ALMA, DESPERTA A CURIOSIDADE E FAZ VOS PALAVRÓFILOS CURIOSOS TAMBÉM...
Filme: Hitchcock
Género: Drama
Duração: 98 min.
Cinema: cinema city Classic Alvalade
Realização: Sacha Gervasi
Com: Anthony Hopkins, helen Mirren, Scarlet Johanson
Com a utilização de excelentes técnicas narrativas (do próprio Hitchcock como narrador da história e o seu protagonista), com um profundo conhecimento da obra e do carácter do realizador e a ideia de presentar o lado humano desta célebre figura da cinematografia mundial, o filme baseado no livro "Alfred Hitchcock and the Making of Psycho" apresenta também alguns dos problemas inerentes ao mundo dos famosos: a desconfiança das companhias de produção perante um projecto inovador, as rivalidades entre as grandes e prestigiadas empresas no mundo do cinema,  o rigor da censura e a complexa e ambivalente relação entre o realizador e a sua esposa Alma. Esta relação naturalmente tem os seus altos e baixos, mas torna-se particularmente difícil para ela, porque está sempre na sombra do nome do marido e parece não conseguir revelar a sua própria criatividade e amor pela escrita. Por outro lado, mesmo depois de discussões, confrontos e respostas demasiado frontais, ela é a única que acredita nele, no seu talento e no seu sucesso. Ainda que nunca tivessem assinado juntos a autoria de nenhuma obra, e especialmente não a de Psycho, "Hitch" e Alma mostram que os dois são personalidades fortes, inteligentes, criativos, cada um com a sua vaidade, sentido de humor, dores, medos e preocupações. Desta forma, quando Hitchcock reconhece que o seu pior medo é o encontro com o censor, que lhe custa mais do que a ida ao dentista, o espectador consegue vislumbrar o lado humano do grande realizador. Os seus ciúmes quando a esposa passa horas e horas numa casa na praia dedicando-se à escrita, e por outro lado a sua obsessão pelas actrizes louras revelam um profundo temor de se ser deixado e abandonado, o que torna a sua personagem ainda mais complexa. O ligeiro cinismo e sentido de humor bizarro nas respostas e nalguns comentários são apanas pequenos indicadores do porquê da preferência pelo tipo de filmes e pela forma de encarar a sua realização no caso de Hitchcock. Ultrapassando os limites do esperado, do comum e do "clássico" no cinema até ao aparecimento de "Psycho", Alfred hitchcock mostrou ao mundo que um filme de terror podia não ser banal e superficial e que joga com as esferas mais profundas do íntimo e do emocional nos homens.
A personagem da sua esposa é ao mesmo tempo contraposta e complementar ao realizador, uma verdadeira "alma" gémea, que o defende perante os seus colegas, jura e obriga os outros membros da equipa a jurarem que não iriam divulgar nem revelar os segredos do filme. Envolvendo-o de mistério, desta forma pretendia garantir um sucesso ainda maior da obra do seu marido, participando nele mais "dos bastidores" embora seja indicado que algumas das ideias e sugestões para o desenvolvimento do filme fossem dela.
A excelente escolha de actores, a brilhante realização e a alta qualidade das imagens são apenas algumas das numerosas mais-valias do filme que com certeza absoluta valerá a pena ver.